sexta-feira, 25 de novembro de 2011

FÍSICO DEFENDE A ENERGIA NUCLEAR

Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (Angra dos Reis)

"A ENERGIA NUCLEAR É UMA BOA OPÇÃO", defende Rex Nazaré

Da Agência “Dinheiro Vivo”

Por Bruno de Pierro, no “Brasilianas.org”

"Em 1804, a população mundial alcançou um bilhão de habitantes, marca que levou 10 mil anos para ser atingida. Pouco mais de um século depois, em 1927, seriam somadas mais um bilhão de pessoas. Nas décadas seguintes, o crescimento aconteceu rapidamente, e em poucos espaços de tempo, até atingir, neste ano, os sete bilhões de habitantes. A partir de 2012, contudo, a tendência é que o processo desacelere, como ocorre em muitos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Se para atingir a marca atual foram necessários apenas 12 anos - desde os seis bilhões registrados em 2000 -, a expectativa é de que os nove bilhões só sejam alcançados em 2050, num intervalo de 25 anos, contando-se a partir de 2025 – quando serão contadas oito bilhões de pessoas no mundo. No Brasil, a previsão do IBGE é que, a partir de 2030, o crescimento demográfico seja estabilizado. Parte da explicação se deve à estabilidade econômica principalmente de países em desenvolvimento, nos quais foram desenvolvidos efetivos programas sociais de combate à miséria e de distribuição de renda, favorecendo o acesso de milhares de pessoas à classe média e ao consumo.

Esse processo tem sido responsável pelo aumento da demanda por energia elétrica nas residências e, principalmente, nas indústrias. Uma pesquisa realizada pela ‘British Petroleum’ (BP) mostra que, em 2006, países da África, Índia, China e Brasil apresentavam baixo consumo per capita de energia primária. Em 2010, porém, a situação mudou. Houve aumento do consumo per capita de energia, principalmente na China e na região do Mar Cáspio.

Quando as fontes das quais a geração é realizada começarem a acabar, as populações de alta renda terão que procurar isso em algum lugar, e os de baixa renda ou vão ter que arranjar uma forma de gerar energia, ou terão posição de estagnação”, declarou o físico e diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Rex Nazaré, durante o “17º Fórum de Debates Brasilianas.org”, realizado na última semana em São Paulo, pela “Agência Dinheiro Vivo”.

Rex Nazaré: “A energia nuclear é uma boa opção, pois temos combustível"

O pesquisador procurou demonstrar a relação direta entre consumo de energia e pobreza. Atualmente, cerca de 1,4 bilhão de pessoas (mais de 20% da população mundial) não tem acesso à eletricidade e 2,7 bilhões (40%) ainda fazem uso de biomassa tradicional para cozinhar, isto é, lenha.

De acordo com o IBGE, 97,8% dos domicílios brasileiros já tem acesso à eletricidade, sendo 3,8 milhões sem acesso à eletricidade, e 4,5 milhões de pessoas que ainda usam lenha para cozinhar. E são nessas condições, conta Nazaré, que se encontra aumento da mortalidade infantil e da desnutrição.

Por um lado, temos bem-estar empurrando o aumento de consumo, o número de geladeiras e de microondas disponíveis em cada residência; e, ao mesmo tempo, verificamos tendência natural de ter aparelhos de menor consumo, o que, fatalmente, fará com que esse crescimento residencial possa ser menor, proporcionando, entretanto, a mesma melhoria de vida”, explicou o físico, ao destacar que a maior demanda corresponde à indústria.

Depois, Rex Nazaré expôs a evolução das diversas matrizes energéticas no mundo. O petróleo é considerado o maior responsável pela energia primária, seguido pelo gás estabilizado e pela matriz nuclear. Esta, mostrando crescimento nos últimos anos. Na área de consumo de eletricidade, em 1973, o percentual de energia produzida por petróleo era 24,7%; em 2008, registrava-se 5,5%. Enquanto isso, o carvão crescia: de 38% em 1973, para 41% em 2008, mantendo-se, até hoje, como o maior responsável.

De acordo com a ‘Agência Internacional de Energia’ (AIE), em 2007, 87% da matriz mundial era composta por petróleo, gás natural e carvão mineral, restando às fontes renováveis a participação de 13% sobre a oferta. A perspectiva é de que, em 2030, o consumo seja o dobro do atual. Aproximadamente 86% da matriz serão formadas por fontes fósseis e apenas 14% pelas demais. Outros dados da AIE mostram que, na última década, o carvão foi responsável por 47% da oferta de eletricidade, ofuscando as novas matrizes menos poluentes.

Para o pesquisador, apesar de o aumento da demanda por combustíveis fósseis ser um fato, é preciso que outras fontes de energia, como a nuclear, sejam incentivadas a ganhar mais espaço.

Quando se compara o Brasil com o resto do mundo, observa-se que a participação da energia nuclear na geração de energia elétrica [no Brasil] é de 2,8% e, no mundo, de 13,5%. Com relação ao carvão mineral, no Brasil a participação é de 2,3%, enquanto que no mundo é de 41%. A fonte hídrica é a que tem maior participação no país, 84%. No mundo, a representação é bem menor, cerca de 15%. Já o petróleo é de 3,1% no Brasil e 5,5% no mundo; e, por fim, o gás, que no Brasil corresponde a 3,5% e, nos demais países, 21%.

Isso mostra que a solução para nossos problemas deve levar em consideração, primeiro, quais são as reservas e quais são as nossas disponibilidades em termo de fontes”, argumentou Nazaré, completando que é preciso pensar em cenários que dependerão da ação política de governos, do desenvolvimento tecnológico, do preço da energia, do comportamento do usuário e dos planos de eliminação de subsídios em combustíveis fósseis.

Nazaré explicou que o país possui boas condições para a energia nuclear, pois tem área conhecida com reserva bastante grande de urânio. “Temos urânio associado a um conjunto de outras formações, que ainda não são consideradas dentro de nossa reserva”, disse. Em relação à procura do elemento químico, o Brasil tinha a tecnologia de prospecção avançada, mas hoje ela está praticamente reduzida, sendo reservado o domínio sobre a tecnologia de concentração de Urânio.

Segundo o físico, o país não pode manter-se dependente tecnologicamente, o que prejudica a autonomia em combustível. “A energia nuclear é uma boa opção, pois temos combustível. E, em termos de autonomia combustível, estamos numa situação relativamente confortável, melhor do que em uma séria de outras matrizes”, salientou.

FONTE: reportagem de Bruno de Pierro, da Agência “Dinheiro Vivo”, publicada no “Brasilianas.org” e transcrita no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/fisico-defende-a-energia-nuclear#more).

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