Guru tucano explica por que a oposição (e a mídia) são contra políticas de redução da desigualdade (contra a “gastança”)
Por Eduardo Guimarães
“O fraco crescimento do PIB de 2012
vem se mostrando objeto de esperança dos grupos políticos, econômicos e
midiáticos de oposição ao projeto político que governa o Brasil desde 2003.
Mais uma vez.
Em alguma medida, no entanto, fazer
essa aposta outra vez chega a espantar. Afinal, não faz muito tempo que foi
feita e perdida por quem fez.
Em 2009, às portas do ano eleitoral
de 2010, o discurso tucano-midiático era exatamente o mesmo que o de hoje, só
que a situação era muito mais grave. 2008 terminara sob a égide da eclosão da
crise econômica das hipotecas norte-americanas que, dali em diante,
contaminaria o mundo.
O desemprego aumentou
consideravelmente entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. A
produção e as vendas no comércio praticamente ficaram paralisadas, até que o
governo começasse a liderar a reação da economia brasileira investindo pesado.
O ano que precedeu a eleição
presidencial de 2010, sob o aspecto do PIB, foi um presente para a oposição.
Afinal, em 2009 o Brasil não teve “pibinho”, teve recessão. Isso mesmo, o
tamanho da economia brasileira reduziu-se em 0,2% e o nível de emprego, ao fim
daquele ano, apenas retornou ao que estava ao fim de 2008, quando a crise
internacional explodiu.
Contudo, a partir do segundo
semestre de 2009 já se começava a sentir reação da economia como a que já se
faz sentir agora e que, ao longo do ano eleitoral de 2010, chegaria a
experimentar crescimento próximo ao nível chinês, com aumento do PIB de 7,5%.
Diante dos resultados ruins do
último trimestre de 2008 e do primeiro semestre de 2009, mídia e oposição
duvidaram de que fosse possível uma reação e já davam como favas contadas a
derrota do “poste” Dilma – outros viriam
– não apenas pelo nível de emprego que sofrera a primeira redução em anos, mas
por a candidata à sucessão de Lula nunca ter disputado uma eleição na vida.
O fim dessa história todos
conhecemos. Mas o que há para resgatar é a velha discurseira tucano-midiática
que se abate sobre o país toda vez que o resultado do PIB não é brilhante,
mesmo que indicadores sociais revelem que mais ou menos crescimento não é fator
determinante das condições de vida da maioria.
Se tomarmos como exemplo um
editorial da mídia oposicionista de março de 2009, encontraremos argumentação
igualzinha à que tem sido vista nesses veículos nos últimos tempos.
Abaixo, editorial da Folha de São
Paulo de 11 de março de 2009.
FOLHA DE SÃO PAULO, 11 de março de 2009
“Editorial
QUEDA VERTIGINOSA
Recuo no PIB reafirma necessidade de
ações anticrise, mas arsenal é limitado pelo pendor à gastança dos governos.
A HISTÓRIA , mais à frente, irá decerto
atenuar a sensação de que uma nova era da economia global se impôs, num chofre,
entre setembro e outubro, subvertendo o que prevalecia até o instante
imediatamente anterior. Mas é essa a impressão que resta depois da divulgação
de estatísticas como a do PIB brasileiro.
A produção de bens e serviços no país
crescia num ritmo anualizado de 7% até setembro; entrou em mergulho radical nos
três meses seguintes, quando a taxa, se anualizada, resultaria em -13,6%. Não
há cenário, previsão, estimativa ou modelo econométrico que parem de pé diante
de inversão dessa magnitude. A incerteza sobre o comportamento da atividade
econômica, em especial para este ano e o próximo, atingiu proporções
ofuscantes.
Os números do IBGE confirmam que veio da
indústria o principal vetor de retração no último trimestre de 2008. O volume
da produção fabril decresceu 7,4% em relação ao período imediatamente anterior.
As decisões de frear fortemente as linhas de montagem foram concomitantes a
outras, destinadas a cortar, também brutalmente, as despesas com aquisição de
máquinas, equipamentos e construção civil.
Essa classe de gastos, os investimentos
produtivos, se expandia numa velocidade “chinesa”: suficiente para duplicar o
volume de dispêndios em expansão da capacidade produtiva a cada nove anos.
Passou-se no quarto semestre, sem direito a fase intermediária, a uma realidade
que lembra a Grande Depressão -os investimentos diminuíram ao ritmo,
anualizado, de 33%.
Não se pode, obviamente, tomar a pior
fase da crise, até aqui, pelo todo. Dados preliminares acerca dos primeiros
dois meses de 2009 mostram que aqueles índices de vertiginosa retração não se
repetiram. Em alguns setores, caso da indústria automobilística, há sinais de
incipiente recuperação. Nada, contudo, que já possa assegurar crescimento
positivo do PIB neste ano.
