Na postagem imediatamente anterior deste blog, apontamos as nossas suspeitas de que esteja havendo a "manipulação" da nossa grande mídia em prol de interesses norte-americanos (sugiro ler). É mais do que mera suspeita, pois ela foi confessada pelo ex-chefe do FBI no Brasil. Exemplifiquei com um intrigante artigo do editorial da Folha de São Paulo de ontem.
Foi fortemente criticada por aquele órgão da nossa grande imprensa a idéia do governo brasileiro de criar um conselho sul-americano de defesa independente do atual rígido controle e da submissão dos sul-americanos às diretrizes das forças armadas dos EUA nessa área.
A idéia expressa pelo ministro da defesa brasileiro é criar-se um organismo internacional "que possa articular na América do Sul a elaboração de políticas de defesa, intercâmbio de pessoal, formação e treinamento de militares, realização de exercícios militares conjuntos, participação conjunta em missões de paz da ONU, integração de bases industriais de defesa".
Aquelas minhas suspeitas, de que interesses dos EUA direcionaram a Folha de São Paulo a publicar um editorial pregando a manutenção do status quo, foram reforçadas ao ler o muito coincidente editorial do jornal “O Estado de São Paulo” de hoje.
O Estadão (ver artigo abaixo transcrito), também intrigantemente, coloca expressões como: “o grave é propor a criação de um organismo de natureza militar” e “querer diminuir a submissão aos interesses militares dos EUA”. Afirma que isso é uma “arrogância e audácia”, uma arrogância estratégica”, uma “audácia do enfrentamento”, um “arroubo de retórica”. Menospreza e cria aversão à idéia do conselho, provocando a rejeição do leitor dizendo que “os brasileiros foram os últimos a saber”.
O Estadão finaliza com um belo e gratuito (?) elogio aos EUA: “a OEA continua sendo o foro regional provedor de segurança coletiva - e que os Estados Unidos sabem se comportar com discrição numa crise sul-americana.”
Leiamos o artigo do Estadão que, assim como o editorial da Folha de ontem, não somente nas entrelinhas, evidencia a manipulação da nossa grande mídia em prol de interesses dos EUA:
“ARROGÂNCIA E AUDÁCIA”
“A visita do ministro da Defesa a Washington teve ao menos um ponto positivo. Graças à cobertura que a imprensa deu aos encontros do ministro Nelson Jobim com as autoridades norte-americanas, os brasileiros puderam conhecer alguns poucos detalhes do projeto que ele está propondo aos países da América do Sul.
Até então, sabia-se apenas que havia proposto a seus colegas da Argentina e do Chile a criação de um Conselho Sul-Americano de Defesa; que, segundo ele, seria uma realização capaz de mudar o panorama estratégico da região, que passaria a ter influência decisiva nos foros globais; e que todos os países da América do Sul seriam convidados para integrar o organismo.
Num discurso para 14 dos 27 representantes dos países membros da Junta Interamericana de Defesa (JID), o ministro Nelson Jobim decretou que "chega de pensar pequeno. Pensar pequeno significa dependência, significa continuar pequeno. É preciso arrogância estratégica e a audácia do enfrentamento dos nossos problemas, com a coesão dos países da região".
E assim (propõe) um organismo internacional "que possa articular na América do Sul a elaboração de políticas de defesa, intercâmbio de pessoal, formação e treinamento de militares, realização de exercícios militares conjuntos, participação conjunta em missões de paz da ONU, integração de bases industriais de defesa".
A criação de um organismo que cuide disso tudo, compatibilizando as políticas externa, de defesa e industrial de uma dúzia de países tão diferentes quanto o Suriname do Brasil já seria um prodígio. Mas não para o ministro Nelson Jobim.
Tomado de "arrogância estratégica" e "audácia do enfrentamento", ele quer que o tal Conselho seja um órgão "proativo", com capacidade executiva e operacional, para "não ter nossas posições manipuladas por outros grupos e interesses". (Leia-se Estados Unidos.)
Ora, desde que D. Pedro I gritou "laços fora", as posições brasileiras não são manipuladas por quem quer que seja. A frase foi injusta com o próprio governo ao qual o ministro pertence e injuriosa para todos os países da região. Preferimos creditá-la a um arroubo de retórica.
O grave é propor a criação de um organismo de natureza militar - pois é a isso que remete o termo "defesa" - com capacidade executiva e operacional para formular e implementar políticas no plano internacional. Pela ordem jurídica que vige nos países sul-americanos, em tempos de paz, as suas políticas externas são de responsabilidade dos diplomatas, sob supervisão direta do presidente da República, e os objetivos de suas políticas de defesa se subordinam às necessidades da política externa. O projeto do ministro Jobim somente teria sentido se a América do Sul estivesse, unida, em pé de guerra contra um inimigo extra-regional.
Esse projeto encontrará outros obstáculos. O representante da Argentina na JID enunciou um deles. "Como se enquadraria esse órgão numa região onde há possibilidades de conflitos? O que acontecerá quando houver crise entre os países?"
Mas não é preciso considerar essa hipótese extrema. O que se propõe é a criação de um órgão coordenador da defesa - em seu sentido amplo - de todo um subcontinente que não consegue harmonia política suficiente para montar um sistema integrado de comércio. Pior ainda, que há décadas ensaia, sem conseguir realizá-la, a sua integração física na área dos transportes.
A integração da defesa é a última etapa dos processos de integração regional. Envolve, mais que a soberania, a sobrevivência da nação e, por isso, os países relutam em abrir mão de sua autonomia nessa área. A União Européia, por exemplo, até hoje não saiu do estágio inicial da integração militar. Para garantir a sua segurança coletiva, confia, em última instância, na OTAN. Na América do Sul, o Mercosul está estagnado, sem conseguir aplicar sequer a tarifa externa comum e a Comunidade Sul-americana de Nações não passa de uma quimera. Não há, portanto, condições objetivas para a integração militar.
O recente episódio envolvendo a Colômbia e o Equador mostrou que a OEA continua sendo o foro regional provedor de segurança coletiva - e que os Estados Unidos sabem se comportar com discrição numa crise sul-americana. Nessas condições, arrogância e audácia não mudarão a realidade para melhor.”
Não tenho dúvidas. Os editoriais da Folha e do Estadão foram coincidente e contemporaneamente "manipulados" (ou “comprados”) pela Embaixada dos EUA, conforme a prática confessada pelo ex-chefe do FBI no Brasil.
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