sábado, 28 de janeiro de 2012

LUCRO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA: “ELES PRECISAM DE NÓS. MAIS DO QUE PRECISAMOS DELES”


Por Leonardo Sakamoto, no “Blog do Sakamoto”

“A indústria automobilística remeteu 5,58 bilhões de dólares em lucros e dividendos ao exterior no ano passado. O valor – equivale a 19% de todas remessas brasileiras desse tipo e é 36% superior ao montante enviado em 2010 – foi tema de boa matéria de Pedro Kutney, na sexta-feira no UOL  (http://carros.uol.com.br/ultnot/2012/01/27/montadoras-fazem-remessa-recorde-de-us-56-bilhoes-ao-exterior-em-2011.jhtm).

Lucro pode se traduzir em empregos, geração de renda, impostos e tudo o mais. Contudo, quando ele surge em ambiente com problemas sociais, ambientais e trabalhistas não resolvidos, deveria ser melhor avaliado.

Por exemplo, as montadoras não colocam em prática certas ações importantes para garantir qualidade de vida ao brasileiro, como a adaptação da frota nacional para diesel com menos enxofre na sua composição e que, portanto, mataria menos os moradores das grandes cidades. Ou controle mais rígido sobre sua cadeia produtiva. Hoje, ao comprar um carro, você não tem como saber se o aço ou o couro que entrou na fabricação do veículo foram obtidos através de mão-de-obra escrava e trabalho infantil ou se beneficiando de desmatamento ilegal – ilegalidades que vêm sendo apontadas pelo Ministério Público Federal e pela sociedade civil.

Alguns “especialistas” repetem que é irracional a solicitação de contrapartidas à indústria, uma vez que o aumento nas vendas gira a economia e gera empregos. Afirmam que as empresas não podem operar esquecendo que estão inseridas em economia de mercado, buscando taxa de lucro para continuar sendo viável. E que, se problemas existem, é pela falta de fiscalização do governo.

Ou seja, o Estado tem que garantir e ajudar o funcionamento das empresas, mas as empresas não podem sofrer nenhuma forma de intervenção em seu negócio – mesmo se ele for vetor de problema. Um liberalismo de brincadeirinha...

E recordar é viver: durante o pico da crise econômica de 2008, a General Motors demitiu 744 trabalhadores de sua fábrica em São José dos Campos (SP) sob a justificativa de “diminuição da atividade industrial”. Mesmo após ter recebido apoio da União e do governo do Estado de São Paulo no sentido de facilitar a compra de seus produtos por consumidores.

Se o Estado pensar só com cabeça de planilha, vai continuar fazendo do Brasil suporte para as empresas automobilísticas de outros países durante épocas de crise, deixando o nosso meio ambiente e nossos trabalhadores pagarem a conta por isso.

Sugestão: quando constatados problemas na cadeia produtiva das montadoras, que tal taxar o lucro delas a ser remetido e usar o montante para cobrir esses danos ao homem e ao meio? OK, a idéia é quase impossível (por aqui, a dignidade é relativa, enquanto a propriedade é absoluta). Mas, por isso mesmo, deliciosamente interessante imaginarmos as reações.

Ah, isso afastará os investidores internacionais”, dirão xororôs do mercado.

Vai não… Eles precisam de nós. Mais do que precisamos deles.”

FONTE: blog “Escrivinhador”  (http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/eles-precisam-de-nos-mais-do-que-precisamos-deles.html) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]

2 comentários:

Probus disse...

Enquanto isso, a Rússia investe em Turbo-Hélices...

Saudade tenho eu dos desenvolvimentos da Ex-Estatal EMBRAER... Bons tempos foram.

Unknown disse...

Probus,
Também tenho. A privatização (estrangeirização) da EMBRAER foi outro crime cometido por Collor, FHC e demotucanos.
Ao ser "privatizada", após dois anos de asfixia no PND para colocá-la moribunda e vendê-la por nada e por "papéis podres", mesmo assim estrangulada, a empresa dominava o mercado mundial de turboélices na aviação regional, com o Bandeirante e o Brasília que ocupavam fatia de mais de 30% dessa aviação. Além disso, era líder no mercado de aviões de treinamento, com o turboélice Tucano. Vendida (doada) para grupo cujo controlador tinha sede nas Ilhas Bermudas, a empresa cresceu e sobreviveu por mais de 10 anos por conta de outro avião que já estava desenvolvido antes da privatização, o jato EMB-145 (mais de 1000 exemplares vendidos). O "controlador" caribenho fechou a linha de produção do Brasília.
Maria Tereza