Sobre esse evento importante, o jornal francês Le Monde publicou ontem, 11/04, um bom artigo de Jean-Jacques Bozonnet, correspondente em Roma, traduzido por Jean-Yves de Neufville.
Trata do candidato da direita, Silvio Berlusconi.
Como o artigo é longo, este blog selecionou alguns trechos. A matéria completa pode ser lida no site www.lemonde.fr.
“ELEIÇÕES NA ITÁLIA: A VERSÃO 2008 DE SILVIO BERLUSCONI”
“Aparentemente, o homem não mudou nem um pouco desde a sua primeira campanha eleitoral em 1994.
A sua cabeleira cor de azeviche continua a mesma, assim como o seu bronzeado obtido com a exposição aos raios UV e o seu sorriso próprio de quem gosta particularmente de carne.
Talvez tenha se tornado necessário caprichar um pouco mais na maquiagem, mantida de forma quase permanente, mas o ‘lifting’ e os implantes capilares, os quais resultaram de cirurgias que chamaram muito a atenção no decorrer dos seus cinco anos de mandato (2001-2006), desempenharam perfeitamente o seu papel. Com isso, o desgaste causado pelo tempo parece não atingir Silvio Berlusconi, que completará 72 anos em setembro.
(...) O seu médico pessoal, Umberto Scapagnini, ...considera que o antigo presidente do conselho italiano tem "25 anos a menos do que a sua idade real". O que faria dele o caçula, cinco anos mais novo, de Walter Veltroni, o seu adversário do centro-esquerda nas eleições legislativas que serão realizadas nos dias 13 e 14 de abril.
(...) Parodiando a estratégia de Ronald Reagan frente a Walter Mondale em 1984, "Il Cavaliere" prometeu "não explorar politicamente a juventude e a inexperiência" do seu rival. Mas, no que diz respeito à competição para ver quem terá o "visual mais jovem", ninguém brinca com um assunto tão sério: Silvio Berlusconi resolveu aposentar a gravata.
(...) Isso explica por que os jornais italianos deram destaque para essas modificações, em meados de março, depois de assistirem à cena em que Berlusconi perdeu a paciência com um colaborador: "Eu posso ser velho, mais ainda não sou estúpido!"
(...) O seu projeto inicial de grande modernização do país não foi bem-sucedido, e ele está agora às voltas com a falência daquilo que ele havia proposto.
(...) Vale reconhecer que Silvio Berlusconi endureceu o tom das suas intervenções nos mais recentes comícios, e que ele voltou a contar suas piadas de farras e banquetes ("as mulheres de direita são mais bonitas do que as de esquerda"), mas o anticomunista ensandecido que acusava em 2006 a China de Mao de ter "cozinhado crianças em água fervente" viu o seu discurso ficar desgastado.
(...) Desta vez, Berlusconi se apresenta nas eleições adotando um estilo sacrificial, tanto naquilo que lhe diz respeito, explicando que ele está se dedicando à sua missão, quanto no que se refere aos italianos, que devem se preparar para uma perspectiva de apertos.
(...) A sua nova agremiação, o Povo da Liberdade (PDL), será "um partido monárquico no que diz respeito ao seu líder, que é único e indiscutível, considerando que ele é também o seu fundador".
(...) Há muito tempo, "Il Cavaliere" tem em mente o projeto de suceder ao atual chefe do Estado, Giorgio Napolitano, em 2013.
Estas eleições legislativas antecipadas surgem no momento certo: em caso de vitória total, ele poderia ser eleito sem dificuldade no final da legislatura, por um Parlamento sobre o qual ele teria controle total; se o resultado se revelasse apertado, ainda lhe sobraria uma margem de negociação, pois ele poderia se manter "na reserva" com a promessa de ser o próximo "pai nobre" da República. Silvio Berlusconi se tornaria então, aos 77 anos, um jovem presidente.
(...) Lembra o sociólogo Franco Ferrarotti: "De fato, ele vai alterando a coreografia e a encenação, porque ele sabe que, na Itália, tudo se realiza por meio da teatralização, mas o conteúdo do seu projeto central permanece o mesmo até hoje: é a proteção dos seus interesses e a manutenção da sua riqueza".
(...) Embora ele não seja mais o homem mais rico da Itália, após ser superado em 2007 por Michele Ferrero, também conhecido como "o Senhor Nutella", Silvio Berlusconi conserva aquele talento de conseguir compartilhar as suas preocupações de bilionários com o populacho.
Diante de uma platéia de artesãos que se queixavam do aperto fiscal, alguns meses atrás, ele rebateu: "Nem me falem nisso; hoje de manhã, assinei um cheque de 43 milhões de euros (cerca de R$ 114 milhões), pois é isso que eu pago a título de impostos anualmente".
Esse tipo de réplica impressiona. E foi isso que o autorizou a declarar, faltando poucos dias para o pleito, sem correr o risco de ser desacreditado: "Quando os impostos estão elevados demais, torna-se moral recorrer à evasão fiscal".
(...) Ai de quem se atreve a ameaçar o seu império audiovisual: se isso acontecer, o magnata italiano mobiliza imediatamente o grande exército dos seus ‘lobbies’ a serviço da Fininvest, o grupo familiar, da qual a Mediaset, com os seus três canais de televisão, é a "menina dos olhos".
(...) "Não dá para eliminar um Berlusconi por meio de uma lei. Ele é um fenômeno social, cultural e político do país. Ele corresponde a uma parte importante da alma da Itália e dos italianos".
(...) "Ao longo de mais de vinte anos, graças à televisão, ele modelou o país para conferir-lhe a imagem que ele queria".
(...) "Uma geração inteira de italianos conheceu apenas ele. Enquanto ele representava uma ruptura em 1993, a sua presença tornou-se agora natural, evidente; ele é como o ar que nós respiramos, e é por esta razão que no final, é ele quem acaba vencendo".
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