Muito boa análise escrita por Eduardo Guimarães ontem, no seu blog “Cidadania.com”:
“Devido à volatilidade que a conjuntura geopolítico-econômica imprimiu ao mundo nos últimos cinco meses, começo a sentir maior necessidade de fazer análises sob a ótica econômica.
No ano passado, porém, a conjuntura em voga se estabelecera a partir do ângulo ético-político, com denúncias contra o governo sendo o mote da discussão na grande mídia sob o ponto de vista da transformação de oposicionistas em vítimas de um Estado maculado eticamente sob a égide petista.
A seguir, portanto, analisarei a conjuntura nos setores da vida nacional que importam a todos, porque determinarão que país teremos na década que se avizinha.
CONJUNTURA POLÍTICA
O primeiro fato da conjuntura política, assim, é a mudança de estratégia da coalizão oposicionista integrada, maiormente, pelos partidos PSDB, DEM e PPS, e pelos veículos de comunicação Globo, Folha de São Paulo, editora Abril e Grupo Estado.
O embate político vinha e continua sendo travado sob o mote que o grupo político com maior poder de difundir seus interesses lhe imprimiu, portanto. E tal grupo é o acima nominado, que se compõe de políticos como José Serra e Fernando Henrique Cardoso em consonância com os interesses e com as visões político-ideológicas das famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita.
Por outro lado, o PT estabeleceu melhor sua aliança com o PMDB e com as outras legendas menores que sempre se apresentam como fiadoras da “governabilidade” e aderem a todos os governos.
Agora, porém, nota-se ao menos uma mudança importante na comunicação no Brasil: o governo Lula parece ter despertado na Rede Record, de Edir Macedo, os melhores pendores jornalísticos, pois a emissora tem dado shows crescentes de isenção, difundindo as críticas mais ácidas ao governo tanto quanto à oposição.
Será leviano dizer que Lula despertou tais ímpetos estritamente jornalísticos na Record com os mesmos “argumentos” que se nota na conjunção de interesses econômicos entre os grandes jornais, revistas, tevês e a oposição ao governo federal. Afinal, este governo também tem tido “dissabores” noticiosos com a emissora em questão.
Ao mesmo tempo, Carta Capital pareceu estremecer sua relação com o governo, nem que seja no campo da amizade entre Mino Carta e Lula, amizade que deu a impressão de ter sido abalada depois do episódio do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que a revista disse que deixaria o cargo e acabou não deixando.
CONJUNTURA ECONÔMICA
É sob o pano de fundo que acabei de pintar que se compõe o cenário político neste instante. Esse cenário, porém, ainda precisa do componente econômico para se conformar.
Com a intensidade surpreendente que a crise econômica internacional adquiriu no Brasil nos dois últimos meses do ano passado, quando centenas de milhares de empregos e a produção industrial foram aniquilados junto com o crédito numa paulada só, estabeleceu-se uma crença fundamentalista entre o consórcio político-midiático de oposição de que agora a popularidade de Lula cairia, com demissões e maiores dificuldades na economia.
A economia brasileira, porém, também mostra que não esgotou seu estoque de surpresas. A reação dela às medidas do governo já se faz notar até entre os que não desejam que reação ocorra. Nesse ritmo, em sessenta ou noventa dias os analistas terão que reconhecer que a economia do país terá voltado a crescer.
A reação popular à crise foi mais uma grande surpresa dos últimos meses, ao não corresponder às expectativas do consórcio midiático-oposicionista mantendo não apenas alta, mas surpreendentemente crescente a aprovação ao governo Lula e ao seu titular. O consórcio midiático-oposicionista perdeu a batalha da opinião pública de novo, como perdera no campo ético.
CONJUNTURA PRÉ-ELEITORAL
No âmbito das projeções quanto à sucessão presidencial de 2010, esse processo eleitoral poderá mudar drasticamente a geopolítica latino-americana se vier a eleger um governo presidido por José Serra, que seria francamente opositor dos governos da Venezuela, da Bolívia, do Equador e do Paraguai, conforme mostram as posições do PSDB e do DEM no Congresso e na mídia.
