INTERESSE SETORIAL NÃO PODE SE SOBREPOR AO NACIONAL
Ministra da casa civil ataca lobby contra medida provisória dos portos e
descarta falhas na articulação política
Por Valdo Cruz, da tucana “Folha de São Paulo”
“Principal negociadora no governo da medida
provisória dos portos, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) diz que
defensores de uma reserva de mercado travam o setor portuário no país e
dificultam a aprovação da proposta no Congresso Nacional.
"Não
podemos permitir que uma reserva de mercado fique em detrimento da eficiência
do país", disse em entrevista à “Folha”, acrescentando que "interesses setoriais não podem se sobrepor aos interesses nacionais"
na votação da medida provisória.
Gleisi se refere aos operadores privados com
concessões em portos públicos, que resistem à abertura do setor para os portos
privados, principalmente à autorização para que eles movimentem cargas de
terceiros.
"É óbvio
que quem está estabelecido começa a ter resistência, quer manter o seu mercado
e não ter concorrência, mas isso não serve ao Brasil", afirmou ela.
A ministra não concorda que a articulação política
esteja falhando na votação da medida e envia um recado à base aliada que tem se
queixado do tratamento do Palácio do Planalto.
"Se a
articulação política eficiente é ceder sempre em tudo, não é articulação
política. Se compromete o objetivo maior da medida, aí não tem a razão de ser
da articulação política", disse.
Apesar do tempo exíguo -a MP perde validade na quinta e tem de ser votada na Câmara e Senado
até quarta-, a ministra Gleisi Hoffmann diz que ainda acredita na sua
aprovação.
"É
normal enfrentar interesses contrariados, mas eles não podem ser admitidos se
não forem compatíveis com o interesse geral. Acreditamos que o Congresso vai se
colocar do lado do interesse geral, que é superar os gargalos portuários."
Folha - No Congresso, criou-se a imagem de que o governo defende um lado
do setor privado em detrimento de outro, na MP dos portos. O governo defende um
dos lados?
Gleisi Hoffmann - O governo defende uma proposta que é boa para o Brasil, que abre os
portos brasileiros, dá competitividade ao sistema e condições de trazer
respostas a uma logística eficiente.
Mas por que foi criada essa resistência tão forte dos operadores em
portos públicos?
Temos hoje um porto público com capacidade de
movimentar 370 milhões de toneladas em cargas. Em 2015, nós já estaremos
movimentando 375 milhões.
Ou seja, estamos no limite da capacidade. Temos,
então, de aumentar essa capacidade. Para isso, não podemos permitir que uma
reserva de mercado fique em detrimento da eficiência do país.
A Sra. acha então que há um grupo querendo manter essa reserva de
mercado? Qual?
Sim, temos um conflito de interesses, é natural que
seja assim, mas temos de enfrentá-los para aprovar a MP.
Afinal, quais são os interesses que estão tentando travar a MP dos
Portos?
É óbvio que quem está estabelecido, quem tem
terminais em portos públicos, começa a ter resistência, quer manter o seu
mercado e não quer concorrência, mas isso não serve ao Brasil. [OBS deste blog: a empresa
de Daniel Dantas controla desde 1997 o porto de Santos, graças à bondosa
política de FHC/PSDB]
Por que a base aliada critica e parece rejeitar a MP?
Eu não acho isso. Caso contrário, não teríamos
aprovado o relatório do [líder do governo
no Senado] Eduardo Braga (PMDB-AM) na comissão mista formada para analisar
a medida provisória dos portos. O projeto foi debatido e discutido na comissão.
A MP pode perder validade nesta semana. A articulação política está
falhando?
Se a articulação política eficiente é ceder sempre
em tudo, não é articulação política. Se compromete o objetivo maior da medida
que está em discussão, aí não tem razão de ser da articulação política ou da
medida enviada.
Membros da base estão aproveitando a votação da MP para reclamar do
tratamento do Planalto dispensado aos aliados. Isso está contaminando a
votação?
O governo tem sempre o compromisso de dialogar com
o Congresso, que tem sempre demonstrado apoio a matérias importantes ao país
enviadas pelo Executivo. Agora, é óbvio que não existe articulação política que
possa superar conflito de interesses. Tem um limite.
O que isso significa?
Chega um momento em que a convergência fica quase
impossível, porque as partes não conseguem convergir para a mesma proposta. Aí,
não adianta ter a articulação política como desculpa.
Na hipótese de a MP ser derrotada, o que é uma possibilidade, existe um
plano B?
A presidente Dilma não deixará o país sem resposta
num tema tão importante como este. Até o dia 16, a hipótese com que trabalhamos
é a votação e aprovação da MP.
Na última sessão, a MP foi classificada pelo deputado Anthony Garotinho
(PR-RJ) como "MP dos Porcos", pois estava sendo desfigurada...
Não vou fazer comentários sobre isso, mas só
lamento esse nível de debate.
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), insinuou que o governo
fez a MP dos Portos para beneficiar quatro grupos. Procede?
Não vou fazer comentários acerca dessa declaração
irresponsável.
Na semana passada, a MP não foi votada por causa de uma emenda defendida
pelo líder Eduardo Cunha, que englobava vários interesses. Por que o governo é
contra ela?
Ela é restritiva do ponto de vista de
competitividade. Tira a possibilidade de ter terminais de uso privado, ao
exigir licitação neles independentemente da titularidade do terreno. Define,
ainda, que você só poderia fazer uma licitação ou autorizar um terminal privado
depois de esgotada a capacidade do porto público. E, também, coloca como
obrigatória a renovação das concessões.
Os congressistas classificaram a Sra. de muito inflexível nas
negociações da MP?
Nós temos um limite que é a essência da medida. É
importante negociar, ouvir; tivemos várias contribuições para essa MP. Paramos
no momento em que as propostas que chegavam desfiguravam a medida, comprometiam
a sua essência, que é destravar o setor portuário.
O que é inegociável na MP?
O nosso limite de negociação está dado pelo
relatório do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que está em votação e foi
aprovado pela comissão mista. Mais do que isso seria desfigurá-la.
Caso a MP seja desfigurada, é melhor que seja rejeitada?
Queremos que ela seja vitoriosa e acredito será.
Mas o prazo é muito exíguo, a MP perde validade na quinta. Tem de votar
até quarta no Senado, só três dias úteis.
Tudo depende de vontade política. É normal
enfrentar interesses contrariados, mas eles não podem ser admitidos se não
forem compatíveis com o interesse geral.
Vejo como bom sinal a iniciativa do presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves, de ter chamado sessão para segunda-feira [13].
Raio-X Gleisi
Hoffmann:
IDADE: 47
CARGO: Ministra da Casa Civil
FORMAÇÃO: Direito
HISTÓRICO: Filiada ao PT desde 1989; foi diretora financeira de Itaipu durante o governo Lula e é mulher do ministro Paulo Bernardo (Comunicações).”
CARGO: Ministra da Casa Civil
FORMAÇÃO: Direito
HISTÓRICO: Filiada ao PT desde 1989; foi diretora financeira de Itaipu durante o governo Lula e é mulher do ministro Paulo Bernardo (Comunicações).”
FONTE:
reportagem de Valdo Cruz, publicada no jornal
tucano “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/108654-interesse-setorial-nao-pode-se-sobrepor-ao-nacional.shtml).
[Imagem do Google e trecho entre
colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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