Por Saul Leblon
“Não é mera figura retórica dizer que o ‘conservadorismo’ [PSDB/DEM/PPS/Mídia] quer trazer a crise mundial para dentro do Brasil.
Cada vez mais desinibidos, formuladores do pelotão mercadista não escondem a admiração pelo que se passa em uma Europa açoitada por 19 milhões de desempregados.
Ou nos EUA.
No ritmo atual de geração de vagas, serão necessários dez anos para a economia norte-americana recuperar o patamar de emprego pré-crise.
Reconhecido pelo FMI como a nação que mais reduziu o desemprego em pleno colapso mundial, o Brasil avulta como a ovelha negra do padrão.
O pleno emprego vivido aqui impede que os ganhos de produtividade se façam pelo método tradicional de compressão dos holerites.
A ‘purga’ de desemprego e arrocho é a alternativa da ‘ciência’ conservadora para devolver ‘eficiência’ à indústria e moderação aos preços.
Em duas intervenções nas últimas horas, a Presidenta Dilma marcou posição ao afirmar:
a) ‘não faz parte dos nossos planos de governo promover desemprego’, alfinetou;
b) ‘’temos que adicionar competitividade à produção, mas sem mexer em direitos, nem em salários’, retrucou em menção às desonerações concedidas às folhas de pagamento.
O problema é real.
Ao resistir à ‘destruição criativa’ promovida urbi et orbi pela maior crise do capitalismo desde 1929, o Brasil tornou-se, de fato, um paradoxo.
De um lado, carrega um trunfo social vibrante.
Enquanto a renda do trabalho e a dos mais pobres esfarela em boa parte do mundo, vive-se o inverso aqui.
Entre 1960 e 2000, a fatia do trabalho na renda nacional havia recuado de 56,6% para 40%.
Em 2009, inverteu a marcha, tendo alcançado então 43,6% do bolo.
Entre 2004 e 2010, essa participação cresceu 14,4%.
Em grande parte, segundo o IPEA, por conta do ganho real de poder de compra do salário mínimo, que cresceu 70% entre 2003 e 2012.
A síntese: entre 2001 e 2011, os 10% mais pobres da população tiveram um crescimento de renda acumulado de 91,2%.
A parcela mais rica ficou com um ganho acumulado da ordem de 17%.
Na 2ª feira, o governo Dilma anunciou mobilização geral de ministérios e prefeitos. Para rastrear 700 mil famílias mais pobres, ainda não incluídas em programas sociais que tiraram mais de 22 milhões da miséria, só nos últimos dois anos. E mais de 40 milhões no ciclo Lula.
Nas economias ricas, dá-se o inverso.
Desemprego, informalidade e empobrecimento promovem transferências maciças de renda e riqueza dos mais pobres para os mais ricos.
Com requintes.
A mais-valia absoluta está de volta.
São comuns políticas de corte salarial puro e simples. Ou de congelamento, associado à ampliação da jornada de trabalho.
Mais de 120 milhões de pessoas engrossam o contingente da pobreza hoje na Europa.
No total, 24% dos europeus não tem renda para sustentar necessidades básicas, entre as quais, alimentar-se.
Nos EUA, 47,5 milhões vivem com menos de 2 dólares por dia. O número dobrou em pleno fastígio neoliberal nos últimos 15 anos. Na crise, consolidou uma legião do tamanho de uma Argentina, [legião] que não consegue assegurar um prato de comida sem ajuda do Estado.
Não é difícil imaginar a irradiação dessa espiral regressiva nos salários, na fragilização dos sindicatos e na predação de direitos.
Os custos do fator trabalho recuam celeremente nos países ricos.
O investimento por homem/hora rende mais.
A produtividade das novas tecnologias injeta maior capacidade de concorrência às exportações manufatureiras.
O conjunto reposiciona os fluxos de comércio, as cadeias de produção e a renda no planeta.
25% do consumo atual de manufaturados no Brasil tem origem em mercadorias importadas.
O déficit comercial específico nessa área atingiu quase US$ 100 bilhões em 2012.
Em 2006, a conta era superavitária.
Como uma espécie de drone do capital, a crise faz o serviço por lá.
Em detrimento do trabalho e das nações em desenvolvimento.
Um ataque fulminante, invisível, eficaz e silencioso.
Desde 2008, o radar social do Estado brasileiro procura evitar que os mesmos artefatos invadam os céus do país com sua lógica.
Mas eles furaram o bloqueio pelo canal do comércio exterior.
Uma parte da distribuição de renda promovida desde 2003 vaza para os mercados ricos, gerando empregos e lucros por lá, através das importações.
A solução 'conservadora' [PSDB/DEM/PPS/Mídia] é ventilada diuturnamente na mídia que a ecoa: o Brasil precisa de um choque de juros e desemprego; abertura comercial ampla e livre cambismo para desmantelar a couraça social que o impede ser competitivo e eficiente.
Cada vez mais desinibidos, formuladores do pelotão mercadista não escondem a admiração pelo que se passa em uma Europa açoitada por 19 milhões de desempregados.
Ou nos EUA.
No ritmo atual de geração de vagas, serão necessários dez anos para a economia norte-americana recuperar o patamar de emprego pré-crise.
