quarta-feira, 26 de março de 2008

CONSELHO SUL-AMERICANO DE DEFESA - 1ª PARTE

Eu apostaria que o artigo “Mau conselho” (transcrito ao final deste artigo) foi orientado ou pelo DOD (Departamento de Defesa) ou pela Embaixada dos EUA. Deve ter sido combinada a sua publicação no jornal Folha de São Paulo. Ele foi publicado ontem (25) como editorial do jornal.

Vejo fantasmas? Teoria da conspiração? Não creio. Demonstro por que aposto nisso.

1) Primeiro, recordemos o seguinte fato já relatado neste blog no artigo “Por que a grande mídia brasileira é tucanopefelista?”, postado em 10 de fevereiro último:

“O norte-americano ex-chefe no Brasil do “Federal Bureau of Investigation” (FBI) no período 1999-2003 declarou que “uma das importantes funções que a Embaixada dos EUA no Brasil tinha era influenciar, manipular, conduzir, controlar a imprensa brasileira, inclusive comprando-a para atender os nossos interesses” (depoimento dele à “Carta Capital” nos 283 e 284, de 24 e 31/03/2004).

Portanto, não seria de estranhar uma nova “influência” ou “compra” para atender interesses norte-americanos.

2) Segundo, a Folha critica a idéia desse conselho sul-americano, afirmando que tudo “já pode ser feito por mecanismos hemisféricos existentes, como a Junta Interamericana de Defesa, o Colégio Interamericano de Defesa, a Conferência de Ministros da Defesa, a Conferência dos Exércitos Americanos, a Conferência Naval Interamericana e o Sistema de Cooperação das Forças Aéreas Americanas.”

O jornal sabe muito bem que os citados mecanismos e instituições são sediados nos EUA, são liderados, controlados e totalmente dominados pelas forças armadas e vontades norte-americanas. Por que a Folha agora critica com destaque de editorial querermos ter menor dependência desse controle militar dos EUA?

3) Terceiro, há no artigo da Folha outro evidente conceito de interesse norte-americano: a demonização de Hugo Chávez. O artigo da Folha coloca com meias-palavras: ... “é extemporâneo incentivar a colaboração entre forças militares presidentes da região trocam acusações e chegaram a mobilizar tropas uns contra os outros. Antes de alçar vôos maiores (criar o conselho), é preciso que os países da América do Sul superem o personalismo de alguns de seus líderes”.

Desde o fracassado golpe, explicitamente apoiado pelo governo norte-americano, que quase tirou Chávez do poder, é do conhecimento público mundial o processo de interesse dos EUA de estigmatização e de derrubada do poder do presidente venezuelano. Poucos duvidam que a melhor garantia de suprimento por empresas americanas de petróleo bom e barato para os EUA é objetivo nacional norte-americano. Esse processo de demonização de Chávez está presente intensamente na nossa grande mídia e nos partidos brasileiros mais de direita que há muito têm sido instrumentos dos grandes interesses norte-americanos.

Poderia citar outros motivos, mas creio que esses três já ilustram o por que do meu pressentimento.

Leiamos o artigo da Folha, especialmente as suas entrelinhas:

MAU CONSELHO

“Soa algo inoportuna a idéia do governo brasileiro de criar o Conselho Sul-Americano de Defesa.

Em termos teóricos, faria sentido ampliar ainda mais a colaboração entre os países da região para que possam, como sugeriu o ministro Nelson Jobim, "articular a elaboração de políticas de defesa, intercâmbio de pessoal, formação e treinamento de militares, realização de exercícios militares conjuntos, participação conjunta em missões de paz das Nações Unidas, integração de bases industriais de defesa".

Tudo isso, porém, já pode ser feito por mecanismos hemisféricos existentes, como a Junta Interamericana de Defesa, o Colégio Interamericano de Defesa, a Conferência de Ministros da Defesa, a Conferência dos Exércitos Americanos, a Conferência Naval Interamericana e o Sistema de Cooperação das Forças Aéreas Americanas.

Diante de tantas possibilidades, a iniciativa brasileira não passa de uma maldisfarçada tentativa de excluir os EUA. Essa é uma atitude que, na melhor das hipóteses, não leva a lugar nenhum. Interessa à diplomacia brasileira mitigar a tendência natural de Washington ao intervencionismo. Mas para tanto não é necessário criar um clube exclusivo na área militar.

Na verdade, é quase ridículo falar em defesa regional sem incluir os EUA, a única superpotência do planeta. Fazê-lo é condenar o novo Conselho à irrelevância. Ademais, é extemporâneo incentivar a colaboração entre forças militares quando presidentes da região trocam acusações e chegaram a mobilizar tropas uns contra os outros.

Antes de alçar vôos maiores, é preciso que os países da América do Sul superem o personalismo de alguns de seus líderes e se mostrem capazes de fomentar as relações que mais importam, as econômicas, num ambiente pacífico e estável.”

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