Tampouco é recomendável desprezar a
notável prosperidade verificada entre 2004 e 2008. Na esteira da bonança
global, a economia brasileira mais que dobrou seu ritmo de expansão em relação
às duas décadas anteriores. Com saldos comerciais expressivos e entrada maciça
de capitais, o Brasil pôde, mediante prudente acumulação de poupança em
dólares, aumentar a proteção contra crises externas.
Infelizmente, essa linha de prudência não
abrangeu os gastos de custeio dos governos -federal, estaduais e municipais-,
que dispararam no período. Se o poder público tivesse controlado seu pendor
natural à gastança, teria agora um arsenal menos limitado para combater os
efeitos deletérios da derrocada global.”
—–
As semelhanças com o presente não
são mera coincidência. Era ano pré-eleitoral como este e vínhamos de um fim
melancólico do ano anterior, em termos de crescimento e emprego. A única
diferença é a de que em março de 2009 as expectativas pareciam menos
promissoras do que as de março de 2013.
Todavia, como já havia expectativa
de retomada, o discurso era exatamente o mesmo de hoje, de relativizar os
sinais de aquecimento na economia dizendo, de uma forma ou de outra, que o
modelo econômico em curso – baseado no
consumo de massas – estaria “esgotado”.
Chega a ser risível dizer que o
consumo de massas possa estar perto do patamar de estabilização em um país em
que tanta gente ainda não consome mais do que o básico do básico. Mas, enfim, é
nisso que a direita midiática acredita – ou
quer acreditar.
Enfim, a aposta no ritmo mais fraco
da economia se mostra fadada a novo fiasco por duas razões.
Primeira razão: o país deve retomar
o crescimento em 2013 e não no ano eleitoral de 2014, enquanto que, no
penúltimo ano pré-eleitoral, não houve retomada e houve até recessão, o que
permitiu à oposição brandir a retração de 0,2% de 2009 na campanha de 2010.
Segunda razão: assim como o discurso
sobre 2009 não empanou a sensação de bem-estar da população em 2010, em 2014 o
“pibinho” de 2012 será história e o de 2013 deve ser no mínimo saudável,
segundo já reconhecem mesmo os analistas da oposição.
Por fim, resta dizer que, mesmo que
a eleição fosse neste ano, com “pibinho” em 2012 e crescimento apenas médio em
2013, dificilmente isso iria interferir na visão que o brasileiro vem mantendo
de que o governo impede que a crise chegue a si.
Trecho do Estudo do “Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada” (IPEA) “A Década Inclusiva (2001-2011):
Desigualdade, Pobreza e Política de Renda” permite entender melhor a questão.
“Numa sociedade de 10 pessoas, se 1 tem
renda 10 e os 9 restantes tem renda 0; ou no extremo oposto, se 10 tem a renda
igual a 1; o PIB é o mesmo. O PIB é uma medida de bem-estar social que, por
construção, não se importa com as diferenças entre pessoas, apenas com a soma
das riquezas produzidas”.
—–
Ora, o mesmo estudo mostra que a
distribuição da riqueza, seja ela alguns pontos percentuais maior ou menor, é o
que importa, pois é o que as pessoas sentem.
Nesse aspecto, segundo o IPEA,
durante a última década o Brasil reduziu a desigualdade, fato que não ocorria
de forma contínua e não chegava a índices tão baixos desde 1960, quando a série
histórica começou a ser construída.
“Este
é o menor nível de desigualdade da história documentada, embora o Brasil ainda
seja desigual”, enfatizou o Pesquisador do IPEA Marcelo Néri. O Índice GINI,
que mede a desigualdade, chegou a 0,527 em 2011 e em 2012 chegou a 0,519 –
quanto mais próximo de 0, menos desigual é um país.
Em 2001, o Índice de GINI do Brasil
era de 0,61 e, em 1960, era 0,535. Durante a ditadura militar, a riqueza se
concentrou fortemente, a desigualdade chegou a cair um pouco no início do plano
real e depois, ao fim do governo FHC, voltou a subir.
Há anos que este blog vem dizendo
que não é o nível do PIB e não é, apenas, o nível de emprego que mantêm o
governo bem avaliado pelo eleitorado, mas a distribuição de renda.
Há alguns dias, algumas dezenas de
manifestantes foram às ruas protestar contra Lula em São Paulo. Na quase
totalidade, eram pessoas favorecidas pela sorte e que não se conformam com um
fenômeno que a Era Lula-Dilma inaugurou no Brasil: distribuição de renda.
No imaginário do brasileiro
remediado, que hoje é maioria, há uma elite branca e preconceituosa que quer
tirar o PT do poder e pôr o PSDB porque é o partido que defende os interesses
dos ricos. Até aqui, essa percepção não mudou uma vírgula. E não será “pibinho”
que irá operar tal milagre.”
FONTE: escrito
por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/03/desempenho-do-pib-nao-interfere-no-animo-do-eleitorado/).
[Imagem inicial obtida no Google e
adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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