Capa do livro de Marcelo Fernandes
“A política econômica baseada no câmbio fixo possui limitações que ficaram muito evidenciadas nos anos 1990, a tempo de muitos países readaptarem seus modelos, suavizando os efeitos da crise de 2008 na América Latina. A “ancoragem cambial” é um dos temas centrais do livro “Regime Cambial e Desempenho Macroeconômico: A Experiência da Argentina, México e Brasil nos Anos 90”, da autoria de Marcelo Pereira Fernandes.
Por Christiane Marcondes
Professor adjunto da Universidade Federal Rural (UFRRJ), especialista em Economia Política Nacional e Internacional, Marcelo faz, na obra, uma retrospectiva crítica da política econômica das duas últimas décadas na América Latina e no mundo, avaliando o impacto do neoliberalismo na crise de 2008 e a coincidência de estratégias adotadas pelos três países em foco no livro.
“É impressionante a semelhança dos discursos dos respectivos ministros das fazendas quanto aos rumos que seu país estava atravessando. Algo muito próximo da fé”, avalia Fernandes, em entrevista exclusiva ao portal “Vermelho”.
Acompanhe a seguir:
Vermelho - Por que você escolheu México, Argentina e Brasil? O que esses três países têm em comum?
Marcelo Pereira Fernandes (MPF) - São as três maiores economias da região e as três utilizaram a mesma estratégica de política cambial, a chamada “ancoragem cambial” como forma de se inserir na nova ordem internacional que iniciava com o fim da guerra fria. O Brasil começou um pouco atrasado por causa do fracasso do governo Collor. Voltou ao “rumo” com o plano Real. A questão é que, a política de “ancoragem cambial” com “abertura financeira” fez com que as três economias caíssem na mesma armadilha: em um primeiro momento, aumentos significativos dos influxos de capitais que valorizam a taxa de câmbio. A valorização do câmbio provocou déficits em transações correntes e aumento do passivo externo. Com o tempo, os investidores começam a duvidar da capacidade do país manter seus pagamentos externos e aí vem a crise. E tudo isso a que custo? Com exceção da inflação que foi controlada nos três países, o desempenho macroeconômico foi pífio. Não por acaso, a Argentina, que permaneceu mais tempo nesse modelo (1991-2001), foi a que suportou as consequências mais nefastas sobre sua economia. Outra coisa impressionante é a semelhança dos discursos dos respectivos ministros das fazendas quanto aos rumos que seu país estava atravessando. Algo muito próximo da fé.
Vermelho - Como é a relação dessas crises nos anos 1990 com a implantação do modelo neoliberal?
MPF - As crises dos anos 1990 na América Latina e a implantação do modelo neoliberal estão fortemente relacionadas. Aqui, o discurso neoliberal encontrou terreno fértil. Palavras como “desregulamentação” e “privatização” entraram na moda. Quem ousava falar em “desenvolvimento nacional” era ridicularizado. Diga-se de passagem, os principais meios de comunicação foram fundamentais na propagação dessas idéias. Então, com a volta do financiamento externo no começo dos anos 1990 resolveu-se utilizar a “ancoragem cambial” como forma de resolver o problema da inflação. Imaginaram que bastava controlar a inflação que o resto o mercado cuidava.
O problema é que a política de “ancoragem cambial” torna o país extremamente vulnerável. O Brasil, durante o período em que permaneceu nesse modelo (1994-1998), sofreu os impactos de todas as crises internacionais até ser obrigado a abandonar a “ancoragem cambial” em janeiro de 1999.
Vermelho - Qual o reflexo da década de 1990 na América Latina de hoje e como você vê a ação dos governos desses países para que não repitam os mesmos erros?
MPF - A atual crise financeira internacional teve uma peculiaridade interessante na América Latina: pela primeira vez, os países da região pouco sofreram quando comparado com as experiências do passado. Com exceção do México, os demais países se saíram relativamente bem. Não houve quedas de presidentes, nem desvalorizações cambiais descontroladas. Porém, infelizmente, o Brasil permitiu uma valorização excessiva da taxa de câmbio nos últimos anos. Os efeitos já se fizeram sentir nas contas externas: o país está com déficits em transações correntes e a previsão é que se mantenha nos próximos anos. Evidentemente, a situação é melhor do que na década de 1990. O país precisa pensar em projetos de longo prazo. Mas isso só é possível com uma política macroeconômica condizente que significa câmbio desvalorizado, queda dos juros e controles de capitais.”
Serviço: “Regime Cambial e Desempenho Macroeconômico: A Experiência da Argentina, México e Brasil nos Anos 90”
Autor: Marcelo Pereira Fernandes
Prefácio: Carlos Augusto Vidotto, Secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento e Professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ).
Editora: Paco Editorial
Área/Assunto: Economia
http://loja.livrariadapaco.com.br/regimecambial.htm
SINOPSE:
"As graves crises na América Latina e na Ásia nos anos 1990 liquidaram a preferência pelo câmbio fixo. Todo regime cambial na moda é considerado bom até que uma situação muito difícil provoque sua ruptura e evidencie suas limitações. Na América Latina, houve diversas modas e esse livro trata de uma delas, a “ancoragem cambial”. Marcelo Fernandes analisa as vicissitudes desse modelo na Argentina, no Brasil e no México. Em grande esforço de detalhamento e de síntese, destaca as questões comuns e as peculiaridades que assumiu em cada país. É leitura relevante sobre os desafios de definir o regime de câmbio em países que não têm moeda conversível - proteger contra choques adversos e tirar proveito do quadro externo. O atual regime de “câmbio flutuante com meta de inflação” contou com o quadro favorável dos últimos anos. A crise de 2008 foi um tremendo choque, mas a rápida retomada da liquidez e dos preços das commodities trouxe de volta o cenário positivo, e também a ameaça de valorização cambial persistente. Esse livro ajuda a lembrar que houve momentos assim também nos anos 1990, quando o regime de “ancoragem cambial” parecia a muitos o mais adequado para enfrentar turbulências externas".
(Sinopse por Carlos Eduardo Carvalho, economista, professor da PUC/SP).
FONTE: escrito por Christiane Marcondes e publicado no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=173248&id_secao=2). [imagem do Google (bandeiras) adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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