quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A CARTA DE OBAMA PARA TEERÃ


A CARTA SECRETA DE OBAMA PARA TEERÃ: A GUERRA CONTRA O IRÃ ESTÁ SUSPENSA? – "A ESTRADA PARA TEERÃ PASSA POR DAMASCO"

Por Mahdi Darius Nazemroaya

“O “The New York Times” anunciou que a administração Obama tinha enviado carta importante aos dirigentes do Irã em 12 de Janeiro de 2012. [1]

Em 15 de Janeiro de 2012, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano reconheceu que a carta tinha sido entregue a Teerã através de três canais diplomáticos:

1) uma cópia foi entregue ao embaixador iraniano nas Nações Unidas, Mohamed Khazaee, pela sua equivalente norte-americana, Susan Rice, em Nova Iorque;

2) uma segunda cópia da carta foi entregue em Teerã pela embaixadora da Suíça, Livia Leu Agosti; e

3) uma terceira cópia partiu para o Irã através de Jalal Talabani, do Iraque. [2]

Na carta, a Casa Branca expunha a posição dos EUA, ao passo que responsáveis iranianos afirmaram que ela constitui um sinal do real estado das coisas: os EUA não se podem dar ao luxo de uma guerra contra o Irã.

Da carta, escrita pelo presidente Barak Hussein Obama, constava pedido norte-americano para o início de negociações entre Washington e Teerã, visando colocar um termo às respectivas hostilidades.

"Na carta, Obama anunciava a disponibilidade para negociações e a resolução de desacordos mútuos", declarou Ali Motahari, negociador iraniano, à agência noticiosa “Mehr”. [3]

De acordo com outro negociador iraniano, dessa feita o vice-presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento do Irã, Hussein Ebrahimi (Ibrahimi), a carta prosseguia solicitando a cooperação e negociações do Irã com os EUA baseadas nos respectivos interesses mútuos. [4]

A carta de Obama procurava, igualmente, assegurar Teerã de que os EUA não se envolveriam em quaisquer ações hostis ao Irã. [5]

De fato, simultâneamente, o Pentágono cancelou ou adiou grandes exercícios conjuntos com Israel. [6]

Para os iranianos, porém, esses gestos são desprovidos de significado, dado que os atos da administração Obama têm sido sempre contrários às respectivas palavras. Mais amplamente, o Irã está persuadido de que os EUA não atacaram apenas porque sabem que os custos de uma guerra com semelhante oponente são demasiado elevados e as respectivas consequências demasiado arriscadas.

Todavia, isso não significa que um conflito aberto Irã-EUA tenha sido evitado ou que não possa acontecer. As correntes podem levar em qualquer direção, por assim dizer. Nem tão-pouco impede que a administração Obama esteja já a conduzir uma guerra contra o Irã e os respectivos aliados. De fato, os blocos de Teerã e de Washington têm prosseguido uma guerra fantasma que se prolonga da arena digital e das ondas televisivas até aos vales do Afeganistão e às agitadas ruas de Bagdad.

A GUERRA CONTRA O IRÃ COMEÇOU HÁ VÁRIOS ANOS

A guerra contra o Irã não começou em 2012 ou sequer em 2011. A revista “Newsweek” chegou ao ponto de afirmar, num título de página em 2010: "Assassínios, ataques cibernéticos, sabotagem. Será que a guerra contra o Irã já começou?" A guerra real pode bem ter começado em 2006. Em vez de atacarem o Irã diretamente, os EUA iniciaram uma guerra encoberta e através de “proxies”. As dimensões secretas da guerra têm sido travadas através de agentes infiltrados, ataques cibernéticos, vírus informáticos, unidades militares secretas, espiões, assassinos, agentes provocadores e sabotadores. O rapto e o assassínio de cientistas iranianos, que teve início há vários anos, é uma parte constituinte dessa guerra encoberta. Nessa "guerra sombra", vários diplomatas iranianos em Bagdad têm sido vítimas de sequestros e cidadãos iranianos em visita à Geórgia, à Arábia Saudita e à Turquia foram detidos ou raptados. Vários responsáveis sírios e importantes figuras palestinas, bem como Imad Fayez Mughniyeh [dirigente do Hezbollah libanês], foram também assassinados.

A guerra por “proxies” começou em 2006, quando Israel atacou o Líbano com a intenção de expandir a guerra em direção à Síria. O caminho para Damasco passa por Beirute, do mesmo modo que Damasco está na rota para Teerã. Depois do fracasso de 2006, e compreendendo que a Síria era o ponto fulcral do Bloco de Resistência dominado pelo Irã, os EUA e os seus aliados passaram os cinco ou seis anos subsequentes tentando separar a Síria do Irã.

