“No
Iraque, só a miséria, a analfabetismo e a fome aumentaram nos dez anos de
ocupação norte-americana”
Muthana Abdallah
[Traduzido do árabe ao espanhol por “Al Fanar Traductores”, em “Tlaxcala”: “Un nuevo año y una gloriosa revuelta iraquí”. Traduzido para o português pelo pessoal da “Vila Vudu”]
[Entreouvido na “Vila Vudu”: Aos poucos, se pode
começar a entender por que Dona Hilária Clinton anda com coágulos na cabeça
“entre o crânio e o cérebro”, como “noticiam” as agências internacionais...
pano rápido]
ANO NOVO E UM GLORIOSO LEVANTE NO
IRAQUE
“Parece certo que nosso povo iraquiano
chegou, afinal ao resultado lógico. Einstein ensinava que não há resultados
novos, se as causas se repetem.
Durante os dez anos de ocupação
norte-americana e dos governos que impuseram ao Iraque, falseou-se a vontade de
um povo submetido à mais repugnante lavagem cerebral e de consciência, para
tentar que aceitasse o que lhe era imposto em eleições locais e parlamentares e
no referendo de uma Constituição-bomba; que aceitasse uma representação
sectária, étnica e doutrinária sobre a qual se erigiram as instituições do
Estado e da sociedade.
Apesar do que tenha sempre havido de
temerário nesse projeto, para o destino da nação e o futuro dos iraquianos, o
povo do Iraque esperava chegar a algum resultado que o arrancasse do desespero
e, afinal, visse alguma luz no fim do túnel no qual se via metido, depois que
irmãos e amigos o traíram, separaram-se dele e o converteram em botim a ser
extraído, de qualquer plano que se armasse contra o Iraque.
Se se tivesse aproveitado melhor todo esse
tempo, seria possível melhorar a situação, mas
no Iraque só a miséria, a analfabetismo e a fome aumentaram nos dez anos de
ocupação norte-americana, apesar dos ganhos cada vez maiores para alguns, e
de orçamentos astronômicos, graças ao aumento do preço do petróleo exportado.
O pobre vê-se cada dia mais pobre, o rico,
cada dia mais rico. Essa é a regra da vida diária em todo o Iraque, desde que o poder
foi arrancado do povo por quem se diz representante de seitas, nacionalidades e
religiões, porque os recursos do país estão sendo monopolizados pelos que nos
arrancaram o poder, seus sócios, seus acólitos, os parentes deles. Vivem de
adaptar as leis para que atendam aos interesses deles e para vencer
fraudulentamente licitações e concorrências e contratos com o Estado, nos quais
se leiloa o patrimônio público. E ainda roubam o dinheiro destinado àqueles
projetos. E criaram grandes empórios comerciais, empresariais ou de
representação de empresas árabes ou estrangeiras.
Tudo isso acontece porque não há nenhum
tipo de controle parlamentar – e o
Parlamento deveria ser o verdadeiro representante do povo; ou porque a
Justiça é omissa e nada faz. Os pactos de silêncio perpetuam a corrupção, cuja
única vítima, material e moral, é o cidadão iraquiano.
O desprezo contra os iraquianos e a
especulação contra nosso povo chegaram a níveis indescritíveis. Já cancelaram a
“Carteira de Abastecimento”, que permitia que o cidadão tivesse acesso a alguns
alimentos básicos. A justificativa que o governo apresentou para o
cancelamento, foi que o cancelamento seria indispensável para impedir que
continuasse a corrupção dos que fazem a gestão dos contratos de compra de
alimentos no atacado. Quer dizer: em vez
de castigar os culpados, castiga-se o cidadão, que acaba privado do próprio
pão.
Dada a destruição do Estado, a ausência de
qualquer sistema judiciário e a absoluta falta de coordenação entre os atuais
governantes, sempre em luta entre eles, porque os diferentes grupos representam
interesses regionais e internacionais, surgiram no Iraque novas autoridades e
dirigentes religiosos e tribais. E, aproveitando-se da falta absoluta de
qualquer segurança e porque os cidadãos veem-se obrigados a proteger, cada um,
a sua propriedade, milícias armadas controlam as ruas e os bairros e,
esgrimindo essa falta absoluta de segurança pública, chantageiam os cidadãos
para que votem neles e os elejam; e assim, vão-se instalando no poder.
Alguns dirigentes tribais, uma vez
instalados no poder, convertem-se em braços executores dos governantes,
glorificando o governo, tanto quanto desfrutando das dádivas que recebem em
paga pelos seus ‘serviços’. Também já surgem dirigentes religiosos que se
aliaram ao poder, para glorificar valores religiosos, aparecendo frente às
câmeras de televisão como mais interesse aos governantes, quando não estão
assassinando crentes de outras seitas, ou violando mulheres prisioneiras deles.
Esses dirigentes, que integram as comissões de investigação, existem não para
investigar, mas para ocultar os crimes de guerra uns dos outros e conceder
indultos a criminosos conhecidos. O cidadão, assim, está completamente
desprotegido.
Nessa situação, resta ao povo enfrentar de
peito aberto toda a vergonha, a humilhação, a morte, os êxodos, as violações,
apoiando-se nas verdadeiras forças da nação, nos símbolos religiosos e tribais
honrados – que em momento algum deram
trégua nem às forças norte-americanas de ocupação, nem aos governos que
impuseram ao Iraque, os mesmos símbolos religiosos e tribais honrados que
fizeram de servir à nação iraquiana e aos iraquianos a sua estratégia de
resistência, desde 2003 até hoje.
