quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O ENGANOSO RÓTULO DE “DESENVOLVIDOS” E “EMERGENTES”

alguns países "emergentes"
RÓTULO DE "EMERGENTE" PRECISA SER REPENSADO, DIZEM ECONOMISTAS AMERICANOS

Por Prabha Natarajan, no “The Wall Street Journal

Como se pode descrever um país como a China?

“Em um mundo onde a "desenvolvida" Itália está às voltas com déficit orçamentário disparado e governo instável, e a China, considerada "emergente", é a segunda maior economia do mundo, com produto interno bruto de US$ 6 trilhões, cresce o clamor por mudança na forma como os países são classificados.

Os investidores, em especial, gostariam de ver um mundo onde o prêmio pelo risco se aplica a todas as dívidas soberanas, e não apenas aos mercados rotulados como “emergentes”. O rendimento dos títulos de dívida com vencimento em 10 anos da "desenvolvida" Grécia já chegou a 32,365% e os de Portugal já passaram de 12,443%, sinalizando temores crescentes de inadimplência. Em contraste, títulos de dívida com vencimento em 2021 do Brasil, país "emergente", estão sendo negociados com um rendimento de 11,47% – e isso diante de taxa de juros de referência de 11%, enquanto o juro básico do euro é de apenas 1%.

Em vista de tais discrepâncias, alguns investidores argumentam que os ativos dos mercados “emergentes” são, na verdade, "portos seguros". No entanto, a imagem persistente de que os mercados “emergentes” são ativos de risco pode afetar o panorama das negociações, como ocorreu com a recente queda das suas moedas frente ao dólar.

"É um absurdo que exista essa linha arbitrária entre uma metade do mundo e a outra", disse Robert Abad, analista de mercados “emergentes” na “Western Asset Management”. "Vivemos em mercados globais."

A questão é como chamar os países agora considerados "emergentes".

A expressão "mercados emergentes", cunhada em 1981 por Antoine van Agtmael, na época na “International Finance Corp”, afiliada ao Banco Mundial, já foi uma tentativa de encontrar designação menos ofensiva para as nações em rápida industrialização, então conhecidas como "subdesenvolvidas" ou "Terceiro Mundo".

Os investidores logo adotaram o termo, que lançava luz positiva sobre as economias em rápido crescimento da Ásia e da América Latina. Ao mesmo tempo, o termo reconhecia as preocupações com a estabilidade política e a capacidade de decisão política desses governos, especialmente após a crise financeira asiática no final da década de 1990 e as tribulações de vários países latino-americanos durante esse tempo.

Mas depois da última década de prosperidade e em vista da capacidade desses países de enfrentar a crise do crédito de 2008, o termo perdeu sua utilidade, dizem alguns.

Segundo várias métricas, como a relação entre a dívida pública e o PIB, ou os índices de crescimento, os países “emergentes” estão em melhor forma do que o mundo “desenvolvido”. E nações “desenvolvidas” como a Grécia e a Itália caíram nas mesmas armadilhas — dívida pública em disparada e gastos extravagantes — que definiam muitas economias “emergentes” quando o termo foi inventado.

"O que eu acho ofensiva é a ideia de que esses países subiriam de nível, de alguma forma, e se tornariam economias ‘desenvolvidas’", disse Jerome Booth, membro do comitê de investimentos da “Ashmore Investment Management Ltd.”, parte do “Ashmore Group PLC”, com quase US$ 66 bilhões em ativos de mercados “emergentes”. "Os países ‘emergentes estão em melhor situação do que os mercados ‘desenvolvidos’."

Ainda assim, Booth disse que gosta do termo "mercados emergentes"; é a categoria dos "desenvolvidos" que precisa de uma renovação.

Sua sugestão: "Economias ‘velhas’, para ser educado; ou então economias ‘em submersão’, se quisermos ser exatos".

Outros sugerem acabar com ambos os conceitos e usar uma expressão ampla, de abrangência geral, como ‘mercados globais’, ‘mercados em crescimento’ ou ‘mercados locais’.

"Estamos em uma economia global, e as estruturas existentes são antigas e precisam mudar", disse Abad.

Uma definição mais simplista de “países devedores” e “países credores” encontra aceitação entre os clientes, disse Robert Stewart, gerente de carteira de clientes do “J.P. Morgan Asset Management” em Londres. Ele já começou a referir-se ao grupo já existente de países “desenvolvidos”, muitos dos quais estão altamente endividados, como países “devedores”, e a mercados “emergentes” como países “credores”.

Tem havido tentativas de, pelo menos, dividir o grupo dos mercados “emergentes”, para diferenciar entre os países de desempenho mais forte e mais fraco. Em 2001, Brasil, Rússia, Índia e China foram agrupados sob a sigla BRIC e considerados as economias maiores e de mais rápido crescimento. O índice FTSE 100 do Reino Unido tomou um rumo diferente e classificou o resto do mundo em três categorias de mercados — “emergentes avançados”, “emergentes” e “mercados de fronteira”.

A “MSCI Inc.”, que supervisiona os índices de ações de mercados “emergentes”, informa que sua classificação de países é baseada nas necessidades dos investidores institucionais internacionais.

"O fator acessibilidade é extremamente importante", disse Sebastien Lieblich, chefe global de gesto de índices da “MSCI Inc.”, em Genebra. "Para se qualificar como mercado ‘em desenvolvimento’, gostaríamos que um país tenha acessibilidade absoluta e abertura à propriedade estrangeira."

Mas tais argumentos podem tornar-se irrelevantes e o poder vai mudar de cores quando China, Índia, Brasil e México se tornarem as cinco maiores economias do mundo, juntamente com os Estados Unidos, em 2050, segundo previsões da ‘Goldman Sachs’.”

FONTE: escrito por Prabha Natarajan no “The Wall Street Journal”. Transcrito no blog do Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/wsj-o-rotulo-de-desenvolvidos-e-emergentes#more) [imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

Nenhum comentário: