quarta-feira, 12 de março de 2008

2ª PARTE - O BRASIL E AS GUERRAS MAIS RECENTES DOS EUA

No artigo de ontem (11/3) intitulado “O BRASIL E AS GUERRAS MAIS RECENTES DOS ESTADOS UNIDOS – 1ª PARTE” expressei a necessidade de estender esse assunto. A crise desencadeada pela Colômbia ao invadir militarmente o Equador com o apoio explícito do Presidente Bush fez o assunto “guerra” ficar em evidência e tomar primeiras páginas de jornais e revistas na América do Sul.

Julguei conveniente recordarmos com mais detalhes o comportamento bélico dos EUA nas últimas décadas. É importante essa análise para melhor identificarmos o que é "fantasia anti-americana" e o que é hipótese concreta de conflito neste continente, em futuro próximo, com envolvimento norte-americano.

Contudo, como a abordagem desse tema seria demasiado extensa para somente uma postagem, separarei os artigos em capítulos, que postarei aos poucos.

No “Capítulo 1” tratei do imenso uso militar da mídia pelos EUA, desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Os subtítulos daquele primeiro capítulo foram: “OS EUA E A MÍDIA” e “O TERROR ATÔMICO SUAVIZADO NA MÍDIA”.

Hoje, em continuação, tratarei da guerra dos Estados Unidos contra o Panamá, no final de 1989.

CAPÍTULO 2:

O TERROR NO PANAMÁ POR “JUSTA CAUSA”

Avançando no tempo quarenta e cinco anos, saltando de Hiroshima e Nagasaki (mencionadas no artigo anterior) para outro exemplo nas Américas, temos a “Operação Justa Causa”, executada poucos dias antes do início da década de noventa.

Os EUA atacaram o Panamá à noite, repentinamente, em dezembro de 1989, um mês após a queda do muro de Berlim e cinco dias antes do Natal.

O pretexto oficial norte-americano para aquela violação de todos os princípios de convivência das nações foi, surpreendente e simplesmente, prender o Presidente Noriega, então por eles acusado de ser corrupto e de ter ligações com narcotraficantes (foi levado para os EUA e lá “julgado” e condenado a quarenta anos de prisão).

Para aquele fim, bastaria meia dúzia de agentes da CIA.

Ficou evidente que o objetivo real foi testar em ambiente noturno (e mostrar ao mundo, para também amedrontar) suas novas armas e seu mais moderno sistema de comando, coordenação e controle eletronicamente integrados; e para deixar claro que a América Latina era quintal dos EUA.

Também visavam, com aquela operação, apagar, na prática, os Tratados Carter-Torrijos sobre a devolução do Canal do Panamá aos panamenhos que deveria ocorrer em 2000. Os acordos foram assinados em 1977. Com o fim dos entendimentos antes firmados, os EUA voltariam a garantir, sem maiores concessões aos interesses daquele país da América Central, as ligações entre as costas leste e oeste norte-americanas via canal e a permanência das tropas e bases norte-americanas no Panamá.

Empregaram de surpresa, no bombardeio da capital panamenha enfeitada para o Natal, sem declarar guerra, contra um país indefeso e praticamente sem Forças Armadas, 24.000 soldados superequipados e centenas de aviões de combate moderníssimos, inclusive os caríssimos F-117 “stealth” invisíveis aos radares que nem existiam no Panamá. Aquele ataque ao Panamá custou o equivalente a mais de um bilhão de dólares.

Morreram no ataque mais de quinhentos civis panamenhos (algumas fontes informaram 4.000).

Mesmo considerando-se o número menor (500), morreram duas vezes e meia mais panamenhos do que espanhóis no atentado terrorista em Madri em 11/03/2004, que causou grande trauma, revolta e comoção no Ocidente.

Em prol da democracia, um novo presidente panamenho, Guilhermo Endara, foi logo posto no poder pelos EUA em solenidade dentro de uma barraca militar dos invasores, no dia seguinte à invasão. Pouco tempo depois, em 1993, Endara tinha menos de 10% de aprovação popular. Continuava, todavia, muito bem considerado e amparado pela “Casa Branca”.

O mundo e o Brasil, convenientemente informado pela mídia internacional e nacional bem manipulada, aceitou docilmente e sem alardes aquela benemérita “Operação Justa Causa”, como a batizaram os norte-americanos (com humor negro?). Não houve significativa repercussão negativa. Ninguém se comoveu com as centenas de civis mortos no ataque aos panamenhos.

(Outras guerras dos EUA serão tratadas em futuras postagens)

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