segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A NOVA GEOPOLÍTICA GLOBAL, segundo Wallerstein


UM EIXO PARIS-BERLIM-MOSCOU?

Em reviravolta geopolítica, três potências fortalecem laços energéticos, enfraquecem EUA e China na Ásia e… expõem notável superficialidade da mídia".

Por Immanuel Wallerstein

"Sempre me espanta ver os políticos e a mídia do mundo todo gastar tanta energia debatendo expectativas geopolíticas que não se realizarão, enquanto ignoram grandes acontecimentos em marcha acelerada.

Aqui vai uma lista dos mais importantes não-acontecimentos futuros que têm sido ruidosamente debatidos e analisados: Israel não vai bombardear o Irã; o euro não vai desaparecer; forças externas não estão prestes a entrar em ação militar dentro da Síria; a explosão de inquietações populares pelo mundo não vai se desvanecer.

Enquanto isso, em 8 de novembro, com pouquíssima cobertura séria na imprensa e na internet, o ‘Nord Stream’ foi inaugurado em Lubmin, costa báltica da Alemanha. Estavam presentes o presidente russo Dmitry Medvedev e os primeiros-ministros da Alemanha, França e Holanda, além do diretor da ‘Gazprom’, exportadora russa de gás, e do comissário para Energia da União Europeia. Trata-se de uma virada de jogo geopolítica, ao contrário de todos os discutidíssimos não-acontecimentos que não estão prestes a ocorrer.

O que é ‘Nord Stream’? Em termos bem simples, é um gasoduto construído no leito do Mar Báltico, estendendo-se de Vyborg, próximo a São Petersburgo, na Rússia, a Lubmin, perto da fronteira da Alemanha com a Polônia, sem passar por qualquer outro país. Da Alemanha, pode prosseguir para a França, Holanda, Dinamarca, Grã-Bretanha e outros ávidos compradores do gás russo.

O ‘Nord Stream’ é um arranjo entre empresas privadas com a bênção de seus respectivos governos. A russa ‘Gazprom’ detém 51%; duas empresas alemãs, 31%; uma companhia da França e outra da Holanda ficam com 9% cada. Investimentos proporcionais (e lucros potenciais) são todos privados.

Elemento essencial desse arranjo é o fato de que o gasoduto não atravessa a Polônia nem qualquer país báltico, Bielo-Rússia ou Ucrânia. Por isso, além de não reterem qualquer taxa de transporte que poderiam cobrar, esses países deixarão de aproveitar sua localização intermediária para reter provisões de gás destinadas à Europa Ocidental, enquanto negociam acordos com a Rússia.

A agência de notícias alemã ‘Deutsche Welle’ deu como manchete “Nord Stream: projeto comercial com visão política”. O ‘Le Monde’ estampou o título “Gazprom se estabelece como ator global na área de energia”. Joseph Bauer, expert em energia da área de pesquisa do ‘Deutsche Bank’ em Frankfurt, opinou: “Trata-se de projeto político e também comercial, e faz tanto sentido no nível econômico como no político.”

Enquanto isso, os russos comunicaram aos chineses que não lhes venderão seu gás a preços 30% inferiores aos europeus, dizendo não verem necessidade de que a Rússia subsidie a economia chinesa. E deixaram claro para o Turcomenistão, detentor de imensas fontes de gás natural, que não veem com bons olhos a exportação de gás turcomeno que não passe pela Rússia. O lançamento do ‘Nord Stream’ acontece a poucos dias do anúncio, feito pelo novo presidente do Quirguistão, de que espera fechar a base aérea norte-americana em Manas quando sua concessão terminar, em 2014. Essa base foi crucial para a passagem de suprimentos americanos para o Afeganistão. A Rússia fortalece claramente sua influência sobre as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Tanto o centro-leste da Europa quanto os Estados Unidos vão descobrindo que um esquema para impedir a criação de um eixo Paris-Berlim-Moscou não é viável. Os mecanismos centrais da União Europeia submetem-se a essa realidade, assim como muitos países do centro-leste europeu. Situação mais difícil para a Ucrânia, dilacerada pelo desenrolar desses acontecimentos. E os Estados Unidos? O que de fato podem fazer a respeito?”

FONTE: escrito por Immanuel Wallerstein. Publicado no site “Plano Brasil” com tradução de Paulo César de Mello  (http://planobrasil.com/2011/11/18/um-eixo-paris-berlim-moscow/}. O autor, o sociólogo Immanuel Maurice Wallerstein, nascido em Nova Iorque em 28 de setembro de 1930, é mais conhecido pela sua contribuição fundadora para a "teoria do sistema mundo". Artigo transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-nova-geopolitica-global-segundo-wallerstein#more).

Um comentário:

Probus disse...

Onde a Rússia ganha enfraquecendo a China???

"...Enquanto isso, os russos comunicaram aos chineses que não lhes venderão seu gás a preços 30% inferiores aos europeus, dizendo não verem necessidade de que a Rússia subsidie a economia chinesa."

Eu acho melhor aguardar a próxima gestão do Vlad... Afinal, o MUNDO inteiro SUBSIDIA a economia dos IANQUES MALDITOS através da manutenção do DÓLAR e, não serão um desconto de 30% dos GÁS ao Jiabao um motivo para brigar com ele comercialmente, não será em nada estratégicos, nem bom pra saúde.