A ELEIÇÃO DE 2014 PARECE RESOLVIDA.
POR MAIS QUE ALGUNS SE ABORREÇAM
Por Marcos Coimbra, na revista “CartaCapital”
As
eleições de 2014 ainda estão, para a vasta maioria da população, a uma
distância colossal. Nas pesquisas, só depois de algum esforço, os cidadãos se
recordam de que elas ocorrem daqui a um ano e meio.
Enquanto
isso, nos meios políticos e na “grande imprensa”, é como se fossem acontecer
amanhã.
Será
nossa terceira eleição nacional em que o presidente em exercício é candidato.
Antes de Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e Lula, em 2006,
passaram pela experiência. Ambos tiveram sucesso, de maneiras diferentes.
A que
temos no horizonte se assemelha àquela do tucano. Nada indica que Dilma terá de
lidar com turbulências tão fortes quanto as que atingiram Lula, seu governo e o
PT em 2005 e 2006. Nem o mais exaltado oposicionista imagina que ela venha a
enfrentar situação análoga à que seu antecessor viveu nos meses de auge das
denúncias do “mensalão”.
Dilma
deve disputar seu novo mandato em momento mais marcado pela normalidade do que
pela excepcionalidade: sem crises agudas na economia, na política ou no
cotidiano da sociedade. Em 1998, FHC enfrentou crise econômica séria [no
Brasil], mas não suficientemente séria para impedir sua vitória relativamente
tranquila.
Apesar
dessa semelhança, é grande o contraste entre o ambiente de opinião que vivíamos
em 1997 e o de agora.
A partir
de junho daquele ano, quando promulgada a emenda que permitiu a FHC concorrer a
um novo mandato, entramos em período de calmaria. O escândalo da compra de
votos para aprovar a mudança constitucional havia amainado, a tropa de choque
governista impedira a instalação de qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito
e a Procuradoria-Geral da União, dirigida por alguém escalado para tudo
engavetar, mantinha-se inerte. Os ministros da Suprema Corte preferiam se
entreter com outras coisas.
Nesse
clima de tranquilidade, ninguém se pôs a especular a respeito de nomes e
cenários. Dir-se-ia que, uma vez estabelecido que FHC seria candidato, independentemente
dos meios utilizados, os comentaristas e analistas ficaram satisfeitos com a
perspectiva de que ele viesse a vencer as eleições seguintes. É como se
achassem que não era somente natural, mas desejável que o peessedebista
permanecesse no Planalto por mais quatro anos.
Um claro
sintoma da pasmaceira é que nem sequer se fizeram pesquisas sobre a eleição até
o fim de 1997 (ao menos não foram
divulgadas). Apenas uma foi publicada, em novembro. Ninguém se mostrava
ansioso a respeito de quem tinha condições de ganhá-la.
O jogo
havia sido jogado e o PSDB parecia imbatível.
A
vantagem de FHC sobre seus oponentes era, no entanto, muito menor do que a de
Dilma hoje. Naquela pesquisa de novembro de 1997, realizada pelo IBOPE, o
tucano obtinha 41%, seguido por Lula, com 16%, e Sarney, com 9%.
Sua
liderança permaneceu modesta nos primeiros meses de 1998: em março, segundo o
Datafolha, repetiu os 41% (com Lula alcançando 25% e sem Sarney). Caiu a pouco
mais de 30% entre abril e junho, e voltou aos 40% daí em diante. Na véspera da
eleição, atingiu o pico, com 49%.
Nas
muitas pesquisas sobre a próxima eleição feitas ao longo de 2012, Dilma nunca
obteve menos que 55% e, muitas vezes, chegou aos 60%. Mesmo quando se colocaram
na lista nomes para fazer barulho, entre eles o de Joaquim Barbosa.
Quem
achou, em 1997, que FHC ganharia com seus 40% não errou. Um presidente bem
avaliado, em um momento em que o País vai bem (ou parece andar bem), tem tudo para vencer.
De onde,
então, tiram os analistas da “grande imprensa” seu ceticismo em relação às
chances de reeleição de Dilma? De onde vem seu afã em identificar os “formidáveis adversários” que poderiam
derrotá-la?
No
momento, estão enamorados do governador pernambucano, Eduardo Campos. Devem
acreditar que as possibilidades de alguém do bloco governista são maiores que
aquelas de oposicionistas genuínos.
Não é
isso, todavia, que desejam os vários “amigos” que Campos tem hoje na mídia de
direita e nos partidos de oposição. O que querem é que seja um coadjuvante, que
tome da presidenta votos à esquerda e no Nordeste, e faça algo para ajudar o
candidato do PSDB a suplantá-la.
É
verdade que o dinamismo do socialista atrai os que se sentem desconfortáveis
com o estado atual da candidatura tucana. Aécio Neves passa por momento
delicado, espremido entre as traições dos serristas e o patético esforço da
velha guarda de seu partido em abduzi-lo e mantê-lo sob controle,
encarregando-o da inglória missão de defender a “herança de Fernando Henrique”.
Como o
lançamento da “Rede” de Marina Silva deu em nada, resta aos antilulopetistas,
no momento, a ilusão Campos. Falta combinar com ele se pretende ser o porta-voz
da direita e se o eleitorado conservador o reconhecerá e se sentirá confortável
com ele.
Mas tudo
é secundário. Como em 1997, quando a eleição de 1998 parecia definida – e estava mesmo –, a eleição de 2014 tem
cara de resolvida. Por mais que alguns se aborreçam.”
FONTE: por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, na
revista “CartaCapital”. Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/politica/marcos-coimbra-a-eleicao-de-2014-parece-resolvida.html).
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