Um artigo de Fernando Barros e Silva publicado hoje no jornal tucano Folha de São Paulo me surpreendeu. Deve haver uma jogada inteligente no ar, que eu não percebi.
As diretrizes “conservadoras” (radicais de direita) propagadas intensamente pela grande mídia brasileira há 18 anos não podem mudar de uma hora para outra, assim sem mais nem menos. Elas são impostas de fora para dentro do Brasil por fortíssimos interesses financeiros e econômicos. Elas eram e continuam muito fortes para, de repente, surgir no referido jornal tucano um artigo com arroubos de franqueza. Logicamente, ainda há resquícios de antilulismo no artigo, mas isso é natural. Um lobo sempre será um lobo, mesmo vestido de pele de cordeiro. Mas o conteúdo principal do artigo me é inesperado. Há algo estranho no ar.
Transcrevo o texto da Folha que me causou perplexidade e curiosidade em saber qual o seu real significado. Ainda não o descobri. Tomei a liberdade de colocar em negrito algumas expressões de franco reconhecimento de erros da tradicional postura da nossa grande imprensa.
”A DIREITA E O LULISMO”
”São Paulo - A chegada de Lula ao poder seguida da ruína moral do petismo serviu de trampolim para impulsionar uma nova direita no país. É um fenômeno de expressão midiática, mais do que propriamente político. Está disseminado em jornais, sites, blogs, nas revistas. E deve sua difusão aos falcões do colunismo que se orgulha de parecer assim, estupidamente reacionário.
Mesmo que a autopropaganda seja enganosa e oculte que até ontem o conservador empedernido de hoje comia no prato da esquerda, que é só um "parvenu", um espertalhão adaptado aos tempos -ainda assim, temos aqui uma novidade.
Essa direita emergente já formou patota. Citam uns aos outros, promovem entrevistas entre si, trocam elogios despudorados. Praticam o mais desabrido compadrio, mas proclamam a meritocracia e as virtudes da impessoalidade; são boçais, mas adoram arrotar cultura.
É uma direita ruidosa e cínica, festiva e catastrofista. Serve para entreter e consolar uma elite que se diz "classe média" e vê o país como estorvo à realização de seu infinito potencial. Seus privilégios estão sempre sob ameaça e agora a clientela de Lula veio azedar de vez suas fantasias de exclusivismo social.
Invertemos a fórmula de Umberto Eco: enquanto a direita anuncia o apocalipse, os integrados, sob as asas do lulismo, são testemunhas vivas do fiasco do pensamento de esquerda neste país. Não me lembro de ter visto antes a mídia estampar com tanta clareza os passos da regressão social de que participa.
Do lado oficial, há um ambiente paragetulista de cooptação e intimidação difusas, se não avesso, certamente hostil às liberdades de expressão e de informação.
Na outra ponta, um articulismo de oposição francamente antinordestino e preconceituoso, coalhado de racismo e misoginia, que faz do insulto seu método e tem na truculência verbal sua marca. Deve-se a ele o retorno da cultura da sarjeta e do lixo retórico, vício da imprensa nativa que remonta ao Império, mas que havia caído em desuso.”
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