Por Eduardo Guimarães
“Otavinho Frias, dono da ‘Folha de São Paulo’, deve
estar refletindo sobre o custo que a partidarização que impôs ao seu jornal vai
cobrando à sua credibilidade. Para usar um jargão jornalístico, ao ter em seu
time de colunistas uma militante política como Eliane Cantanhêde, a Folha acaba
de colher volumosa “barriga” (notícia
falsa publicada em destaque).
A “barriga” ocorreu porque, na última segunda
feira, esse jornal jogou lenha em uma fogueira acesa pelo concorrente “Estadão”
na semana anterior, sobre iminente “racionamento
de energia elétrica no país” devido à falta de chuvas que fez diminuir o
nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Confiando no taco da colunista Eliane Cantanhêde,
esposa de um dos marqueteiros do PSDB, o jornal divulgou, no último dia 7,
manchete principal de primeira página difundindo uma suposta “reunião de emergência” do governo para
tratar do tal “risco de racionamento”.
Diante de notícia tão alarmista e divulgada com
tanto destaque, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, ligou para
Cantanhêde, autora da matéria em tela, para informar que a reunião não fora
convocada por Dilma e nem era de “emergência”, pois integrava um cronograma de
reuniões ordinárias do “Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico” (CMSE) que
acontece todos os meses. E divulgou, no site do Ministério, o cronograma de
reuniões para 2013.
Veja, abaixo, o cronograma.
Desmontada a farsa da “Folha”, produzida por
Cantanhêde, sobre ser reunião de “emergência”, a colunista não se deu por
vencida e, em sua coluna da última quinta-feira (10), tentou remendar a
“barriga” a que induziu seu empregador. Veja, abaixo, a coluna.
—–
“Folha
de São Paulo, 10 de janeiro de 2013
Eliane Cantanhêde.
AOS 45 DO SEGUNDO TEMPO
“Como previsto, o governo tentou desmentir a manchete de segunda da ‘Folha’
sobre a reunião de emergência do setor elétrico marcada para ontem para
discutir o nível preocupante dos reservatórios, ou o que o setor privado vem
chamando, talvez com exagero, de “risco de racionamento”.
Desmentir notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos:
“O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”.
Por isso, guardei uma carta, literalmente, na manga: o e-mail enviado
por um dos órgãos participantes às 17h56 da última sexta-feira: “A ‘Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica’ – CCEE informa aos agentes que a 53ª
Assembleia Geral Extraordinária foi transferida para o dia 14 de janeiro [...].
O adiamento deve-se à coincidência da data anterior [9/1] com a reunião do ‘Comitê
de Monitoramento do Setor Elétrico’ (CMSE), convocada pelo Ministério de Minas
e Energia”.
Não se desmarcam assembleias gerais do dia para a noite, porque elas
custam um dinheirão, envolvem dezenas de pessoas na organização, centenas de
convidados e deslocamentos. A CCEE só fez isso porque foi convocada de última
hora, cinco dias antes, para a reunião de Brasília.
O governo, porém, insiste que é coincidência que a reunião ocorra no
meio do turbilhão -e da assimetria das chuvas. O ministro Lobão até me disse
que estava marcada havia “um ano”. Para comprovar, me remeteu para o cronograma
de reuniões no site do ministério.
Sim, estava lá, mas o cronograma foi postado no site precisamente às
15h14min30s de segunda, dia 7, horas depois de a manchete da ‘Folha’ sacudir o
governo, o setor, talvez o leitor/consumidor.
Há muito o que discutir: as falhas do sistema, a falta de planejamento,
a birra de São Pedro, os custos das térmicas e, enfim, como ser transparente
com indústrias, concessionárias e usuários. Aliás, uma obrigação de qualquer
governo”.
Nem seria necessário mais nada para entender que a
tese salvacionista de Cantanhêde não se sustentava, pois bastaria ver o
cronograma de reuniões do “Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico” para
saber se, como a colunista insinuou, tal cronograma fora composto às pressas
para desmentir a tese da “reunião de emergência”.