Desde o momento em que os EUA invadiram o Iraque, o tempo parou para
o povo iraquiano. O passar dos anos nada significa, porque dia e noite são
iguais e hoje é igual a ontem. Só a tragédia aumenta dia a dia, com os
iraquianos sofrendo, tanto a injustiça fardada e dos partidos políticos, como a
injustiça institucionalizada nos aparelhos do Estado e nos altos mandatários,
que atuam sob a proteção da nova Constituição das novas leis.
Até nos piores momentos, na época das
sanções, os iraquianos sonhamos com algum futuro; acreditávamos que os
sofrimentos terminariam. Hoje, descobrimos que perdemos o presente e o futuro
sob a violência da ocupação e suas autoridades impostas, que, de fato,
estabeleceram no Iraque uma alternância de poder entre grupos políticos que não
acreditam nos direitos do povo, e passaram a mão nos recursos e nas riquezas do
país, para pô-los a serviço de um setor minoritário.
A marginalização, o desenraizamento, o
isolamento, a exclusão contribuíram muito para o sentimento generalizado na
população do Iraque, de que, aqui, os cidadãos não são todos iguais em direitos
e deveres, o que gerou o clima necessário para que surja a revolta: o cidadão
que nada tem, nada pode perder. A agressão constante e repetida contra os
cidadãos iraquianos: perseguições,
corrupção, discriminação etc, acabaram por fazer eclodir o levante na província Al Anbar, que já começa a alastrar-se até
Saladino e Mosul.
Isso implica que a população começa a
conscientizar-se sobre o que lhe cabe fazer para pôr fim à situação atual,
porque se nega a continuar submetida às autoridades governamentais, a partidos
sectários e a milícias que paralisam o desenvolvimento em todos os espaços da
vida.
É levante saudável e valente, porque visa a
pôr fim à injustiça e a assegurar dignidade para todos. O fato de os
protagonistas da revolta insistirem em que nada têm a ver com nenhum dos atuais
partidos políticos, grupos ou seitas, é mostra de que têm consciência do que
fazem.
São conscientes, em primeiro lugar, de que
todas as forças políticas que participam no sistema, embora pertençam ao
entorno social, contribuíram para o empobrecimento do país e a perseguição
cidadãos e enriqueceram à custa do sofrimento do povo.
Em segundo lugar, os protagonistas das
revoltas são conscientes de que a etapa pela qual o país está passando, não
exige longos debates sobre a forma de governo ou sobre a natureza do sistema
político; e exite, isso sim, governo transparente, capaz de garantir alguns
mínimos serviços econômicos, sociais, educacionais e de segurança pública – governo capaz de combater a pobreza e de pôr
fim às violações de Direitos Humanos básicos.
Todos os iraquianos veem com clareza que o
poder atual e as forças políticas que o sustentam são incapazes de oferecer
qualquer serviço público real, porque nasceram do útero de uma crise política
que partilhou cargos em função da força relativa de cada grupo, não com vistas
a oferecer algum serviço a algum cidadão iraquiano. Os cargos públicos servem,
unicamente, para reforçar e financiar a força política à qual serve um ou outro
e se converte em trincheira de luta contra todas as demais forças políticas – e
contra o povo. Nada disso ajuda a desenvolver qualquer sentimento de
responsabilidade pública, sequer em face do próprio cargo de cada um e, além do
mais, torna os políticos impotentes para convencer os cidadãos de que o Estado
é o Estado dos cidadãos.
O Estado no Iraque perde qualquer legitimidade
– se é que algum dia teve alguma legitimidade – razão pela qual os levantes populares assumem responsabilidade legítima
e legal.
As autoridades não vão analisar o que
fazem, porque o destino delas e o modelo em que vivem, de corrupção e riqueza,
está em jogo. Cabe esperar, portanto, que utilizem contra o povo todo o
aparelho do Estado e seus recursos, para influenciar, primeiro, os cabeças dos
levantes, servindo-se, em primeiro lugar, da força e da repressão contra grupos
de cidadãos. Em segundo lugar, utilizarão as forças políticas e as
personalidades religiosas e tribais próximas e dependentes do poder, mas que
pertencem ao mesmo tecido social dos manifestantes, para tentar minar ‘'por
dentro'’ as manifestações e dispersar os cidadãos mobilizados, tentando obter
que renunciem às suas demandas autênticas. Foi exatamente o que aconteceu
quando enviaram al-Mutlaq a Saleh, para convencer os manifestantes a porem fim
aos protestos, mesmo sem terem obtido qualquer resposta a qualquer das
reivindicações populares.
Aconteça o que acontecer, a situação não
voltará a ser o que foi. A data do levante no Iraque será um ponto de inflexão
entre o passado e o que está por acontecer.
A responsabilidade por dar proteção aos
cidadãos protagonistas do levante do Iraque, e de ressaltar o valor histórico
dessa ação heroica é dever absoluto de todos os intelectuais, escritores e
jornalistas árabes e locais, para que o levante se estenda a outras praças de
outras províncias, cidades e vilarejos do Iraque, até se converter em revolta
geral, transformar-se em ação histórica que ponha de pé o Iraque e os
iraquianos e devolva ao país sua unidade nacional.”
FONTE: escrito por Muthana Abdallah. Traduzido
do árabe ao espanhol por “Al Fanar Traductores”, em “Tlaxcala”: “Un nuevo año y una gloriosa revuelta iraquí”. Traduzido para o português pelo "pessoal da Vila Vudu”. Castor Filho no blog
“Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/01/ano-novo-e-um-glorioso-levante-no-iraque.html) [Imagem do google adicionada por este blog
‘democracia&política’].
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