quarta-feira, 2 de junho de 2010

CHINA DAILY: "O IRÃ MERECE UMA CHANCE"

"A comunidade internacional deve deixar Teerã ir adiante com seu programa nuclear para uso civil. O recente acordo tripartite sobre a troca de material nuclear entre Irã, Turquia e Brasil mostra que países influentes que não as grandes potências ocidentais começaram a contribuir para a resolução de questões sensíveis internacionais.

Por Zhai Dequan, para o China Daily

Esses esforços devem ser aplaudidos e incentivados, sobretudo porque no ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que, em vez de depender apenas dos EUA, outros países também devem tentar resolver os problemas do mundo.

Antes do acordo tripartite ser assinado, esperava-se que o Conselho de Segurança da ONU aprovasse uma resolução impondo novas sanções contra o Irã por se recusar a trocar o seu urânio pouco enriquecido com outro país.

Agora, o Irã concordou com o local, data e quantidade de urânio pouco enriquecido para ser trocado e apresentou a lista de provisões para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), embora não totalmente em conformidade com as condições da entidade sediada em Genebra.

Dado que a situação mudou, as pré-planejadas ações punitivas também devem ser alteradas. Ou seja, já não há qualquer racionalidade na imposição de novas sanções sobre o Irã.

Além disso, desde que o Irã é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e está legalmente autorizado para uso pacífico da energia nuclear, é absurdo dizer que não deve processar os materiais nucleares para gerar eletricidade.

A AIEA tem realizado muitas inspeções normais e repentinas em instalações nucleares iranianas - possivelmente o maior número em um estado signatário do TNP, e disse que seu estado "não era longe da faixa normal". Enquanto a AIEA confirma que as atividades nucleares do Irã são confiáveis e têm a cooperação do país, as sanções adicionais são desnecessárias.

Conforme noticiou a imprensa, os dirigentes russos e americanos sugeriram que a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cúpula do Movimento dos Não-Alinhados, em Teerã, em 17 de maio, seria a última chance para o Irã para evitar novas sanções da ONU.

O acordo foi alcançado após árduos esforços, e o Irã sinceramente espera que isso irá ajudá-lo a evitar mais sanções. Tão alta é a esperança que o Irã ameaçou desfazer o negócio, se o Conselho de Segurança da ONU for adiante com seu plano de impor novas sanções.

Sanções contra um país revelam-se eficientes apenas quando são impostas oportuna e adequadamente. Mas, de um modo geral, eles não provaram ser muito úteis na prática, na maioria dos casos até agora. Em vez disso, eles geralmente geram sentimentos de confronto e ódio, e tornam as coisas mais complicadas.

É por isso é muito importante considerar fatores humanitários e a normalidade econômica enquanto se estuda a possibilidade de aplicar sanções a um país. Afinal, os efeitos desastrosos das sanções recai diretamente sobre as pessoas comuns do país de destino.

Sanções, na verdade, são uma maneira de trazer um país à mesa das negociações. Assim, portanto, não devem ser impostas de forma aleatória.

A não-proliferação de armas de destruição em massa e o bloqueio de seus canais de entrega é o nosso objetivo comum, mas devemos alcançá-lo através da justiça, legalidade, igualdade e racionalidade.

A confiança mútua deve ser a base para resolver todas as questões internacionais mais importantes, e o viés ideológico e padrões duplos devem ser evitados. Como diz o ditado, "se você quiser um amigo, ele pode não estar lá; se você quiser fazer um inimigo, ele irá aparecer."

Quanto à questão nuclear iraniana, pode ser resolvido apenas através do diálogo, interação e cooperação e, consequentemente, o Conselho de Segurança não deve impor novas sanções contra o país, porque elas só podem ter êxito em causar sofrimento ao povo iraniano."

FONTE: escrito por Zhai Dequan, para o "China Daily". Publicado no portal "Vermelho", traduzido por Miguel do Rosário. O autor é secretário-geral adjunto de Associação de Controle de Armas e Desarmamento.

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