Do “Estadão”
“Foram registradas 178 ocorrências, 13% mais que em 2011; maioria delas foi causada por aeronaves privadas
A expansão da frota de aviões no Brasil também trouxe consequência desagradável: o número de acidentes bateu recorde em 2012, quando foram registradas 178 ocorrências, 13% a mais do que no ano anterior, segundo dados do “Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos” (CENIPA). Desses acidentes, 31 tiveram vítimas fatais e provocaram a morte de 77 pessoas no ano passado.
A maioria dos acidentes (43%) ocorre em voos feitos por aeronaves privadas, seguidos dos voos para instrução de pilotos (22%). As companhias aéreas responderam por 1% das ocorrências consideradas acidentes em 2012 - nenhuma com vítimas.
"Os acidentes, em geral, ocorrem por conjunção de fatores. Mas as análises históricas demonstram que, na maioria dos acidentes na aviação geral, há participação grande de fatores humanos. Ou seja, em algum momento, o piloto tomou uma decisão errada", explica o superintendente de segurança operacional da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Wagner Moraes.
Após a alta do total de acidentes na aviação geral, a ANAC diz que aumentou a fiscalização no segmento. Neste ano, a agência iniciou novo modelo de fiscalização, que prevê ações em parceria com o “Departamento de Controle do Espaço Aéreo” (DECEA), com a Polícia Federal e Receita Federal. "As ações que tomamos para reduzir acidentes são manter uma rotina de fiscalização e promover uma cultura de segurança entre os pilotos", disse Moraes.
CERTIFICAÇÃO
A ANAC mantém um cadastro nacional de aeronaves, com número de matrícula e identificação do proprietário. No caso de venda, o comprador deve informar à agência.
Todas as aeronaves que voam no Brasil devem ser certificadas pela ANAC e realizar uma inspeção anual de manutenção em oficinas credenciadas pelo órgão. Os pilotos também devem estar com a habilitação em dia.
A legislação não estabelece uma idade máxima para permitir que uma aeronave voe no Brasil. Cerca de metade da frota brasileira de aviação geral tem mais de 30 anos de idade, segundo estimativas da “Associação Brasileira de Aviação Geral” (ABAG). De acordo com a ANAC, se a aeronave é reprovada na inspeção anual, tem seu certificado de aeronavegabilidade cassado.
"A manutenção da aeronave é que atesta sua condição de voo. Apoiamos ações da ANAC para manter no chão aeronaves que não estão mais aptas a voar", disse Humberto Branco, diretor de assuntos institucionais da “Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves” (APPA).
As associações que representam a aviação geral, como APPA e ABAG, lembram que as aeronaves privadas voam para destinos com infraestrutura aeroportuária precária, muitas vezes com pistas degradadas e obstáculos na cabeceira. O investimento em melhorias nos aeroportos é pleito antigo do setor e uma das ações que poderiam melhorar a segurança da operação.”
VENDE-SE AVIÃO ATÉ EM CLASSIFICADOS
Em site de aeronaves usadas, é possível comprar modelo por R$ 120 mil; só em 2012, quase mil aviões privados passaram a voar no País
Por Marina Gazzoni, no “Estadão”
Beech Baron
“Os tempos de viajar de ônibus ficaram para trás para o locutor de rodeios Marco Aurélio Ribeiro. Com 16 anos de carreira, Marco Brasil, como é conhecido, deixou a estrada há cinco anos, quando comprou seu primeiro avião, um Beechcraft Bonanza usado, por cerca de US$ 200 mil. Três anos depois, comprou um modelo melhor, o "Baron", um bimotor com capacidade para seis passageiros. Com este avião, partiu de Maringá, no interior do Paraná, para narrar rodeios em 123 cidades brasileiras no ano passado.
"O custo-benefício do avião vale a pena. É mais rápido para viajar e chego descansado nos shows", disse o locutor de rodeios, que também é piloto, e tem apresentações agendadas em cinco cidades em março - nenhuma delas é atendida pelas companhias aéreas com voos regulares.
O avião de Ribeiro é um dos 3.829 que foram adicionados de 2008 a 2012 à frota de aviação geral no Brasil, segmento que representa pessoas físicas e empresas donas de aeronaves (excluindo as companhias aéreas). Só no ano passado, 959 novos aviões passaram a voar no Brasil nesse segmento, elevando a frota para 16.984 unidades, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
A crise mundial derrubou a demanda por novas aeronaves nos países desenvolvidos a partir de 2008, e as fabricantes de aviões executivos se voltaram para o Brasil. Com o dólar abaixo de R$ 2 na maior parte do período entre 2008 e 2011, os preços das aeronaves, que são atrelados à cotação da moeda americana, ficaram mais acessíveis para o consumidor brasileiro.
"A expansão da renda no País também atingiu os mais ricos e fez com que muitos pudessem comprar aviões novos", disse o diretor geral da “Associação Brasileira de Aviação Geral” (ABAG), Ricardo Nogueira. Assim como ocorre no mercado de carros, a chegada de modelos novos aumenta a oferta de aviões usados, derrubando os valores. "O preço de uma avião usado hoje é cerca de 30% mais baixo do que em 2011", diz Nogueira.
O avião particular ainda é um produto para a classe A, mas não é mais um luxo apenas para bilionários como Eike Batista ou Abilio Diniz.
Existem, atualmente, aeronaves usadas à venda a partir de R$ 120 mil no Brasil, o mesmo preço, por exemplo, de um carro Toyota Prius, segundo informações do site de classificados “FlightMarket”. O portal, criado em agosto de 2009, reúne hoje 134 anúncios de aeronaves -e mais da metade delas custa menos de US$ 1 milhão. Há também opções para bolsos mais recheados, como jato Bombardier Challenger 605, ano 2007, por R$ 46 milhões, o modelo mais caro à venda no portal.
Interior do Bombardier Challenger 605
"Criei o site porque vi que o mercado de compra e venda de aeronaves estava crescendo e não tinha forma organizada de anunciar os modelos", lembra o fundador do “FlightMarket”, Guilherme Souza. Segundo ele, o portal já anunciou 4 mil aeronaves desde a sua criação. A receita do “FlightMarket” vem de taxas pagas pelos anunciantes e de publicidade no site.
MOBILIDADE
A expansão da frota privada brasileira reflete a percepção de empresários do avião como uma ferramenta de trabalho, explica o diretor de vendas de aeronaves da Líder Aviação, Philipe Figueiredo. "Muitos empresários precisam ir e voltar para várias cidades rapidamente. A restrição da oferta de destinos nas companhias aéreas faz com que eles busquem a solução no avião particular", explicou.
Segundo Figueiredo, é a necessidade de chegar em cidades sem voo regular que explica a expansão da frota em 2012, um ano que foi desfavorável para a venda de aviões. A alta do dólar e a desaceleração da economia brasileira impactaram negativamente o mercado.
O Brasil encerrou 2012 com 122 cidades atendidas por voos regulares, dez a menos que no ano anterior. O governo quer reverter esse quadro e prepara um plano para incentivar a aviação regional, que prevê a reforma de 270 aeroportos no interior.
Mas, enquanto as companhias aéreas continuarem a concentrar seus voos nas capitais, a tendência, segundo especialistas, é de que mais empresários, executivos, agricultores e até locutores de rodeio considerem a possibilidade de usar um avião próprio para rodar o Brasil.”
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FONTE: publicado no jornal “O Estado de São Paulo” (Estadão) e transcrito no portal da FAB (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=notimp) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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