quarta-feira, 16 de junho de 2010

ESTRANHOS NO NINHO

“José Serra fez um discurso marcante [para os seus fãs] de confrontação política no sábado. Foi ‘o ponto alto’ da convenção do PSDB. Mas sua eficácia é no mínimo duvidosa: ao atacar Lula, ele mordeu a isca. Mordeu porque está acuado e talvez não tenha muito para onde correr.

A candidatura Serra vive hoje um momento delicado, que o empate com Dilma Rousseff nas pesquisas não traduz. O fantasma da desagregação política ronda o tucanato.

Serra ainda não tem vice. E tudo indica que passou a hora em que a escolha de um nome ainda viesse somar algo à candidatura. O PP, que lhe daria tempo de TV, inclinou-se para o lado de Dilma. Na melhor hipótese, ficará solteiro.

Enquanto isso, o DEM, aliado dos tucanos desde o início, faz ameaças e pergunta, como na canção dos Paralamas: "Por que você não olha pra mim, oh, oh, me diz o que é que eu tenho de mau?". Eles têm razão de chiar. Mas no fundo sabem que este é um casamento que funcionava na era FHC. Hoje, com Serra, parece mais um funeral.

Nesse ambiente, em que quase todos reclamam do candidato e quase ninguém assume responsabilidades com a candidatura, Aécio Neves -o vice que foi sem nunca ter sido- achou seu espaço. Usou a convenção para fazer um show de engajamento ligeiro na campanha. [com sutil, mas forte dose de ironia, pois os tucanos serristas, na época da escolha do candidato do partido, espalharam que Aécio ‘cheirava pó’ e ‘batia em mulher’]

Alguém disse que sua presença atrapalha e suas palavras não ajudam. Feliz, bronzeado, cheio de vitalidade, Aécio é hoje a própria encarnação de um futuro que vai além do PSDB. E além, certamente, do que é capaz de inspirar a figura soturna do candidato tucano-coruja.

Ao subir no palco como um popstar e conclamar [ironicamente] Serra, num discurso tão inflamado quanto vazio, a liderar um processo de "redenção nacional", Aécio reforça a sensação de que não está nem aí. Redenção nacional? Contra 80% de aprovação de Lula? Sua fala teria nexo se estivéssemos no final do governo Sarney, com o país derretendo. A continuar assim, não é difícil adivinhar quem derreterá até outubro.”

FONTE: escrito por Fernando de Barros e Silva e publicado na Folha de São Paulo [aspas e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

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