domingo, 27 de novembro de 2011

A TECNOLOGIA MILITAR, O BRASIL E A CRISE


Por Luis Nassif

Um dos caminhos mais eficientes para o desenvolvimento tecnológico nacional é o da indústria da defesa.

Nas últimas décadas, centros como os da Marinha, Aeronáutica e Exército foram responsáveis por enormes avanços em várias áreas do conhecimento. A grande vantagem deles é o uso otimizado dos recursos, a objetividade das pesquisas e a capacidade de se associar a instituições civis de pesquisa – prática inaugurada na área nuclear, com a histórica parceria do IPEN (Instituto de Pesquisas de Energia Nuclear) com o IPT.

Dentro do PACTI (Plano de Ação de Ciência Tecnologia e Inovação), foram incluídos cinco projetos estratégicos da defesa:

--Missil ar-ar A-Darter, Aeronáutica em parceria com Avibras, Mectron e Opto Eletronica.

--Fibra precursora para produção de fibra de carbono, Marinha com a Readcifibras.

--Medida de impedância em estruturas eletromagnéticas, da Marinha.

--Família de radares de vigilância, do Exército com a Orbisat.

--Viatura blindada de transporte de pessoal, do Exército com a Iveco.

No balanço do PACTI, há cinco exemplos de projetos bem sucedidos: o radar Saber, os sistemas inerciais, uma turbina aeronáutica de pequena potência, viatura blindada de transporte de pessoal e veículo aéreo não tripulado.

Há problemas ainda a serem resolvidos. Um deles é a necessidade de maior integração entre os centros de pesquisa e desenvolvimento das três Forças, evitando sobreposição de pesquisas. É tarefa para o Ministério da Defesa.

Outro, é a pouca disseminação, para outras áreas do governo, de ferramentas desenvolvidas nesses centros tecnológicos.

Lembro-me de uma visita antiga ao Instituto Militar de Engenharia, logo após as explosões da Casa de Detenção de São Paulo. Lá, existiam protótipos bem sucedidos de sensores capazes de captar um túnel sendo furado a quilômetros de distância; assim como embarcações em rios distantes. Havia veículos não tripulados capazes de sobrevoar áreas em conflito – como o da própria Casa da Detenção – mandando imagens.

Mas eram desenvolvimentos desconhecidos do Ministério da Justiça e das Secretarias de Segurança estaduais.

A grande vantagem da pesquisa militar é a quantidade de ‘spin-offs’ (pesquisas [decorrentes], desmembradas, que servem para outras aplicações [civis e militares]). Nos tempos do grande engenheiro João Verdi, as pesquisas da Avibras tinham gerado sistemas de segurança para transporte de valores, soluções para transporte coletivo etc.

A questão é que ainda persiste desconfiança intrínseca das Forças Armadas em relação às questões orçamentárias e às dissintonias com sucessivos governos em um país que, após a redemocratização, passou por experiências tão díspares como Sarney e Collor, Itamar, FHC e Lula.

O programa de enriquecimento de urânio da Marinha [para aplicação na turbina do propulsor do submarino nuclear]– um dos grandes feitos tecnológicos da história do país – foi feito quase na clandestinidade, devido à descontinuidade orçamentária e às limitações da diplomacia brasileira, que não ousava questionar as imposições da ‘Agência Internacional de Energia’ (AIE).

Com o sigilo que a atividade exige, é hora de os engenheiros e tecnólogos militares saírem da casca e começarem a se articular, não apenas com as grandes instituições de pesquisa civis, mas com as estatais que produzem tecnologia, visando a reconstrução da cadeia produtiva do setor.”

FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif em seu portal  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/brasil-e-a-crise-8-a-tecnologia-militar#more) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]

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