Os EUA combatem, igualmente, o Irã e respectivos aliados na frente diplomática e na econômica, através da manipulação de organismos internacionais e de estados satélites. No contexto de 2011-12, a crise na Síria constitui, no nível geopolítico, uma frente da guerra conta o Irã. Até mesmo os exercícios conjuntos norte-americanos e israelenses "Austere Challenge 2012" e a correspondente deslocação de tropas visaram, primordialmente, a Síria como forma de combater o Irã.

A SÍRIA NO CENTRO DA TEMPESTADE

O que Washington leva a cabo consiste em exercer pressão psicológica sobre o Irã como maneira de o distanciar da Síria, de forma que os EUA e as suas legiões possam desferir o golpe mortal. Até ao começo de Janeiro de 2012, os israelenses têm estado em permanente preparação para o lançamento da invasão da Síria, numa repetição da iniciativa de 2006, enquanto os EUA e a UE têm, continuadamente, tentado chegar a um arranjo com Damasco, de forma a separá-la do Irã e do Bloco de Resistência. Todavia, os sírios têm persistentemente recusado esses avanços.

Foreign Policy”, a revista do Conselho de Relações Externas (Council on Foreign Relations) norte-americano, publicou artigo em agosto de 2011 expondo o que era a visão do rei Saudita acerca da Síria no contexto do ataque ao Irão: "O rei sabe que, à parte o colapso da própria República Islâmica, nada enfraquecerá mais o Irã do que a perda da Síria". [7]

Tenha essa afirmação sido genuinamente proferida ou não por Abdul Aziz Al-Saud, a respectiva concepção estratégica é representativa das razões para visar a Síria. O próprio conselheiro de segurança de Obama disse a mesma coisa, poucos meses depois de a notícia da “Foreign Policy” ter sido publicada, em novembro de 2011. O conselheiro de segurança nacional [Thomas E.] Donilon garantiu, num discurso, que o "fim do regime de Assad constituiria o maior inconveniente regional para o Irã, um golpe estratégico que alterará o equilíbrio de poder na região contra o Irã." [8]

O Kremlin também produziu afirmações que corroboram a ideia de que Washington pretende separar a Síria do aliado iraniano. Um alto responsável russo para assuntos de segurança anunciou que a Síria está sendo punida pela sua aliança com o Irã. O secretário do Conselho Nacional de Segurança da Federação Russa, Nikolai Platonovich Patrushev, declarou, publicamente, que a Síria está submetida à pressão de Washington devido aos interesses geoestratégicos apostados na quebra dos seus laços com o Irã, e não em virtude de quaisquer preocupações humanitárias. [9]

O Irã também deu sinais de que, no caso de os sírios serem atacados, não hesitaria em intervir militarmente em seu apoio. Washington não pretende esse curso de eventos. O Pentágono preferiria engolir a Síria primeiro, antes de dirigir a sua atenção plena e indivisa para o Irã. O seu objetivo consiste em superar cada obstáculo à vez. Não obstante a doutrina militar norte-americana acerca da prossecução de guerras simultaneamente em vários teatros de operação, e de toda a correspondente literatura do Pentágono, a verdade é que os EUA não estão preparados para suportarem uma guerra regional convencional simultaneamente contra o Irã e contra a Síria, menos ainda para o risco de uma guerra estendida aos aliados russo e chinês do Irã.

O caminho para a guerra, porém, está longe de ter chegado ao fim. Por enquanto, o governo norte-americano terá de continuar com a "guerra sombra" contra o Irã, enquanto intensifica as guerras mediática, diplomática e econômica.”

NOTAS

[1] Elisabeth Bumiller et al., "US sends top Iran leader warning on Hormuz threat," The New York Times,12/Janeiro/2012.
[2] Mehr News Agency, "Details of Obama's letter to Iran released," 18/Janeiro/2012.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Yakkov Katz, "Israel, US cancel missile defence drill" Jerusalem Post, 15/Janeiro/2012.
[7] John Hannah, "Responding to Syria: The King's Statement, the President's hesitation," Foreign Policy,9/Agosto/2011.
[8] Natasha Mozgovaya, "Obama Aide: End of Assad regime will serve severe blow to Iran," Haaretz,22/Novembro/2011.
[9] Ilya Arkhipov e Henry Meyer, "Russia Says NATO, Persian Gulf Nations Plan to Seek No-Fly Zone for Syria,"Bloomberg, 12/Janeiro/2012.”

FONTE: escrito por Mahdi Darius Nazemroaya, sociólogo, especializado em questões do Médio Oriente e da Ásia Central, autor premiado e investigador associado do “Centre for Research on Globalization” (CRG), Montreal. Tem contribuído para discussões relativas ao Grande Médio Oriente em numerosos programas internacionais e em estações televisivas tais como a Al Jazeera, a Press TV e a Russia Today. Escritos seus foram publicados em mais de dez idiomas. Escreve para a “Strategic Culture Foundation”, SCF, Moscou. O artigo original encontra-se em  http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28736 . Transcrito em http://resistir.info/ e no portal de Luis Nassif com tradução de JCG  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-carta-de-obama-para-teera#more). [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

Nenhum comentário: