terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CRISE REVELA ALGO IMPREVISTO: QUEM RESISTIU À GLOBALIZAÇÃO AGORA SAI EM VANTAGEM

Li hoje no blog do Favre o seguinte artigo de Floyd Norris e Tony Cenicola, do jornal norte-americano “The New York Times”

GERENCIANDO RISCOS

ANÁLISE ECONÔMICA


Nas últimas décadas, enquanto a globalização se disseminava, o ritmo do crescimento econômico mundial aumentou. As economias abertas, como se vê, conseguem crescer mais depressa que as fechadas.

Mas hoje, quando a crise financeira se transforma em econômica, parece que os países com economias fechadas talvez estejam em melhores condições de suportar os tempos difíceis.

O economista de Harvard Kenneth S. Rogoff notou, no mais recente Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, que a Índia, que tem “restrições comparativamente estritas ao fluxo de capitais internacionais”, também parecia ser a mais otimista e mais preparada para o crescimento econômico em um ano em que poucos países estão.

“Graças aos céus por nossa forte estrutura regulatória do sistema financeiro”, disse um executivo indiano a Rogoff.

Em comparação, países que se abriram mais aos mercados de capital internacionais e que tentaram atrair empresas com regulamentos relativamente frouxos hoje estão sofrendo mais. A Islândia foi a economia-prodígio do mundo; hoje está falida.

Esta crise mostrou que o ponto fraco de um sistema financeiro globalizado é a falta de regulamentação consistente para evitar que banqueiros excessivamente confiantes assumam riscos irresponsáveis. Um ano e meio atrás, quando parecia ser apenas uma questão de hipotecas de baixa qualidade nos EUA, a maioria dos países pensou que pudesse passar ao largo. Mas todos no sistema globalizado estavam vulneráveis.

“Precisamos de um regulador global com dentes afiados, para impedir o problema do mínimo denominador comum”, disse Rogoff. Antes da crise, o capital fluía para onde fosse menos regulamentado, e alguns países competiam para ser esse lugar. Vale a pena lembrar que o governo de George W. Bush tentou usar a ameaça da concorrência estrangeira para abrandar a regulamentação antes da explosão do sistema financeiro.

Se isso não acontece, o mais racional para muitos países talvez seja isolar-se da economia globalizada. “Os países vão se sentir obrigados a impor mais controles de capital para não se expor a riscos”, disse Rogoff.

A metáfora que vem à mente é a de um grande navio: um de casco simples custa menos para construir e operar do que um navio semelhante com um casco duplo. Portanto, ganhará mais dinheiro em cada viagem, mas tem maior probabilidade de afundar se encontrar uma tempestade severa ou um grande iceberg.

Permitiu-se que o sistema financeiro escapasse ao controle exatamente na época em que poderia causar mais danos ao mundo. Antes da crise, as evidências pareciam demonstrar que os países em desenvolvimento poderiam se beneficiar da abertura financeira, supondo que outros fatores estivessem presentes. “A abertura total das contas de capital, na ausência de condições de apoio essenciais, pode viciar a realização de lucros, enquanto torna um país mais vulnerável a súbitas interrupções dos fluxos de capital”, escreveu há alguns anos Rogoff, que foi chefe de pesquisa do FMI.

Essas condições essenciais, o trabalho acrescentou, “incluem políticas macroeconômicas estáveis, assim como fortes instituições financeiras, regulamentação e governança”.

Quando Rogoff e seus colegas escreveram esse texto, tinham em mente a regulamentação no país que fazia a abertura, e não nos EUA e no Reino Unido, onde estava sediada a maioria dos principais bancos do mundo.

Mas são exatamente esses países que provaram a verdade da advertência. “Fomos incrivelmente irresponsáveis”, disse Rogoff sobre os reguladores americanos. “Todas as luzes vermelhas estavam piscando. Nossos líderes foram cegos para o que estava acontecendo.”

Rogoff é um economista sério demais para achar que a solução é fechar as economias. “A lição não é que se deve rumar para a autarquia financeira”, disse. Mas o mundo poderia estar em melhores condições hoje se mais países tivessem escolhido esse rumo e estivessem mais isolados da tempestade de crédito, que deixou empresas e países temerosos de que não conseguirão os financiamentos necessários.

Certamente, de tudo isso sairá uma nova arquitetura regulatória americana, e haverá mais esforços de colaboração internacional.”

ECONOMIAS FECHADAS ESTÃO MAIS PROTEGIDAS DA CRISE GENERALIZADA

Entre os reguladores, uma palavra frequente hoje em dia é “contracíclico”, e haverá esforços para incorporá-la em qualquer novo sistema. Na essência, significa que os reguladores deveriam forçar os bancos a assumir menos riscos quando as coisas estão muito boas e a relaxar os padrões quando as coisas estiverem muito ruins e o mundo precisar desesperadamente de crédito.

Adotar medidas para impedir que mais países se isolem ajudaria a economia global e, em longo prazo, as instituições regulamentadas. Realizar isso será muito mais difícil e menos popular politicamente do que impor limites aos bônus dos executivos. Mas poderia causar um bem muito maior.”

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