O quadro atual mostra que José Serra é o único que tem chances reais na eleição, mas mostra que esse cabedal de intenções de votos que detém é extremamente frágil, calcado no recall (lembrança do eleitorado) gerado por décadas de intensa militância política.
Esse patrimônio eleitoral do tucano se assenta no fato de a provável adversária do governador paulista em 2010 ser uma tecnocrata como Dilma Rousseff, totalmente inexperiente em campanhas eleitorais.
A despeito do desequilíbrio em favor de Serra devido à ausência de um nome petista conhecido do eleitorado para disputar a sucessão de Lula, Dilma Rousseff vem sendo beneficiada pelo fenômeno conhecido como transferência de votos, os quais têm vindo de Lula para sua candidata não-oficial e que ainda é fartamente desconhecida do eleitorado.
Um fato inquestionável: apesar da exposição de Dilma Rousseff graças ao PAC, todas as sondagens de uma opinião pública ampliada para além do campo dos leitores de jornais - dessa opinião pública elitizada que constitui uma minoria infinitesimal do conjunto da sociedade - mostram que a grande maioria do eleitorado nem faz idéia de que Lula está apoiando alguém.
É, pois, totalmente imprevisível o quadro eleitoral para 2010. O que se sabe, apenas, é que Serra, no máximo, tem consigo, muito provavelmente, o mesmo patrimônio em votos que tinha em 2002, o que não é pouco, mas tampouco me parece suficiente para elegê-lo.
CONCLUSÕES
A indefinição do quadro eleitoral daqui a dois anos gera previsões ufanistas de ambos os lados desse dividido espectro político brasileiro. Uns, porque Serra tem muitas intenções de votos, e outros porque Lula tem muito mais prestígio do que Serra no âmbito do país.
Os primeiros se esquecem de que os descontentes obviamente que ficam mobilizados sob um governo dos contentes, mesmo que na hora da decisão virem minoria, e os segundos se esquecem de que o mundo se encontra sob uma grave crise econômica que pode vir a se abater sobre nós de forma a fazer o que até agora não fez, que foi piorar a vida de um contingente maior de eleitores de forma que o gestor do país possa vir a ser responsabilizado pela situação.
Em minha opinião, neste momento o jogo favorece os anseios petistas. A economia parece estar não apenas resistindo à crise, mas também passando à ofensiva ao ameaçar voltar a crescer em meio a um mundo em bancarrota, o que constituirá um ativo eleitoral inimaginável se vier a ocorrer.
Quanto às tentativas dos grandes meios de comunicação de manipularem a opinião pública em favor da coalizão entre tucanos e democratas, além de agora terem uma Record roendo a corda do que ainda realmente importa, que é a tevê, têm que arcar com uma população que parece estar entendendo perfeitamente o que está acontecendo.
Qualquer análise das pesquisas sobre a aprovação de Lula e de seu governo mostrará que ele é apoiado de forma esmagadoramente majoritária até nos estratos sociais mais ricos e escolarizados.
Há um consenso pró-Lula no país que obviamente é fundado em motivos sólidos, ou seja, em pessoas cultas e bem situadas na vida que apóiam o presidente quase tanto quanto aquelas menos cultas e mais pobres, e isso porque também concluíram que o país está sendo bem administrado, por mais que a mídia, que hoje todos sabem que está do lado da oposição, diga o contrário.
A negação oposicionista-midiática desse fato não é nem estratégia, é pura demonstração de descontrole emocional. Prevejo um acirramento dos ataques ao governo e tentativas de enquadrar a Record. Prevejo surgimento de denúncias contra a emissora de Edir Macedo, que, aliás, não me parecem muito difíceis de conseguir, para ser honesto com meus leitores.”
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