Lembro muito bem os martelantes discursos dos nossos governantes (FHC, PSDB, PFL-DEM) e da grande mídia brasileira na década de 90.
Insistiam que deveríamos (a nossa economia, o mercado econômico e financeiro e tudo o mais) deixar de se proteger. Deveríamos abandonar o desejo de se industrializar e de se desenvolver tecnologicamente. Deveríamos passar a lutar no “mercado liberalizado” em igualdade de condições com as potências econômicas mundiais. Aquilo era “o moderno”.
Deveríamos deixar tudo por conta do Deus “Mercado”. Adam Smith, com as suas espertas mãos invisíveis, resolveria todos os eventuais problemas.
Porque, assim, segundo eles, “encontraríamos os nichos de oportunidade e o progresso que nos fosse possível na nova ordem internacional”. “A mágica do mercado solucionaria tudo sozinha, sem intervenção dos Estados”. O Estado deveria ser “mínimo”, “ínfimo”.
Haveria aqui, em conseqüência, segundo eles, “o violento e benéfico choque de competição com produtos importados dos países já desenvolvidos, mais competitivos”.
Omitiam que os países desenvolvidos e ricos assim são competitivos porque melhor protegeram suas indústrias e produtos; e ainda os amparam.
O velho Adam Smith, para Collor, FHC, o PSDB e o PFL, renascia das cinzas, mas somente para nós, brasileiros, argentinos e cucarachas em geral. Não para os EUA e demais grandes potências.
Lendo o que a Folha Online publicou ainda há pouco (14h), constatei que o governo dos EUA amputou hoje as mãos ditas “invisíveis” de Adam Smith. Ele está maneta.
Vejamos a notícia da Agência Associated Press reproduzida pela Folha Online:
“Tesouro dos EUA propõe megaplano de reestruturação do setor financeiro
O governo dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira um megaplano de reestruturação das regras para o setor financeiro. A proposta mudará como o governo americano controla centenas de negócios, desde os maiores bancos do país e bancos de investimentos até o sistema de seguros e hipotecas.
Entre as medidas, a mais importante aumenta os poderes de supervisão do Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA).
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, apresentou o plano com 218 páginas em discurso nesta manhã. Ele afirmou que um sistema financeiro forte é importante não apenas para os negócios em Wall Street, mas também para os trabalhadores americanos.
"A estrutura de nossa regulamentação atual não está pensada para enfrentar o sistema financeiro moderno com seus diversos atores, sua inovação, a complexidade de seus instrumentos financeiros, sua integração mundial", afirmou Paulson.
Segundo ele, o projeto de reforma visa também a eliminar as redundâncias do sistema e a preencher suas faltas, com medidas escalonadas no curto, médio e longo prazo.
A regulamentação atual é, na verdade, um mistura de textos realizada durante diversas crises atravessadas pelos Estados Unidos. A parte mais importante da legislação foi instaurada no dia seguinte à Grande Depressão dos anos 30, mas, como ressaltou Paulson, ela não está mais adaptada a um sistema financeiro extremamente "complexo, globalizado e heterogêneo".
O novo plano vai designar o Fed como "regulador de estabilidade de mercado" e dar poder ao órgão de examinar os livros com todos os aspectos financeiros de qualquer instituição, não apenas bancos, de quebrar sigilos e tomar ações corretivas quando necessário.
Segundo o mencionado na página 22 do documento, obtido pela Associated Press, o plano também vai fundir a Comissão Negociadora de Commodities Futuras e a Agência de Supervisão de Instituições de Poupança (Office of Thrift Supervision).
O projeto de Paulson, cuja administração está na ativa há um ano, pede a criação de três agências reguladoras.
O projeto prevê criar um "regulador financeiro preventivo" para as operações diárias dos bancos americanos e empresas de crédito, em vez de cinco agências que regulam a área atualmente. Prevê ainda montar uma agência de vigilância de empréstimos imobiliários.
A terceira agência vai regular a conduta do mercado e dar proteção ao consumidor, substituindo o que faz hoje a Securities and Exchange Commission (a CVM norte-americana).
A proposta de hoje faz uma revisão completa na regulação do mercado financeiro atual, a mais extensa já feita desde a 1929, quando ocorreu a Grande Depressão da economia dos EUA.
O anúncio ocorre no momento em que o mercado global está contaminado pela maior crise de crédito nos EUA em 20 anos, desencadeada por uma outra crise, a dos empréstimos imobiliários "subprime", aqueles feitos a pessoas com histórico de inadimplência.
O temor de calotes generalizados fez o dinheiro em circulação retrair no país, desacelerando a maior economia do planeta. Isso fez crescer o medo que o EUA caiam em recessão, já que 70% do PIB americano é movido pelo consumo.
Nesse contexto, bancos têm anunciado perdas bilionários e prejuízos, chegando a ser vendidos por preços baixíssimos a concorrentes.”
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