Por Eric
Margolis, no “Information
Clearing House”, com o título original “A Welcome
Pause in the Craziness Over Syria”. Traduzido pelo “pessoal da
Vila Vudu” e postado no blog
“Redecastorphoto”
Eric
Margolis
“A
terrível guerra civil na Síria empurrou as duas maiores potências nucleares
para uma rota de colisão, em que disputavam uma pequena nação do Levante, sem
qualquer importância estratégica para Washington. Esse quadro não é admissível.
Notícias
de que EUA e Rússia se reunirão em conferência de paz, para discutir o que
farão, ainda em maio, são bem-vindas: essa conferência já deveria ter
acontecido há muito tempo. Como disse sabiamente Benjamin Franklin, “não há guerra boa, nem paz ruim”.
Moscou
clama há dois anos por essa reunião. Washington sempre rejeitou a ideia, na
esperança de que os ‘rebeldes’ sírios, que os EUA apoiam, conseguissem chegar
ao poder. Mas agora, com a situação que se vê, cada dia mais distante desse
‘projeto’ dos EUA, parece que, embora ainda relutantemente, os EUA começam a
aceitar contribuir para um esforço diplomático que ponha fim à guerra
norte-americana, antes que toda a região se converta num único grande incêndio.
A
Síria é o mais recente exemplo do que Henry Kissinger disse certa vez: “muitas vezes, é mais perigoso ser aliado,
que inimigo, dos EUA”.
Bashar
al-Assad
O
governo Assad em Damasco foi, por décadas, aliado tácito do Ocidente, porque
reprimia os extremistas islamistas, mantinha em paz a fronteira com Israel e interrogava
prisioneiros que os serviços de inteligência dos EUA despachavam para lá.
Damasco sequer reagiu com vigor, na defesa do próprio território nas Colinas do
Golan, quando Israel anexou ilegalmente a região, depois da guerra de 1967
entre árabes e israelenses.
Mas
nem esse bom comportamento ajudou a Síria, quando EUA, Grã-Bretanha, França e
Israel decidiram que querem cortar a cabeça do Irã, principal aliado dos
sírios. Quando se recusou a unir-se à aliança ocidental liderada pelos EUA e
pelas petromonarquias conservadoras, contra o Irã, o presidente Bashar al-Assad
selou o próprio destino.
O
grito que se ouvia dos militares norte-americanos passou a ser “A estrada para Teerã passa por Damasco”.
E a Síria foi condenada a ser destruída, exatamente como o Iraque foi
destruído.
Na
Síria, Washington estimulou e fez incendiar a mesma animosidade entre
muçulmanos sunitas e xiitas, que já lhe fora muito útil no Iraque. Diferenças
teológicas foram convertidas em furiosa rivalidade política, movimento construído
tendo por alvo também o Irã, para gerar guerra entre sunitas e xiitas em todo o
mundo muçulmano.
O
que começou na Síria como manifestação pequena e pacífica contra o governo de
Assad, e que foi reprimida, foi rapidamente inflada até se converter em
rebelião nacional. Repetindo o pequeno levante, produto de aplicada engenharia
ocidental, que derrubou Muammar Gadaffi da Líbia, o Ocidente e seus aliados
árabes rapidamente armaram, treinaram e dirigiram os insurgentes sírios. E,
como na Líbia, a faca de duas lâminas, operante no centro de tudo, foram grupos
islamitas armados.
A
França, a potência colonial que governou a Síria, teve papel discreto, mas
importante, porque forneceu aos rebeldes, desde o início, equipamentos de
comunicação e armamento antitanques. A França parece interessada em dar nova
vida à sua influência colonial na África Ocidental, no Sahel, no Líbano e na
Síria.
Os
EUA mantiveram-se por trás das cortinas, fornecendo dinheiro, financiamento,
armamento avançado e apoio político. E delegaram à Turquia quase todo o serviço
braçal.
Mas
tudo isso feito... e passados dois anos de combates ferozes, nada do que estava
previsto aconteceu. Um presidente Obama cada dia mais cauteloso, ainda reluta
em envolver soldados norte-americanos em campanha direta, em solo, no Oriente
Médio – e por boas razões. Os militares norte-americanos estão perigosamente
‘diluídos’ por todo o planeta, e o Tesouro dos EUA sobrevive de dinheiro
emprestado por China e Japão. Mas Obama está sendo pressionado por Republicanos
pró-guerra, pela extrema direita dos religiosos extremistas e fanáticos e por
outros, interessados em que Israel destrua a Síria e, na sequência, também o
Irã.
Obama
Efeito
disso, Obama tergiversa, enquanto jorra sangue sírio; e a guerra de Washington
já ameaça alastrar-se para a Jordânia, o Líbano e o Iraque (nesse caso, pela segunda vez, depois da
“Missão Cumprida” cenografada de Bush). Semana passada, Israel lançou
pesados ataques aéreos contra alvos militares sírios – claro ato de guerra – e matou cerca de 80 soldados sírios.
Ainda
não se sabe se Israel tentava destruir um comboio que estaria transportando
foguetes de longo alcance, do Irã para seu aliado libanês, o Hezbollah, como
disseram fontes israelenses; ou se Israel tentava destruir a força aérea e os
blindados sírios, tentando derrotar o governo Assad.
Segundo
parte da mídia, Israel não comunicou ao governo americano seus planos para
atacar a Síria. Aqui em Washington, muitos funcionários da segurança
perguntam-se se Israel conseguirá arrastar os EUA também para uma guerra contra
o Irã, usando o mesmo “procedimento”.
O
que se sabe com certeza é que o Ocidente está destruindo a Síria. Como se viu
no Iraque, também a Síria parece estar sendo castigada pela ousadia de manter
política independente e por não se ter curvado aos desígnios e planos
ocidentais para o Oriente Médio.
A
Síria está sendo usada como, nas cortes europeias, usava-se um servo, o qual
recebia as chineladas quando algum príncipe comportava-se mal: estaria apanhando em substituição ao Irã,
país cujas riquezas naturais o tornam altamente importante para o Ocidente.
Como
“recado” bem claro a Teerã: eis o que
acontecerá a vocês, se não cancelarem todo o seu programa nuclear.”
FONTE:
escrito por Eric Margolis, no “Information
Clearing House”, com o título original “A Welcome Pause in the Craziness
Over Syria”. Traduzido
pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado
no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/05/siria-bem-vinda-pausa-na-loucura-norte.html).
Nenhum comentário:
Postar um comentário