Estação Espacial Internacional (em órbita sobre o Mar Mediterrâneo e o Estreito de Gibraltar)
Por
Marcelo Gleiser
Minidocumentário incrível se inspira na transformação pela qual passam
os que veem a Terra do espaço
"Me
lembro da decolagem, que é uma experiência inesquecível. Os motores foram
desligados e me senti sem peso. Flutuei até a janela e vi que estávamos sobre a
costa da África. Foi então que entendi que estava no espaço. Fiquei
incrivelmente excitado pois era algo que queria fazer desde que tinha seis anos
de idade."
Esse
depoimento, do astronauta americano Jeff Hoffman, que tripulou o ônibus
espacial, faz parte de um minidocumentário incrível, inspirado no chamado
"efeito visão total", sugerido pelo escritor Frank White em 1987 para
descrever a profunda transformação emocional que astronautas sentem ao olhar
para a Terra do espaço.
(Em inglês, chama-se "overview
effect", que se traduz mal para o português. Escolhi "visão
total" pois faz referência ao cerne do efeito, a visão total da Terra.)
Eis o link do vídeo que sugiro a todos, mesmo se não souberem inglês: http://vimeo.com/55073825.
"Você começa com uma expectativa do que vai
ver, mas nada se compara ao que é visto de fato. É tão mais bonita do que você
imagina, essa coisa dinâmica, brilhante, cheia de vida... É o nosso
poema," disse Nicole Stott, astronauta da Estação Espacial
Internacional.
"As luzes das cidades, a linha separando
noite e dia, estrelas cadentes passando abaixo da gente, as auroras dançando
nos céus, as tempestades e os raios subindo e descendo... Tudo ao mesmo tempo,
passando rápido pela espaçonave, tão difícil de descrever," disse
outro.
Edgar
Mitchell, que ficou em órbita em torno da Lua numa missão Apollo enquanto seus
companheiros estavam no solo, descreve como via a Terra, o Sol e a Lua passando
a cada dois minutos e como o estudo da astronomia e da cosmologia- que lhe ensinaram como toda essa matéria,
incluindo a nossa, veio de estrelas que explodiram bilhões de anos atrás e como
toda a matéria tem os mesmos átomos- deu-lhe um profundo sentido de união
com a totalidade do Cosmos.
Em
todos os depoimentos, se vê profunda reverência com o nosso planeta, uma emoção
primal que remete os que a sentem a um estado de transcendência em que o
"eu" deixa de ser importante, e o que existe é o coletivo.
Os
astronautas da Estação Espacial Internacional, em especial, passam a maior
parte de seu tempo livre olhando para a Terra, observando seus detalhes em um
estado contemplativo que só pode ser descrito como espiritual. Uma coisa é
estar aqui, no meio da confusão, das vozes e luzes, do crime, das disputas e
guerras. Outra é ver tudo de longe, como uma entidade única, o peixe que
vislumbra o oceano como um todo e entende de onde vem.
O
"efeito visão total" traz uma compreensão da profunda unidade entre a
Terra e a vida nela, um planeta azul viajando pelo espaço, uma espaçonave ele
também, um organismo vivo e profundamente frágil.
Pensar
que o manto que protege a vida na Terra, a atmosfera, é fino como a casca de
uma maçã e que, sem ele, não poderíamos sobreviver. De longe, os astronautas
veem o impacto negativo da nossa presença. E temem pelo futuro do planeta e da
nossa espécie. A Terra, vista como um todo, é o símbolo da nossa era. E a
necessidade imperativa de sua preservação deveria ser o nosso mantra.”
FONTE: escrito por
Marcelo Gleiser, professor
de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de
"Criação Imperfeita". Publicado na “Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/88255-ode-ao-planeta.shtml) [Imagem do google e sua legenda adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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