Por Antonio Delfim Netto
“Finalmente, baixou o pano da
tragédia penosamente esperada. A taxa de crescimento do PIB em 2012 foi de
apenas 0,9%. Todos erramos feio.
A única honrosa exceção foi a
competente e corajosa convicção da equipe de análise econômica do “Credit
Suisse Brasil”, que foi duramente criticada na ocasião. Para provar isso, basta
lembrar as previsões do setor financeiro expressas no boletim "Focus"
da primeira semana de 2012: previsão do PIB: 3,3%; previsão da inflação: 5,31%.
Mesmo depois do desastre anunciado
pelo crescimento com ajuste sazonal do PIB de 0,1% entre o primeiro trimestre
de 2012 e o último de 2011 e de 0,3% entre o segundo e o primeiro trimestres de
2012, o mercado ainda projetava o seguinte (na
primeira semana de julho, segundo o boletim "Focus"): previsão do
PIB: 2,01%; previsão da inflação: 4,85%.
É hora de virar a página e aceitar
que o acréscimo de 0,9% (estagnação do
PIB per capita), com uma taxa de inflação de 5,8%, revelou velhos problemas
estruturais e institucionais -alguns dos
quais começam a ser atacados pelo governo.
Há, entretanto, um excesso de
pessimismo no ar, agora mais estimulado pela lamentável antecipação da campanha
eleitoral. Ela introduz um viés político na análise que dificulta o acordo sobre
o que se deve fazer para recuperar um crescimento mais robusto sem pressionar a
taxa de inflação.
Mas há esperança. Os números
sugerem, pela primeira vez nos últimos trimestres, o início de recuperação na
formação bruta de capital fixo e o fim do ciclo dos estoques acumulados em
2010, o que pode ser mudança significativa. Eles também revelam crescimento
lento, firme e consistente do PIB de cada trimestre sobre o anterior (com
ajuste sazonal): 4º trimestre 2011: 0,1%; 1º trimestre 2012: 0,1%; 2º trimestre
2012: 0,3%; 3º trimestre 2012: 0,4%; 4º trimestre 2012: 0,6%.
O PIB já está rodando em torno de
2,4% ao ano. Pois bem, se, nos quatro trimestres de 2013, a taxa do trimestre
contra o anterior permanecer no intervalo de 0,65% a 1%, o que parece factível
diante da orientação mais amigável do governo em relação ao setor privado e
recentes medidas facilitadoras do crédito, o crescimento do PIB poderá ficar
entre 3% e 4%. A nossa saída da crise de 2008, que parecia um “V”, está mais
para um “W”.
O que surpreende não é essa
possibilidade. É o aparente conformismo da sociedade brasileira com o baixo
crescimento que vimos registrando desde o Plano Real (1996-2012) o que se vê: crescimento do PIB: 2,95%; taxa de inflação:
6,48%. Já consumimos quase 1/4 do ano de
2013, mas ele ainda não está escrito nas estrelas: será o que, em cooperação, governo e setor privado souberem e fizerem
dele!”
FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto
no jornal tucano, de oposição, “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/97044-conformismo.shtml [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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