Um artigo que li hoje no jornal “Valor Econômico” fez-me recordar um outro, escrito por este blog e postado em 29 de janeiro último. Foi “O Brasil deve retornar ao neoliberalismo e ao “Estado fraco”?”.
A matéria de hoje do jornal Valor significa uma quebra da coluna vertebral dos tucanopefelentos.
Explico por quê. Recordemos um pouco os tempos de FHC, com alguns trechos do nosso artigo de 29/01:
(...) “A campanha eleitoral no Brasil para a sucessão do Presidente Lula está acirrada há muito tempo e será bem mais intensificada até 2010.”
(...) Os partidos PSDB/DEM (aos quais se agregou o PPS) contam com forte e permanente apoio da nossa grande mídia, a ponto de parecer que aqueles partidos é que seguem a pauta e as diretrizes da imprensa.
A parcela da população mais suscetível de acreditar nos ditames da mídia, principalmente das redes de TV, é a classe média ‘alta’, além, obviamente, da classe rica. Em conseqüência, votam predominantemente nos candidatos daqueles partidos. Assim, há algum risco de o Brasil, ou alguns de seus estados, retornarem às políticas dos governos do PSDB/PFL (“a malfadada era FHC”).
Recordemos a conduta neoliberal que foi implantada no Brasil pelo governo FHC”.
(...) “Foram massificadas pela mídia concepções julgadas e ditas muito mais “modernas”. Diretrizes ‘novas, que nos levariam para o primeiro mundo’.”
Exemplos: “economia totalmente aberta, com livre circulação de capitais financeiros, serviços e mercadorias, sem barreiras tarifárias; total desregulamentação do mercado financeiro; regulamentação econômica tipo laissez faire; Estado-mínimo, não-regulador da atividade econômica, não-promotor do desenvolvimento, voltado apenas para o social; Estado-enxuto, onde o planejamento estratégico e o comando da economia também são funções do mercado e devem passar para os investidores privados; reforma admnistrativa do Estado, para adequá-lo à ‘Nova Ordem Mundial’; e muitos outros “avançados” conceitos nos eram martelados.”
(...) Um ex-Ministro da época (C&T e Refoma do Estado), Luis Carlos Bresser-Pereira, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), expressou como via os rumos do Brasil na década de 90:
“A idéia de nação desapareceu. Os critérios para a administração do governo federal foram aqueles ditados por Washington e Nova York e têm como gestor o FMI (Fundo Monetário Internacional)” (Folha de S. Paulo (FSP), 01/05/2004).
Em 23/05/2004, ele declarou ao mesmo jornal: “Nos anos 90 o Brasil se submeteu a uma ideologia antinacional e permitiu que essa ideologia desorganizasse o Estado brasileiro. O país paralisou-se e ficou sem o conceito de Nação”.
(...) “Aquelas doutrinas neoliberais, então muito propaladas, significavam, figurativamente, colocar para lutar no ringue o então campeão mundial peso-pesado Mike Tyson contra uma criança brasileira ainda em desenvolvimento e com a ‘justiça’ da ‘total liberdade’ no duelo, da mesma ausência de regras (‘desregulamentação’). Valia tudo igualmente para os dois, chute no fígado e quebrar o pescoço. O Brasil, como uma criança em desenvolvimento, teria que ‘encontrar seu nicho’ na tal luta.”
(...) Naquela década, “resolveram os EUA, em consenso com os demais países do G-7, que cada país latino-americano, para o seu próprio bem, passaria a implantar as seguintes medidas progressistas:
Abrir o seu mercado nacional, com baixos (ou ausentes) impostos de importação e com câmbio favorável à entrada de produtos estrangeiros; para esses produtos importados dos EUA e dos demais países industrializados, não criar barreiras tarifárias e não-tarifárias (sanitárias, técnicas, ambientais, trabalhistas, quotas e subsídios, como fazem as grandes potências); abandonar ultrapassadas políticas de desenvolvimento nacional industrial e tecnológico (ditas incompatíveis com o Estado moderno, enxuto, voltado apenas para a saúde, educação primária e média e para a segurança); vender (desnacionalizar) seus bancos e suas principais empresas privadas e estatais.
