Este blog já abordou as reivindicações do recém-eleito presidente do Paraguai a respeito de preços da energia oriunda da usina hidrelétrica de Itaipu, ainda a maior do mundo em quantidade de energia gerada. Foi no artigo de segunda-feira última, 21 de abril, intitulado “Entrevista com o novo presidente paraguaio, Fernando Lugo”.
Posteriormente, na quinta-feira, 24 de abril, publicamos outro ponto-de-vista sobre o tema, na postagem “Polêmica sobre Itaipu”. No referido artigo, transcrevemos que o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse que o reajuste não seria justo para o consumidor brasileiro e que, para o Paraguai, a construção de Itaipu foi um grande negócio. "O Paraguai nesse processo entrou apenas com a água, com metade do rio. A usina foi construída com a alavancagem de recursos obtida pelo Brasil e com o know-how do Brasil. A metade do empreendimento equivale a algumas vezes o PIB do Paraguai, sendo que a contribuição dele para o processo foi o fato de estar na fronteira com o Brasil".
Hoje, trago para os leitores uma perspicaz abordagem do problema feita pelo jornalista Paulo Henrique Amorim (PHA) no seu blog “Conversa Afiada”.
Com as suas típicas sátira, sagacidade e ironia, PHA revela qual a razão de a grande mídia brasileira (por ele batizada de Partido da Imprensa Golpista-PIG) estar estimulando a discórdia entre os dois países.
O objetivo é a volta do PSDB e DEM-PFL ao poder. O retorno, com todos aqueles princípios “neoliberais” que marcaram o governo FHC. Um aspecto pertinente do governo tucanopefelento a relembrar era o desestímulo ao Mercosul, em coerência com o desejo de grandes potências, especialmente os EUA.
Transcrevo o artigo de Paulo Henrique Amorim:
“PIG QUER OUTRA GUERRA DO PARAGUAI”
"O Presidente eleito Fernando Lugo, do Paraguai, anunciou na campanha que queria mais dinheiro de Itaipu para o Paraguai.
Você, caro leitor, se fosse paraguaio, como reagiria ao fato de o Paraguai ser sócio da maior hidrelétrica do mundo e não ter energia de qualidade para fazer uma fábrica rodar direito?
Em quem você votaria?
Você, caro leitor, como brasileiro, prefere que os países vizinhos sejam amigos e prósperos, ou prefere países vizinhos hostis, pobres e ponto de distribuição de drogas, armas, munição e contrabando?
Vamos ver o que disse o Ministro Celso Amorim, em Acra, em Gana, onde acompanhava o Presidente Lula numa Conferência da Unctad:
“... continuar discutindo com o Paraguai, normalmente, sobre como ele obter uma remuneração adequada para sua energia. Isso é justo. Agora, a maneira de fazer, nós vamos discutir.”
Amorim também falou em o Brasil financiar a construção de linhas de transmissão, para o Paraguai aproveitar melhor a energia de Itaipu. E, provavelmente, através do BNDES, financiar empresas brasileiras que invistam no Paraguai.
Amorim também disse: “compensar a energia paraguaia por uma defasagem, se se comparar com o que recebem usinas hidrelétricas brasileiras, esse tipo de coisa a gente pode ver”. (Uso as declarações de Amorim a partir de uma transcrição feita pela assessoria de imprensa do Itamaraty).
Mexer no Tratado de Itaipu não passa pela cabeça de ninguém. O Tratado é o “garante” para o financiamento de Itaipu, que gerou uma dívida de cerca de US$ 20 bilhões.
Mexer na forma de fixar a tarifa pode não ser uma boa idéia.
Mas, compensar o Paraguai por atraso na fixação da tarifa; financiar a construção de uma linha de transmissão, ou um Pró-Álcool no Paraguai – tudo isso faz muito sentido.
Não é o que o PiG tem dito.
O Globo de hoje (23/04), numa página interna, anuncia: “Governo já fala em mudar tarifa”.
Quem disse isso? Ninguém.
O Ministro Amorim não disse.
O Presidente Lula não disse.
O Ministro das Minas, Edson Lobão, é contra.
Quem diz é o Globo: “Uma possível (possível!) negociação com o Paraguai, com aumento da tarifa para o Brasil, foi tema de uma reunião da coordenação política (?) do Governo ontem, com a presença do Presidente Lula.”
Portanto, quem diz é o Globo.
O Estadão, a Folha e, especialmente, o Globo assumiram a liderança de uma nova Guerra do Paraguai, ‘remember’ Cerro Corá.
O PiG tem como objetivo final derrubar o Presidente Lula.
A nova Guerra do Paraguai ajudaria a atingir esse objetivo, respeitadas as seguintes etapas:
1) Demonstrar que o Brasil se curvará diante do Paraguai, como se curvou diante da Bolívia, no gás natural;
2) Que o Presidente Lula é um frouxo com os vizinhos e o Itamaraty idem;
3) Que o Presidente Lula não sabe defender o interesse nacional;
4) Que o consumidor brasileiro não vai mais usufruir da água de Itaipu, tanto quanto cessou o fornecimento de gás da Bolívia;
5) Que o consumidor brasileiro vai pagar o pato; e a energia de Itaipu vai custar preços astronômicos, como se observou com o gás boliviano;
6) Pressionado pelo PiG, o Brasil vai invadir o Paraguai;
7) E, em Cerro Corá, as tropas paraguaias derrotarão as desmoralizadas tropas brasileiras.
Ipso facto, o Presidente Lula cai e o presidente eleito, José Serra, finalmente assume.
A derrota em Cerro Corá é a crise do PiG da semana.”
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