quinta-feira, 15 de maio de 2014

VARGAS, O FILME




[OBS deste blog 'democracia&política':

"Se já não podes vencê-los, prenda-os".

Ao ler o artigo de Paulo Moreira Leite abaixo transcrito, veio-me à lembrança o que aqui já manifestamos há duas semanas:

Temos assistido nos últimos tempos nova edição do mesmo
golpe tentado pela UDN (hoje DEM/PSDB) contra Getúlio, culminado
com um autoatentado forjado (com morte pré-escolhida de um oficial da Aeronáutica que acompanhava Carlos Lacerda, o porta-voz da direita no Congresso) planejado para transformar a direita em vítima e colocar 
as Forças Armadas a favor do golpe. Teve até o hilariante tiro no pé do líder udenista Carlos Lacerda, nunca comprovado porque ele logo mandou engessar (!?!) o ferimento. 

O slogan da oposição e da mídia eram semelhantes aos até hoje
usados pela direita: tirar Getúlio do poder para "acabar com
a corrupção", "com o mar de lama"
.

Sem menção à "teoria do domínio do fato" recém-usada por Joaquim Barbosa exclusivamente para condenar petistas, também queriam culpar Getúlio sem provas, por domínio do fato.

Queriam acabar com o mito, extirpar da história quem era
amado pelo povo por ter valorizado e beneficiado o trabalhador
(13º, férias remuneradas, CLT etc) e por ter criado a Petrobras
com controle do Estado sobre o petróleo, tirando-o do
controle estrangeiro.

O suicídio de Getúlio impediu a sua prisão e humilhação e
transformou a sua iminente derrota em vitória política.


Comoção popular no enterro de Getúlio.

Depois da morte de Getúlio, a direita somente voltou a usar seu tradicional golpismo contra medidas populares e nacionalistas dez anos depois, em 1964, sob pretextos como o de "evitar a transformação do Brasil em comunista com a ação de operários comandados por Cuba e Albânia".

Agora, 50 anos depois, vemos a mesma velha tática direitista 
de destruir o inimigo via mídia e Justiça partidária.

Sobre o filme, vejamos o artigo seguinte, de Paulo Moreira Leite, diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília]:

Vargas, o filme


[Filme] "Getúlio" apura interesses ocultos de assessores de Vargas, mas nada faz para mostrar a motivação real de golpistas de 1954.

O filme “Getúlio” deve ser visto sob dois ângulos. Como drama humano, é uma obra impecável. Os atores estão muito bem. Drica Moraes faz uma Alzirinha inesquecível e convincente. Tony Ramos faz um bom Getúlio. Você sabe o que vai acontecer na última cena, mas não importa. O filme carrega a emoção até o fim.

O problema é que o filme tenta descrever os últimos dias de Getúlio como uma novela policial, com mocinhos, bandidos, suspeitos, vítimas e culpados.

A crise de 1954, que levou Getúlio Vargas ao suicídio, não nasceu na rua Toneleiros, como sugere o filme. Não foi um tiro na madrugada. Nem seu principal ingrediente era o lado oculto dos assessores presidenciais, suspeitos de envolvimento em atividades condenáveis – que o filme, curiosamente, deixa no ar em vez de esclarecer.

Ignorar fatos políticos é tão complicado como falar da oposição a Luiz Inácio Lula da Silva sem mencionar a política de distribuição de renda de seu governo.

A oposição a Vargas cresceu e se organizou depois que o então presidente decidiu dar um aumento de 100% no salário mínimo, que ficara congelado durante os quatro anos de governo Dutra. Foi aí que nasceu a irritação na classe média tradicional, que estimulou as campanhas entre os militares, calúnias na imprensa – a começar por Carlos Lacerda [então da UDN, hoje DEM-PSDB] – e pedidos de impeachment no Congresso.

Foi ali que nasceu uma “revolução errada”, porque contra o povo, conforme as palavras sábias de autocrítica de José Gregori, que em 1954 era líder estudantil do antigetulismo paulista, mais tarde lutador pelos direitos humanos contra o regime de 64 e ministro da Justiça no governo FHC.

Mas os “trabalhadores do Brasil”, referência obrigatória na política e na retórica de Vargas, são apenas mencionados, uma vez, num discurso, como se fossem isso – palavras num discurso. A lei que garantiu a criação da Petrobras, o maior legado de Vargas, é apenas referida de passagem. E assim por diante.

O filme não explica porque havia tanta vontade de depor um presidente, em vez de respeitar o calendário eleitoral. E nada pode dizer sobre a multidão que saiu as ruas do país inteiro e mudou a história após o tiro no peito.

Você sai do cinema convencido de que se tentou apurar tudo o que se podia sobre os negócios ocultos de Gregório, o chefe da guarda presidencial, apontado como mandante do atentado da rua Toneleiros, onde um major perdeu a vida. Mas pode comprovar, também, que nada se fez para compreender a motivação oculta de Lacerda para conspirar desde sempre contra Getúlio Vargas.

Assim, embora seja um filme “inspirado em fatos reais”, como se diz no início, Getúlio mais esconde do que revela a realidade."


FONTE: escrito por Paulo Moreira Leite, no seu blog na "IstoÉ"  (http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/48_PAULO+MOREIRA+LEITE. 
O autor é diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília; escreveu "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".

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