Há uma hora atrás (11h31), este blog postou o artigo “Em prol da direita, Folha de São Paulo censura até o seu ‘ombusdman’ - O estopim: o manipulado "dossiê anti-FHC".
Para trazer melhor informação ao leitor, reproduzo as observações do ouvidor da Folha no referido artigo (extraído do blog “cidadania”), que foi a gota d’água para a sua demissão. Coloquei em negrito os textos mais sensíveis à Folha:
"Risco de cair"
(Mário Magalhães)
"Título da Folha na sexta feira passada (alto da pág. A7, edição São Paulo):
"Para governo, caso é grave e exige resposta rápida da ministra".
Abertura: "A cúpula do governo avalia que a situação política da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se agravou e que ela precisa dar uma resposta rápida. Do contrário, corre risco de cair. Segundo apurou a Folha, essa resposta seria a demissão dos servidores da Casa Civil que elaboraram um dossiê sobre gastos secretos do governo Fernando Henrique Cardoso".
Mais: "Um ministro de Lula classificou a informação [sobre o 'documento vazado para a imprensa'] de gravíssima".
Ou a ministra é forte demais e dá de ombros à "cúpula do governo", ou a história, integralmente baseada em fontes não nomeadas, parece não estar bem amarrada. Mais que isso, sugere que adversários de Dilma no governo aproveitaram o anonimato para alvejá-la.
Manchete do "Estado" no domingo: "Planalto vai tirar Dilma da vitrine eleitoral".
É outra informação que, pelo menos até agora, não se confirmou, pelo contrário.
Os dois episódios exemplificam os riscos da cobertura das crises e intrigas brasilienses.
Hoje a Folha cometeu, creio, um erro ao omitir na primeira página o confronto de ontem no Congresso. O senador Álvaro Dias admitiu ter visto o dossiê antes de sua divulgação. Dar destaque ao fato não implica tomar partido no noticiário, mas reconhecer a importância da declaração.
O "Estado" titulou na parte superior da capa: "Governistas acusam tucano de vazar dossiê dos cartões".O senador afirmou ontem: "Na segunda, logo após a circulação da revista 'Veja' no domingo, desta tribuna afirmei ter visto o dossiê".
Hoje o título (de sentido dúbio) da Folha é "Aliados pressionam tucano que admitiu ter visto dossiê" (alto da pág. A6). Se Dias conta a verdade, por que a Folha --e o conjunto ou parcela significativa do jornalismo-- não publicou a declaração do senador assim que ele a fez? Por que só agora?
O senador tem razão: ele está protegido por garantia constitucional de não revelar a fonte que lhe permitiu acesso ao dossiê. Essa prerrogativa deve ser defendida pela democracia. Ela assegurou revelações importantes, oriundas de parlamentares, que os cidadãos conheceram por meio do jornalismo.
Dúvida: Dias avisou FHC sobre o dossiê? Se não avisou, como houve chantagem? Quem foi chantageado?
Seis dias atrás, a Folha manchetou: "Braço direito de Dilma montou dossiê".
O relato continua a carecer de comprovação, e o jornal o ‘flexibiliza’.
Hoje, diz que a assessora "deu ordem para a compilação de dados". Ou que ela "assumiu a ordem para a confecção de um 'banco de dados'". O "furo" da sexta virou, também, a "ordem para elaborar o banco de dados".
O banco de dados não é o dossiê. O dossiê de 13 páginas foi elaborado a partir de informações do banco de dados. Pelo menos é o que eu entendi da cobertura.
O quadro "Perguntas e respostas" (pág. A6) confunde, em uma passagem: "A Folha chama o arquivo de dossiê". Até aqui, a rigor, o jornal chamou o relatório de 13 páginas de "dossiê", e não o "arquivo paralelo ao sistema oficial de controle de gastos".
O jornal já afirmou que a Casa Civil assumira a autoria do dossiê (considero como dossiê o relatório de 13 páginas). Na edição de sábado, entretanto, Dilma disse o contrário: sua pasta reconhecia a produção da "base de dados", da qual foram retiradas as informações que constam do dossiê.
Quem contradiz a ministra, hoje, é o seu chefe. Lula afirmou que alguém "roubou peças de um documento de um banco de dados". Ou: "Nunca saberemos quem foi que pegou o documento de um banco de dados e vendeu como se fosse dossiê".
Segundo Lula, as 13 páginas são um documento do "banco de dados". A ministra dissera que as 13 páginas não foram elaboradas por sua equipe, mas confeccionadas por alguém de identidade ignorada a partir de informações classificadas na Casa Civil.
Na sexta, a Folha informou que teve acesso ao dossiê e publicou trecho dele em fac-símile. Por que não permitiu que os leitores conhecessem, pelo menos na internet, a íntegra do documento, para tirarem suas próprias conclusões? O blog do Noblat faz isso agora. Ainda é tempo de o jornal fazer.
O noticiário de hoje reforça a impressão de que governo e oposição se empenham no desgaste mútuo, mas nenhum está, realmente, disposto a investigar os gastos palacianos das gestões atual e passada. Se Álvaro Dias conheceu e repassou um documento que considerava manipulação de informações sigilosas por funcionário público para fim de divulgação e chantagem, por que não denunciou o fato à Polícia Federal e pediu abertura de inquérito?
O mesmo vale para o governo, que qualificou como criminoso o vazamento de informações da Casa Civil protegidas por sigilo. Por que o Planalto não pediu inquérito à PF? Em vez disso, o Ministério da Justiça se moveu em sentido contrário, para abafar o caso.
Mantêm-se muitas dúvidas. Sobre quem, a partir da dita "base de dados", montou o relatório de 13 páginas. Quem vazou o dossiê para fora do Planalto. E quem fez uso dele --embora essa resposta tenha começado a ser delineada ontem.
Outra incerteza permanece: o dossiê é incapaz de causar dano a FHC; como instrumento de chantagem, é inexpressivo (a não ser, repito, que sinalize o conhecimento sobre outras despesas, cabeludas); ele faz mal, mais que ao governo, a Dilma Rousseff; por que a ministra o patrocinaria?
É bom que o jornal, mesmo com o silêncio da primeira página, tenha recuado na cobertura de tom unilateral.
Como se vê nas páginas da Folha, há mais perguntas que respostas no caso do dossiê.”
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