(...) “Em resumo, expurgando-se as eufemias daqueles conceitos intensamente propagados no Brasil, a equação lógica daquelas campanhas era matemática, cristalina:
[Estado mínimo (com Forças Armadas também mínimas)] = [Estado mais facilmente subjugado]. Subjugado pela 'elite dominante'.
No caso brasileiro, essa 'elite dominante' era (ainda é) o resultado, principalmente, de uma soma: [empresas multinacionais ou estatais estrangeiras + grandes bancos internacionais + governantes dos EUA e dos países do G-7 + FMI/BID/BIRD + poucos brasileiros que lucravam com aquilo].
Essa era a essência da empulhação do governo PSDB/PFL/FHC, muito bem disfarçada com magníficos discursos econômicos e presidenciais-sociológicos e totalmente amparada pela grande mídia.
(...) “As críticas? As censuras ao modelo que nos foi induzido ou imposto pelos EUA , quando aqui surgiam no final dos anos 90, partiam somente daqueles que -como diziam professoralmente na imprensa os mais altos dirigentes nacionais- "não têm imaginação, neobobos que culpavam os EUA (e os brasileiros implantadores das medidas neoliberais) por muitas de suas frustrações e ficavam com nhenhenhém".
(...) “Segundo o ex-ministro Delfim Netto (Carta Capital no 290, de 13/05/2004), ao término do governo FHC a dívida externa líquida brasileira alcançou o impressionante nível de US$ 430 bilhões! Toda a nossa arrecadação passou a ficar comprometida com o pagamento da dívida externa. E ainda faltando cada vez mais recursos para pagá-la”.
O país ficou imobilizado, muito mais frágil e, em conseqüência, muito mais obediente às pressões dos EUA, do FMI e de todas as outras potências industrializadas.
Até mesmo o próprio jornal tucano Folha de S. Paulo (“Opinião”), em 12/07/2004, reconheceu que “o monstruoso endividamento público gerado ao longo do governo FHC é, realmente, uma “herança maldita” ao ter-se transformado num limitador persistente e fundamental do crescimento econômico”.
EUA RETORNAM AO ESTADO FORTE
Hoje, 11/04/2008, ao ler a matéria abaixo transcrita do jornal “Valor Econômico” (na Agência Brasil), vi que os próprios EUA, que tanto impingiram aquelas ações do governo FHC, quebraram toda a linha-mestra da doutrina tucanopefelenta. O Estado não deve ser mínimo. Deve ser grande e forte a ponto de regulamentar o poderosíssimo sistema financeiro e o famoso Deus “Mercado”. Os gastos públicos devem ser aumentados!
Leiamos a síntese do artigo do Valor (pág. 1)
"Agora somos todos keynesianos".
A frase - dita pelo monetarista Milton Friedman em 1965 e pelo ex-presidente americano Richard Nixon em 1971 - está de volta à ordem do dia. Afinal, o livre e desregulamentado mercado dá sinais de fraqueza e tem pedido cada vez mais a ajuda do Estado.
A necessidade de maior regulamentação no sistema financeiro e de ampliação dos gastos públicos passou a ser defendida pelas mais díspares personalidades, como o presidente americano, George W. Bush, e o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn.
A inadimplência nas hipotecas americanas gerou uma crise de solvência entre os bancos dos países ricos e muitos já foram socorridos por governos de correntes políticas diversas. "É o jeito certo de salvar o sistema do colapso", diz Paul Davidson, renomado keynesiano americano.
Davidson virá ao Brasil participar de encontro que irá fundar a Associação Keynesiana Brasileira. Entre os convidados, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Há atualmente no governo Lula economistas pós-keynesianos e desenvolvimentistas no Ipea, na Fazenda, na Casa Civil e nas representações no FMI, BID e Banco Mundial.”
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