quarta-feira, 16 de junho de 2010

RETOMADA DE CAMINHO PELA INDÚSTRIA DE DEFESA


Os desafios para a incipiente indústria de defesa brasileira são inúmeros. E ela precisará de muito crédito e, em especial, de encomendas no mercado internacional.

Nelson Düring

“Em 1987, durante a exposição militar Satory, nos arredores de Versalhes, na França, conversei com executivos da Panhard, empresa líder no mercado mundial de veículos blindados leves, desbancada pela brasileira Engesa.

Na ocasião, os executivos afirmaram de forma solene: “A Engesa nos ensinou a vender. ”A declaração pode ser também aplicada à Embraer que em três oportunidades teve o produto certo. Para muitos, ela criou o mercado para seus aviões: nos anos 1970, com a desregulamentação do setor aéreo, tinha aeronaves confiáveis e com capacidade de passageiros que permitiram o seu emprego pelas empresas aéreas regionais americanas, como o Bandeirante.

Nos anos 1980, o Brasília dava mais conforto aos passageiros e possuía maior velocidade; nos anos 1990, e na primeira década do novo milênio, a família EMB 145 teve mais de 1,1 mil unidades produzidas. Caso também da Avibras, que desenvolveu o sistema de foguetes de saturação Astros II para atender solicitações do Iraque de Saddan Hussein — a arma contribuiu para impedir a derrota daquele país para o Irã.

O que há em comum nos fatos acima? Em todos, a lei do mercado funcionou de forma inexorável e sempre voltada ao exterior. Essas mesmas leis se impuseram mais ainda com os excedentes da União Soviética e os rearranjos pós-queda do Muro de Berlin, fazendo a indústria brasileira de equipamentos de defesa desaparecer.

Caso do avião tático AMX, desenvolvido e produzido em conjunto com a Itália, que não conseguiu uma única venda internacional. Agora, um dos pilares da Estratégia Nacional de Defesa (END), estabelecida em 2008, é recuperar a indústria brasileira como fornecedora das Forças Armadas Brasileiras e competidora do mercado internacional.

Para isso, o Ministério da Defesa requer generosas porções de transferência de tecnologia em acordos recém estabelecidos ou em vias de serem estabelecidos (helicópteros, submarinos e os prováveis caças do Programa F-X2). O desafio para essa incipiente indústria nacional é desenvolver tecnologia própria ou internalizar a tecnologia obtida de estrangeiras, criar núcleos que possam agregar conhecimento.

Mas o desafio maior é obter mercado (interno ou externo?). Ainda mais quando o principal consumidor, o Pentágono (EUA), sinaliza que reduzirá suas compras e quando surge no horizonte um competidor formidável: a China. O país asiático, afastado muitos anos da cena internacional, por problemas internos e de reorganização de sua indústria de defesa, entra inclusive no mercado latino-americano. A China fornece carros de combate ao Peru e aviões de treinamento e radares à Venezuela.

Nesse ambiente, a indústria brasileira e as Forças Armadas aguardam com ansiedade a definição do Palácio do Planalto aos planos de modernização apresentados para se adequar às demandas da END. Decisão mais importante para as Forças e a renovada indústria de defesa que a tão debatida e esperada decisão sobre o Programa F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB). Os desafios para essa incipiente indústria brasileira de defesa são inúmeros. E ela precisará de muito crédito e, em especial, de encomendas no mercado internacional.”

FONTE: escrito por Nelson Düring, Editor-chefe do site “Defesa@Net”.

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