terça-feira, 11 de março de 2008

O BRASIL E AS GUERRAS MAIS RECENTES DOS EUA - 1ª PARTE

INTRODUÇÃO

Nos últimos dias, com a crise desencadeada pela Colômbia ao invadir militarmente o Equador, o assunto “guerra” na América do Sul e com envolvimento dos Estados Unidos (EUA) voltou às paginas de jornais e revistas.

As matérias foram motivadas pelo fato de os EUA estarem militarmente instalados na Colômbia, muito atuantes no uso da força naquela região, e por ter o Presidente Bush, imediatamente, dado o explícito apoio à Colômbia naquela transgressão do princípio fundamental de convivência das nações: a inviolablidade territorial.

A possibilidade de qualquer guerra que envolva o Brasil sempre pareceu improvável para os brasileiros. Até mesmo, muitos na imprensa a consideram uma ridícula fantasia, completamente dissociada da realidade.

Com esses pensamentos, nossas Forças Armadas (FFAA) foram praticamente desmanteladas nos últimos vinte anos. Já descrevemos, em artigo postado em 17 de fevereiro, o ambiente e as pressóes que levaram nossas FFAA à deterioração, à perda de qualquer poder dissuasório.

Enquanto isso, os EUA, mesmo com o fim da “guerra fria”, estão aumentando exponencialmente seus investimentos em armas e avocando poderes que ameaçam todos os países, sem exceção. Até o Brasil.

Já comentamos em outro artigo neste blog o “direito estadunidense de atacar sem avisar, em qualquer país, sempre que lhes seja conveniente ou suspeitem de ameaças aos seus interesses de qualquer natureza”. É a “Pre-emptive War”. Esse “direito” foi estabelecido “democraticamente” pelo Congresso norte-americano, em lei. Portanto, consideram legal.

Também já recordamos neste blog que o ex-chefe do FBI no Brasil no período 1999-2003 declarou que “os EUA sacam da economia mundial o máximo que podem”... “somos 4% da população, mas consumimos entre 45% e 50% da matéria-prima do planeta” (consomem, principalmente, 45% do petróleo do mundo)... “muito em breve, para manter sua hegemonia e padrão de vida, os Estados Unidos terão que lutar diplomática e militarmente” (Entrevista à “Carta Capital”, no 283, de 24/03/2004). E é para “muito em breve”!

Falta pretexto para o Brasil repentinamente vir a ser envolvido em conflito com os EUA? Para nós, brasileiros, o conflito é impensável. Seria uma tragédia. Mas, para os EUA?

Lembremos que, sob a bandeira da luta contra o terrorismo no mundo, os norte-americanos agora tratam de intervenções militares em outros países com a maior naturalidade.

Recordo que o jornal Folha de S. Paulo, em 30/06/2004, noticiou que o Departamento de Defesa dos EUA (DOD) vê "a região da tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai como financiadora de terroristas árabes". Coincidentemente, naquela região situa-se a gigantesca usina de Itaipu, a maior do mundo, fornecedora de mais de 25% da energia elétrica consumida pelo Brasil.

Segundo publicado na imprensa, o DOD chegou a propor uma “ação forte” dos EUA naquela tríplice fronteira. O “Jornal da Band”, na TV Bandirantes, divulgou em 02/08/2004 que, “logo após o atentado de setembro de 2001 em Nova Iorque, o Pentágono propôs à Casa Branca um forte ataque de surpresa ao Brasil e ao Paraguai naquela região, antes de os EUA atacarem o Afeganistão e o Iraque”.

Obviamente, se o Brasil possuísse Forças Armadas com um mínimo suficiente de poder dissuasório, seria um pequeno obstáculo, mas seria, àquela prepotente liberdade de atuação que os EUA se julgam no direito de ter, pelo fato de possuírem muito maior poder militar que todas as nações do mundo. O nosso poder de causar algumas baixas faria eles refletirem mais antes de atacar. Duvido que o Pentágono propusesse ao presidente Bush aquele ataque na tríplice fronteira se tivéssemos Forças Armadas comparáveis às da Índia, ou China, ou França, ou Coréia do Norte, ou a qualquer outro país não desarmado como ficou o Brasil.

Essa atitude dos EUA não é nova. Ela ficou menos disfarçada após o ataque em NY em 11 de setembro de 2001. Sob a bandeira da luta contra o terrorismo no mundo, os norte-americanos passaram a tratar com a maior naturalidade as intervenções militares em outros países sem aviso prévio. Parecem julgar esses atos como um direito quase divino, em nome da “liberdade” e da “democracia”.

