Por Antonio Tozzi
“Miami
(EUA) - Após a renúncia
inesperada de Bento XVI, que decidiu abdicar do cargo vitalício de papa e se
tornar papa emérito, o concílio dos cardeais se reuniu no Vaticano para
escolher o novo pontífice, que terá como missão liderar o rebanho de católicos,
estimado em 1,2 bilhão de fiéis espalhados por todo o mundo.
Agora, pouco a
pouco, vão surgindo informações sobre quem é e o que fez o homem que deve
peregrinar pelo mundo pregando fé, caridade e compreensão entre as pessoas num
momento em que todos se preocupam mais com acumulação de riquezas do que com a
distribuição dos bens.
Pelo menos, essa
lição o papa Francisco pretende ensinar aos fiéis. Aliás, o cardeal de formação
jesuíta escolheu o nome de Francisco provavelmente em homenagem a São Francisco
de Assis, que se notabilizou por ter abdicado de uma vida de riqueza em troca
de um voto de pobreza. Igual ao santo que viveu na Itália muito tempo atrás, o
novo pontífice segue uma vida sem fausto. Nunca fez questão de morar em
dioceses ricamente decoradas nem andar em carros luxuosos. Ele preferiu sempre
viver modestamente e se locomover usando o transporte público, mesmo sendo
cardeal-arcebispo.
Entronizado no
posto mais cobiçado da Igreja Católica, ficará difícil para o pontífice manter
a postura de religioso avesso à publicidade e de vida espartana. Afinal, ele
comanda um império em termos de bens e patrimônio e precisa juntar, à
evangelização e à preocupação com as coisas celestiais, a figura de
administrador e investidor. Sério dilema para quem se presta mais ao aspecto
divino do que às coisas materiais.
Apesar de
valorizar o trabalho social com os mais pobres, o papa Francisco faz questão de
frisar que a Igreja Católica tem de ser fiel a Jesus Cristo. Como ele mesmo
disse, “uma igreja sem Cristo é como uma
ONG de obras caridosas”. Isso pode ser um novo sopro para os cristãos em
geral e particularmente para os católicos que precisam de uma injeção de ânimo
em sua fé, uma vez que o número de fiéis vem encolhendo por causa do
crescimento evangélico, sobretudo dos neopentecostais, e de outras seitas e
religiões.
Muitos
reformistas defendem, inclusive, um revisionismo na Igreja Católica a fim de
modernizá-la e, dessa forma, atrair novos fiéis. Dogmas e rituais, embora
guardem o carisma que evoca a Idade Média, nos remetem exatamente para a Idade
Média! Ou seja, numa época em que um telefone celular conecta qualquer pessoa
com o mundo, aspirar incenso e compenetrar-se com o badalar da sineta do
coroinha pode parecer algo de outro planeta. Mas particularmente cumprir esses
rituais e as vestes usadas pelos sacerdotes, monsenhores e cardeais denotam o compromisso
com as coisas divinas.
O que a Igreja
Católica precisa, na verdade, é de um choque de modernismo em suas atitudes.
Aos olhos dos leigos, parece inconcebível que padres não possam se casar. Esse
celibato tem sido o fermento de relações desaprovadas com mulheres e homens e,
pior ainda, gerador de vários casos de pedofilia, conspurcando a imagem
sacrossanta da Igreja.
Ironicamente, o
papa Francisco já declarou que a Bíblia desaprova relacionamentos homossexuais,
contrariando o que muitos padres e bispos fazem às escondidas em sacristias e
casas paroquiais. Esse problema, aliás, é a principal chaga a ser enfrentada
pelo novo pontífice, juntamente com a extrema riqueza acumulada pelo Vaticano.
Dizem as línguas
ferinas que o Vaticano proíbe o casamento dos padres porque não quer dividir os
bens e o patrimônio com as famílias geradas por eles. Ou seja, a instituição
quer manter-se monolítica a ter que compartilhar o que possui. Exatamente o
contrário do que pregou Jesus Cristo e muitos outros santos, como o próprio São
Francisco.
Outra pedra no
sapato que está à espera do papa Francisco é a politicagem que tomou conta dos
principais próceres da Igreja Católica, mormente no Vaticano, que se vem
caracterizando como um antro de fofocas e negociatas. Recentemente, um mordomo
indiscreto lançou um livro contando segredos pouco abonadores sobre o que se
passa dentro dos muros do menor país do mundo.
Por fim, o
sumo-sacerdote tem de enfrentar acusações de ter sido conivente com a ditadura
instaurada na Argentina na década de 70, uma ditadura cruel e sangrenta que
deixou feridas abertas em boa parte do povo argentino. O passado nebuloso do
então religioso Jorge Mario Bergoglio deve ser esclarecido rapidamente, sob
pena de turvar seu pontificado. Aliás, vem sendo negado veementemente pelo
Vaticano que, sem dúvida, deve ter pesquisado muito antes de entronizá-lo como
papa. Se ele tivesse mesmo participado desses atos abomináveis, por certo, não
teria sido ungido papa. O problema é que as pessoas acusam sem necessidade de
provar o que falam.
A boa notícia é
o fato de o escolhido ter sido um sul-americano, quebrando a tradição de sempre
ter um europeu como pastor supremo da Igreja Católica. Mesmo sendo o novo papa
descendente de italianos, sua escolha interrompe o eurocentrismo predominante
no Vaticano.
Vale ressaltar o
espírito irreverente dos brasileiros após o anúncio da nacionalidade do novo
papa. Mensagens bem-humoradas pulularam nas páginas de facebook e do twitter
brincando com a antiga rivalidade entre brasileiros e argentinos. Na minha
opinião, a melhor foi esta: “O papa
demonstrou mesmo ser um argentino humilde. Ele aceitou um cargo abaixo de Deus”.
Pano rápido.”
FONTE: escrito por Antonio
Tozzi, de Miami. O autor foi repórter do “Jornal
da Tarde” e do “Estado de São Paulo”. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde
foi editor da “CBS Telenotícias Brasil”, do canal de esportes “PSN”, da revista
“Latin Trade” e do jornal “AcheiUSA”. Publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/o-dificil-caminho-de-francisco).
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