Condoleezza Rice trouxe ao Brasil a pregação, a institucionalização, de um novo conceito de soberania.
Em outras palavras, adaptando-o à situação do conflito Colômbia x Equador, seu conceito é: “É correto invadir militarmente (inclusive com o apoio militar de outra grande potência) o território de outros países para lá combater rebeldes, terroristas, narcotraficantes”. “As fronteiras não podem ser obstáculos para isso”.
É um “novo conceito de soberania” que devemos compreender.
Condoleezza Rice é a atual Secretária de Estado dos Estados Unidos da América (EUA). Seu cargo equivale ao de Ministro das Relações Exteriores. Ela esteve em visita oficial ao Brasil ontem e hoje.
Analisemos essas novas diretrizes norte-americanas já postas em prática na América do Sul recentemente.
Recordemos os fatos.
Este mês, a Colômbia, de surpresa, invadiu militarmente o Equador e lá realizou operações de bombardeamento aéreo e operações terrestres com tropas aerotransportadas. Os EUA deram todo o respaldo militar e político para a invasão colombiana. A “justificativa” foi a necessidade de lá combater os rebeldes das FARC que extrapolaram o território colombiano.
Apesar da forte presença norte-americana na Colômbia há vários anos, com dispêndio de mais de US$ 5 bilhões (segundo a imprensa dos EUA), as modernas e poderosas forças militares e de inteligência norte-americanas, lá sediadas, foram incapazes de conter a presença das FARC somente dentro do território colombiano. EUA e Colômbia, com essa incapacidade, permitiram que as FARC invadissem o território do Equador. Por isso, acharam justo invadir militarmente o território equatoriano, sem aviso prévio.
Após a invasão, o governo Bush e o submisso e útil governo colombiano de Uribe passaram a acusar, e a colocar como o grande culpado, o Equador por não ter percebido a entrada das FARC em seu território ou por não ter conseguido conter as FARC exclusivamente no território colombiano.
EUA e Uribe aproveitaram, também, para acusar a Venezuela de ter contatos e de apoiar os rebeldes colombianos. Um computador apanhado na floresta equatoriana e levado para os EUA revelou claramente tudo isso. Muitas outras informações bombásticas lidas no tal computador ainda serão oportunamente trazidas ao público por Uribe e pelo governo dos EUA.
A grande mídia brasileira, como não poderia deixar de ser, foi muito favorável às novas posições apresentadas pelo governo dos EUA por intermédio de Condoleezza Rice. Por exemplo, o jornal Folha de São Paulo, na coluna de Eliane Catanhêde, publicou hoje o artigo do qual cito trechos:
“A GUERRA CONTINUA”
“Condoleezza Rice, a número 2 do governo americano, fez de Brasília um palanque para mandar um discurso duro para a América do Sul, especialmente para a Venezuela e o Equador.”
“Em entrevista no Itamaraty, com Celso Amorim, ela disse que fronteiras não podem servir de ‘refúgio para terroristas’ e cobrou as ‘obrigações’ dos países no combate ao terrorismo.”
Analisemos esse cenário.
A reciprocidade, indiscutivelmente, é o princípio básico que sustenta as boas relações internacionais. Esse princípio é inderrogável e nem Bush, nem Condoleezza Rice, o vetaram.
Então, olhando no espelho da reciprocidade, podemos afirmar o seguinte.
Se o governo cubano ou o governo mexicano resolverem, sem aviso prévio, invadir militarmente e bombardearem os EUA atrás de terroristas ou de narcotraficantes, com o apoio militar e de inteligência de uma 3ª grande potência (a Rússia ou a China, por exemplo), tudo isso seria perfeitamente aceito pelos EUA, dentro da sua nova maneira de pensar sobre soberania.
Até mesmo, os EUA se julgariam culpados e chegariam a pedir desculpas por não terem conseguido evitar a entrada em seu território dos referidos terroristas ou narcotraficantes.
Esse é o conceito ora vendido para nós pela Secretária de Estado Rice.
Já existe, até, um pretexto real de necessidade de caça a terroristas cubanos em território norte-americano. Em 19 de fevereiro último, o jornalista Luiz Carlos Azenha publicou em seu blog o seguinte relato sob o título:
“GUERRA CONTRA O TERRORISMO DE BUSH POUPA EX-AGENTE DA CIA QUE DERRUBOU AVIÃO CUBANO COM 87 PESSOAS A BORDO”.
“O vôo 455, da Cubana de Aviación, decolou de Barbados, no Caribe, a caminho de Havana, no dia 6 de outubro de 1976. Houve uma explosão na cabine de passageiros. O avião caiu. Foram 57 civis cubanos, 11 guianenses e 5 norte-coreanos mortos. O vôo havia feito várias escalas anteriores. Em Barbados, desembarcaram Freddy Lugo e Hernán Ricardo Lozano, que usou o nome falso de José Vázquez Garcia. A bordo, eles deixaram a bomba que detonou o avião. O atentado foi organizado em Caracas por um grupo que combatia o governo de Fidel Castro e tinha ligações tanto com a CIA quanto com o DISIP, o serviço de inteligência da Venezuela (governo anterior a Hugo Chávez).
Na época, George Bush pai era diretor da Central de Inteligência Americana (CIA). Em maio de 2005, o Arquivo de Segurança Nacional da Universidade de George Washington publicou documentos oficiais do governo americano demonstrando que a CIA sabia dos planos para derrubar um avião cubano, desde junho de 1976.
O terrorista nunca foi julgado pelo atentado contra o avião. Em 1987, com a ajuda do embaixador dos Estados Unidos em Caracas, ele foi colocado em liberdade e viajou para Miami. Ficou detido durante seis meses, por ser foragido da Justiça, mas foi libertado com apoio de políticos ligados à família Bush. Permanece livre."
Por fim, concluo: creio que não cabe ao nosso ministro Celso Amorim transmitir esse novo conceito norte-americano aqui trazido e destacado pela nossa mídia, o qual justificaria aos mexicanos e cubanos a invasão militar dos EUA com a ajuda de uma 3ª grande potência. Rice, certamente, fará a eles a comunicação de “nulla osta”.
Essa é a razão do título deste nosso artigo: “INTERPRETANDO RICE: CUBA E MÉXICO ESTÃO AUTORIZADOS A INVADIR MILITARMENTE OS EUA”
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