Nesse cenário, julgo conveniente recordarmos com um pouco mais de detalhes o comportamento bélico dos EUA para melhor identificarmos o que é "fantasia anti-americana" e o que é hipótese concreta de conflito. Como a abordagem desse tema seria extensa para somente uma postagem, separarei os artigos em tópicos, que postarei aos poucos, classificados em capítulos.

Hoje, o “Capítulo 1” tratará do imenso uso militar da mídia pelos EUA, desde o fim da 2ª Guerra Mundial.

CAPÍTULO 1:

OS EUA E A MÍDIA e O TERROR ATÔMICO SUAVIZADO NA MÍDIA

OS EUA E A MÍDIA

Para encobrir ou abafar seus atos, os EUA sempre utilizaram com muita arte, dinheiro e profissionalismo o forte poder da mídia. Ela tornou-se o maior e mais perigoso instrumento de controle e manipulação. E ainda: sem que a população e a maior parte dos próprios jornalistas isso percebam.

Os objetivos mais capciosos são sempre muitíssimo bem disfarçados com palavras belas e suaves.

No entanto, todos temos que saber, na tal “aldeia global” que dizem ter o mundo se transformado, onde estão o cacique e as bordunas. Isso é duramente relembrado a todos, de vez em quando.

O TERROR ATÔMICO SUAVIZADO NA MÍDIA

Comecemos relembrando que os EUA inauguraram uma era de selvagem terror, em macroescala jamais vista desde o início da raça humana.

Em 1945, com a guerra na Europa já terminada há três meses, e com o Japão praticamente vencido, embora ainda não rendido formalmente por estar tratando detalhes apenas simbólicos da rendição (manutenção da família real), os norte-americanos, em 06/08/1945, subitamente, arrasaram a grande cidade japonesa de Hiroshima, matando de imediato, com apenas uma bomba, cento e vinte mil civis. A seguir, repetiram o morticínio na outra grande cidade de Nagasaki. Nas duas cidades,além de 200.000 pessoas mortas de imediato, outras tantas morreram posteriormente, após longos sofrimentos. Não menores foram a dor e as sequelas dos que sobreviveram. Naquelas cidades não havia sequer um alvo militar relevante.

Aquele massacre não foi “um último recurso de desespero norte-americano para derrotar o Japão”, pois este já havia sucumbido. Foi para aterrorizar o resto do mundo, especialmente para a União Soviética que chegara a Berlim primeiro que os ocidentais. Foi para submeter o mundo pós-guerra pelo pavor.

Demonstraram que tinham o monopólio da bomba atômica e a vontade política de utilizá-la até contra populações civis indefesas. Era a barbárie diabolicamente multiplicada pelo desenvolvimento tecnológico. Até hoje, foi o único povo, felizmente, com essa enorme “coragem” de, em segundos, matar tantos civis inocentes. Uma civilização avançada no campo científico, mas desmedidamente agressiva e julgando-se puritana. A única autocrítica de autoridade dos EUA que já li confessa, simplesmente, que aqueles ataques atômicos foram apenas “desproporcionais”.

Um setor em que os EUA avançaram, indiscutivelmente, foi o de formação de opinião. O poder da mídia já foi muito bem manipulado desde a época daquele ataque atômico ao Japão. Aquele ato de megaterrorismo foi passado para todos nós, sem contestação até hoje, como “um gesto necessário para apressar a paz, para salvar vidas”. Perfeito, dentro dos mais puros e sublimes “padrões de conduta democrática e civilizada”.

Apesar de tudo, os EUA ainda conseguem passar uma imagem de ativos defensores da não-proliferação nuclear. Mas a verdade é o contrário. Continuaram a desenvolver e produzir em série bombas atômicas e de hidrogênio milhares de vezes mais devastadoras do que aquelas. Não ratificam o “Tratado para a Proibição Completa de Testes Nucleares” (CTBT), nem qualquer outro que efetivamente os comprometa com a não-proliferação ou com o desarmamento nuclear, muito menos com a eliminação dos seus arsenais atômicos. Segundo divulgado em 2003, os norte-americanos continuam em sigilo a desenvolver armas nucleares, como a RNEP "Robust Nuclear Earth Penetrator", para atacar alvos profundos no solo.

Um detalhe para encerrar este primeiro capítulo: as instalações brasileiras com projetos nucleares, todos para fins exclusivamente pacíficos, são submetidas a rigorosas inspeções das organizações fiscalizadoras internacionais, como a AIEA, também integrada com técnicos norte-americanos. Os EUA, e as demais potências que têm capacidade bélica nuclear, exigem e participam dessas fiscalizações no Brasil, mas não as permitem em seus territórios.

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