Ministro Marco Antonio Raupp, em Brasília
EMPRESAS DO PAÍS DEVEM INVESTIR EM CIÊNCIA
Em entrevista à “Folha”, novo ministro da ciência reforça papel das parcerias com setor privado
Por Sabine Righetti, na “Folha de São Paulo”
“O físico Marco Antonio Raupp assumiu, terça-feira (24), o MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) e já elegeu como prioridade o estímulo da ciência por meio de parcerias com empresas.
"Temos exemplos de sucesso na ciência brasileira. Precisamos parar de reclamar de falta de recursos e nos espelhar neles", disse.
Para o físico, que deve seguir a linha de seu antecessor, Aloizio Mercadante, a ciência que dá certo no país está nos setores de petróleo, agricultura e aviação, em que as pesquisas são feitas com a colaboração entre universidades e grandes empresas.
Em entrevista exclusiva à “Folha”, Raupp afirmou que quer reformular o programa espacial brasileiro. A ideia é que AEB (Agência Espacial Brasileira) e INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), duas instituições que Raupp já comandou, parem de concorrer entre si.
-Folha - Qual será o maior desafio da sua gestão?
Marco Antonio Raupp - É estabelecer uma parceria com o setor produtivo para dar consistência à pesquisa tecnológica no país.
-Mas poucas empresas fazem ciência no Brasil.
Temos exemplos de empresas que fazem pesquisa de ponta. O sistema de pesquisa e inovação da Petrobras levou à superação de questões importantes na produção de petróleo. Importávamos petróleo e, hoje, somos exportadores. Também temos o bom exemplo da EMBRAPA [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária]. Hoje, produzimos no Centro-Oeste, que até há pouco tempo não tinha nada. Isso sem falar na EMBRAER [Empresa Brasileira de Aeronáutica]. Temos de seguir esses exemplos. Há propostas que quero implementar para isso.
-Quais propostas?
A EMBRAPII [Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial], que o [Aloizio] Mercadante deixa para eu implementar. O que a EMBRAPA fez para a agricultura a EMBRAPII tem de fazer para a indústria. Neste momento em que as exportações estão caindo, isso é vital.
As empresas têm de investir também. Precisamos criar condições para que elas vejam que poderão ter benefício econômico a partir de pesquisa. Esse é um grande desafio para o plano plurianual que vou desenhar para os anos de 2012 a 2015.
-Falta pesquisador no Brasil?
Sim. Nossa pós-graduação se concentrou em formar pessoas para as próprias universidades. Agora, precisamos de gente para trabalhar nas empresas e nas instituições governamentais. Temos brutal necessidade de engenheiros. É preciso formá-los e trazer gente de fora. O programa “Ciência sem Fronteiras” possibilita justamente isso.
-EMBRAPII e “Ciência sem Fronteiras” são projetos da gestão de Mercadante. Seu governo será de continuidade?
É o mesmo governo. Não vou reinventar a roda. Minha missão é acelerar a roda.
-Há grandes projetos aprovados ainda sem recursos, como o reator multipropósito do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), o novo anel de luz síncrotron e a parceria com o ESO (Observatório Europeu do Sul). Qual será a sua prioridade?
Esses projetos são importantes para a ciência brasileira. É preciso viabilizá-los mesmo que tenhamos de distribuir o orçamento em vários anos. E há outros, como o programa espacial.
-O programa espacial será o foco da sua gestão?
Sempre foi prioridade, mas existem muitos problemas. Sempre fui crítico à maneira como o sistema espacial está articulado, com duas instituições concorrendo entre si: a AEB e o INPE. No ministério, olharei para essa questão.
-INPE e AEB serão unificados?
Não, a ideia é manter as instituições de maneira que AEB e INPE não concorram entre si. Não podemos misturar política espacial com fazer satélite. Mas INPE e AEB têm de atuar juntas. O governo não quer as duas trabalhando separadamente porque isso é perder dinheiro.
-O INPE tem sofrido para contratar pessoas após a aposentadoria de funcionários. Como resolver essa questão?
Temos de ter aparato legal para conseguir contratar de maneira mais flexível. Mas me pergunto se é o Estado que deve contratar todas as pessoas para fazer pesquisa no país. É evidente que não. Por isso, insisto nas parcerias com o setor privado.
-As parcerias com o setor produtivo são a sua estratégia para aumentar os recursos para ciência? Hoje, temos 1,1% do PIB em ciência. A meta para 2010 era 1,5%...
Não adianta a gente ficar falando que precisa de mais recursos para fazer um projeto se não justificamos a proposta. E precisamos buscar o dinheiro. Não podemos ficar parados esperando alguma coisa acontecer.”
FONTE: entrevista conduzida por Sabine Righetti, publicada na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/21918-empresas-do-pais-devem-investir-em-ciencia.shtml).
Nenhum comentário:
Postar um comentário