O Ministério das Minas e Energia, porém,
antecipou-se ao que este blog iria publicar e enviou carta ao jornal provando
que nunca houve reunião de emergência alguma, conforme a “barriga” que o
veículo cometeu sob influência de sua colunista. Sem remédio, a “Folha”
publicou a carta em sua edição de sexta-feira. Veja, abaixo, a manifestação do
Ministério:
—–
“Folha
de São Paulo, 11 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
Energia
“No dia 7/1, a Folha publicou a seguinte manchete de capa: “Escassez de
luz faz Dilma convocar o setor elétrico”, com o subtítulo “Reunião de
emergência discutirá propostas para evitar riscos de racionamento”. O texto
remetia para reportagem em “Mercado” sob o título “Racionamento de luz acende
sinal amarelo”.
Tratava-se de uma desinformação. Na mesma data da publicação, preocupado
com a repercussão da reportagem, principalmente nas Bolsas, o ministro Edison
Lobão, em telefonema à autora da reportagem, a jornalista Eliane Cantanhêde,
esclareceu que a reunião em referência não fora convocada pela presidenta da
República, nem tinha caráter de emergência. Tratava-se, conforme relatou, de
reunião ordinária do ‘Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico’ (CMSE),
marcada desde o ano passado.
Além de esses esclarecimentos não terem sido prestados na reportagem
sobre o assunto publicada em 8/1 (“Lobão confirma reunião, mas descarta
riscos”, “Mercado”), a jornalista, na coluna “Aos 45 do segundo tempo”
(“Opinião”, ontem), põe em dúvida a veracidade das informações do Ministério de
Minas e Energia. Para que não reste dúvida sobre o assunto, consta na ata da
122ª Reunião do CMSE, realizada em 13/12/2012, precisamente no item 12, a
decisão de realizar no dia 9/1/2013 a referida reunião ordinária.
Antonio Carlos Lima, da Assessoria de Comunicação Social do Ministério
de Minas e Energia (Brasília, DF)”
—–
Como este blog [“Cidadania”] opinou no texto “Imprensa tucana
inventa apagão para tentar sabotar a economia”, o
Ministério das Minas e Energia também entendeu que a matéria tinha, se não
objetivo, ao menos potencial para tumultuar a economia, do que decorreu queda
do valor das ações das empresas geradoras de energia, as quais, desfeita a
farsa, recuperaram-se na última quinta-feira.
O mais engraçado mesmo, porém, foi a tréplica de
Eliane Cantanhêde tentando salvar sua matéria irresponsável, alarmista,
criminosa mesmo. Leia abaixo.
—–
“Folha de São Paulo, 11 de janeiro de 2013
Painel do Leitor
RESPOSTA DA JORNALISTA ELIANE CANTANHÊDE – “De fato, a reunião foi
marcada em dezembro, mas, diante dos níveis preocupantes dos reservatórios,
ganhou caráter emergencial – evidenciado pela intensa movimentação do governo.
A Folha contemplou no dia 8/1 a versão do ministro de que não havia risco de
racionamento”.
—–
É piada, não é mesmo? A matéria de Cantanhêde na
Folha do dia 7 não disse que a reunião “ganhou
caráter emergencial” devido aos “níveis
preocupantes dos reservatórios”; disse que “era de emergência”, convocada “às
pressas”. Não foi por outra razão que a própria “Folha” retificou a matéria
mentirosa e alarmista logo abaixo da resposta de sua colunista, na seção
“Erramos”.
Veja, abaixo, a retratação da “Folha” – obviamente
que sem o destaque que o jornal deu à “barriga” que cometeu por obra e
graça de uma “jornalista” cujo trabalho, há muito, pauta-se por motivações
político-partidárias, para dizer o mínimo.
“Folha
de São Paulo, 11 de janeiro de 2013
Seção “Erramos”
MERCADO (7.JAN, PÁG. B1) A reunião do Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico havia sido marcada em 13 de dezembro de 2012, e não neste ano,
conforme informou a reportagem “Racionamento de luz acende sinal amarelo”, de
Eliane Cantanhêde.”
Eliane e a “massa cheirosa” (aludindo que os tucanos somente andam de ônibus se "0 km" e que eles são perfumados; os demais, fedem):
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog
“Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/01/colunista-expoe-folha-ao-ridiculo-2/).
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