[Felizes com a SELIC em 45%. Essa é uma das recordações dos anos FHC/PSDB, que os grandes rentistas estrangeiros e nossa mídia querem de volta para o Brasil]
"No domingo (5), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou um artigo nos jornais “O Globo”, “O Estado de São Paulo” e “Zero Hora”, entre outros, que parece ser o esboço do que virá a ser o programa do PSDB para a campanha eleitoral à presidência da república.
Por Wagner Iglecias e Mariana Ruivo, no “jornal GGN”
Entre as velhas receitas tucanas de sempre, relativas à gestão pública e ao papel do Estado na economia, FHC discorreu bastante sobre política externa e sobre o lugar que imagina como ideal para o Brasil na ordem internacional.
Ele enumera o que seria sua visão sobre política externa para o Brasil hoje: o retorno do alinhamento [submisso e] automático aos declinantes EUA e à decadente Europa; a entrada na ultraliberal "Aliança do Pacífico" (comandada pelos EUA) e, por conta disso, a consequente e inevitável relativização das nossas relações com a China, e o distanciamento em relação aos governos sul-americanos mais à esquerda. Para completar, o maior intelectual da direita deste país cita o México como potência emergente.
Faltou lembrar que, depois de 20 anos do NAFTA, o acordo de livre comércio com os EUA, o México hoje em dia importa até milho do vizinho do norte e é, atualmente, um país em crise profunda, com altíssimos índices de violência e com mais de 51,4% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo dados do “CIA World Factbook”, o site da “Central de Inteligência Americana”.
Sobre países sul-americanos governados pela esquerda, FHC acena com a palavrinha mal-conhecida nestas plagas, mas que tanto assusta o eleitorado típico de seu partido: “bolivarianismo”. Que não fosse a vitória da economia de mercado em todo o mundo, [essa palavra] estaria hoje para os setores conservadores da nossa sociedade como a palavra “comunismo” esteve para esses mesmos setores nos anos 1960.
Sobre a necessidade de maior alinhamento com EUA e Europa, nenhuma novidade. FHC, aos oitenta anos de idade, é, nesse assunto, o mesmo FHC dos sessenta e poucos, quando exerceu a presidência da república, e o mesmo FHC dos trinta e poucos, quando desenvolveu sua versão da “Teoria da Dependência”, pela qual imaginava que o futuro do Brasil seria, necessariamente, o desenvolvimento associado e dependente aos países mais ricos do mundo. Não que, nesses três momentos de sua produção intelectual, FHC discordasse da necessidade de maior aproximação com outros países e regiões do mundo, mas para ele isso sempre seria secundário como estratégia de desenvolvimento para o país.
Exatamente ao contrário disso têm sido os anos petistas no comando da nação. Não que Lula e Dilma tenham se distanciado dos EUA e da Europa, mas, antes, buscaram, sobretudo Lula, aproximar o Brasil de outros países e regiões do mundo. Uma das maiores características do governo Lula foi a multilateralização nas relações externas e a ênfase na participação ativa do país nos grandes centros de decisão na esfera mundial. Comparada ao governo FHC, foi uma postura marcada pela busca de novas parcerias políticas e econômicas além da tradicional relação Norte-Sul.
Durante os oito anos de governo, houve concreta e crescente atuação em órgãos e agências de âmbito mundial, como no Conselho Segurança da ONU, reafirmando o desejo e a candidatura do país à uma cadeira como membro permanente; na OMC, com a Rodada de Doha; nas missões de paz , com destaque para a Missão de Paz no Haiti; além do fortalecimento das alianças Sul-Sul – parcerias estratégicas com a China, Índia, África do Sul, Rússia, além de maior aproximação com vários países africanos e do mundo árabe. Em relação à América do Sul, avançou-se na questão da UNASUL, e o Brasil, ainda que não sem percalços, consolidou a região como sua plataforma de projeção no cenário mundial.
Com um viés mais burocrático, no governo Dilma Rousself temos tido uma política exterior mais conservadora e sem voos mais arriscados. Ao que tudo indica, parece ter havido uma concentração nas decisões de política externa nas mãos da presidenta – tirando do Itamaraty a autonomia que tanto o caracterizava. Além disso, parece que ela tem estado mais ocupada com a política doméstica e a economia do que com a política externa. No entanto, nada indica a volta de um alinhamento tão pronunciado, como defende FHC/PSDB, com os EUA e a Europa.
Num mundo multipolar, composto por grandes blocos, e no qual diferentes países e regiões vão emergindo como os novos pólos dinâmicos da economia mundial, é frustrante ver a defesa da volta ao [servil] alinhamento automático com as velhas potências do século 20. Para completar, em seu artigo, FHC ainda critica a privatização Light feita por Dilma, e defende o seu modelo mais “hardcore” de venda dos ativos públicos para a iniciativa privada. Bem-vindos aos [trágicos] anos 1990, pessoal!”
FONTE: escrito por Wagner Iglecias, doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP, e por Mariana Ruivo, Mestranda no Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora da área de Política Internacional. Publicado no “jornal GGN” e transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=233067&id_secao=1) [Imagem do Google, trechos entre colchetes e sigla do partido de FHC adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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