Reconhecido pelo FMI como a nação que mais reduziu o desemprego em pleno colapso mundial, o Brasil avulta como a ovelha negra do padrão.
O pleno emprego vivido aqui impede que os ganhos de produtividade se façam pelo método tradicional de compressão dos holerites.
A ‘purga’ de desemprego e arrocho é a alternativa da ‘ciência’ conservadora para devolver ‘eficiência’ à indústria e moderação aos preços.
Em duas intervenções nas últimas horas, a Presidenta Dilma marcou posição ao afirmar:
a) ‘não faz parte dos nossos planos de governo promover desemprego’, alfinetou;
b) ‘’temos que adicionar competitividade à produção, mas sem mexer em direitos, nem em salários’, retrucou em menção às desonerações concedidas às folhas de pagamento.
O problema é real.
Ao resistir à ‘destruição criativa’ promovida urbi et orbi pela maior crise do capitalismo desde 1929, o Brasil tornou-se, de fato, um paradoxo.
De um lado, carrega um trunfo social vibrante.
Enquanto a renda do trabalho e a dos mais pobres esfarela em boa parte do mundo, vive-se o inverso aqui.
Entre 1960 e 2000, a fatia do trabalho na renda nacional havia recuado de 56,6% para 40%.
Em 2009, inverteu a marcha, tendo alcançado então 43,6% do bolo.
Entre 2004 e 2010, essa participação cresceu 14,4%.
Em grande parte, segundo o IPEA, por conta do ganho real de poder de compra do salário mínimo, que cresceu 70% entre 2003 e 2012.
A síntese: entre 2001 e 2011, os 10% mais pobres da população tiveram um crescimento de renda acumulado de 91,2%.
A parcela mais rica ficou com um ganho acumulado da ordem de 17%.
Na 2ª feira, o governo Dilma anunciou mobilização geral de ministérios e prefeitos. Para rastrear 700 mil famílias mais pobres, ainda não incluídas em programas sociais que tiraram mais de 22 milhões da miséria, só nos últimos dois anos. E mais de 40 milhões no ciclo Lula.
Nas economias ricas, dá-se o inverso.
Desemprego, informalidade e empobrecimento promovem transferências maciças de renda e riqueza dos mais pobres para os mais ricos.
Com requintes.
A mais-valia absoluta está de volta.
São comuns políticas de corte salarial puro e simples. Ou de congelamento, associado à ampliação da jornada de trabalho.
Mais de 120 milhões de pessoas engrossam o contingente da pobreza hoje na Europa.
No total, 24% dos europeus não tem renda para sustentar necessidades básicas, entre as quais, alimentar-se.
Nos EUA, 47,5 milhões vivem com menos de 2 dólares por dia. O número dobrou em pleno fastígio neoliberal nos últimos 15 anos. Na crise, consolidou uma legião do tamanho de uma Argentina, [legião] que não consegue assegurar um prato de comida sem ajuda do Estado.
Não é difícil imaginar a irradiação dessa espiral regressiva nos salários, na fragilização dos sindicatos e na predação de direitos.
Os custos do fator trabalho recuam celeremente nos países ricos.
O investimento por homem/hora rende mais.
A produtividade das novas tecnologias injeta maior capacidade de concorrência às exportações manufatureiras.
O conjunto reposiciona os fluxos de comércio, as cadeias de produção e a renda no planeta.
25% do consumo atual de manufaturados no Brasil tem origem em mercadorias importadas.
O déficit comercial específico nessa área atingiu quase US$ 100 bilhões em 2012.
Em 2006, a conta era superavitária.
Como uma espécie de drone do capital, a crise faz o serviço por lá.
Em detrimento do trabalho e das nações em desenvolvimento.
Um ataque fulminante, invisível, eficaz e silencioso.
Desde 2008, o radar social do Estado brasileiro procura evitar que os mesmos artefatos invadam os céus do país com sua lógica.
Mas eles furaram o bloqueio pelo canal do comércio exterior.
Uma parte da distribuição de renda promovida desde 2003 vaza para os mercados ricos, gerando empregos e lucros por lá, através das importações.
A solução 'conservadora' [PSDB/DEM/PPS/Mídia] é ventilada diuturnamente na mídia que a ecoa: o Brasil precisa de um choque de juros e desemprego; abertura comercial ampla e livre cambismo para desmantelar a couraça social que o impede ser competitivo e eficiente.
As intervenções recentes da Presidenta Dilma reiteram um caminho inverso.
É possível interromper a sangria com redução de juros, incentivos, desonerações, educação, protecionismo e ajuste do câmbio, como tem sido feito.
É imprescindível a coordenação do Estado para sintonizar a repactuação de um novo ciclo sob a égide do interesse coletivo, ao contrário da receita ortodoxa que atribui a tarefa da 'eficiência' à purga livre mercadista.
É indispensável que tudo isso assuma a forma de um calendário público de resultados e contrapartidas, a serem cobrados dos setores beneficiados.
Mas, acima de tudo, e exatamente por isso, é preciso politizar a discussão dos dois modelos em disputa.
Dessa conscientização, dependerá o voto progressista nas urnas em 2014.”
FONTE: escrito por Saul Leblon no seu “Blog das Frases” no site “Carta Maior” (http://cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1242). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
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