A presidente da Petrobras garante que a maior empresa do país está capacitada para tocar todos os investimentos programados para 2013
“Não estamos em crise, garante Foster sobre a atual situação da Petrobras. Estamos em momento em que temos que superar grandes desafios, que são, ao mesmo tempo, enormes oportunidades para a companhia, disse a presidente ao “Correio Braziliense”
Por Vicente Nunes, Paulo Silva Pinto e Sílvio Ribas
A engenheira Maria das Graças Foster, 59 anos, é a primeira mulher a presidir não só a Petrobras, mas qualquer companhia de petróleo global. Em janeiro, completou um ano no cargo. O cotidiano da empresa não é, porém, novidade para ela. Graça Foster, como é conhecida, está há 35 anos na companhia, onde entrou como estagiária. Durante quatro anos, na gestão do antecessor, Sérgio Gabrielli, ela respondeu pela diretoria de Gás e Energia. Elegantemente, lembrou esse fato ao ser perguntada pelo “Correio” sobre os erros cometidos na empresa no passado recente. Para ela, ambos têm “estilos diferentes”, mas as mudanças que vem promovendo na petroleira não “contradizem” o que se fez antes.
Considerando-se a dificuldade para mexer numa empresa do porte da Petrobras, Graça não tem feito pouco. Está revendo o processo que levou a obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a custar cerca de US$ 20 bilhões, 10 vezes mais do que o planejado inicialmente. Pretende vender a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, comprada em 2005. E pôs em prática programas para melhorar os resultados da empresa. A dúvida é se tudo isso pode fazer frente à defasagem entre os preços internos dos combustíveis e a cotação do petróleo no mercado internacional. Graça acredita que sim. E isso ficará claro, no entender dela, a partir do segundo semestre do ano. “a Petrobras não passa por uma crise”, assegura.
Formada em engenharia química pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 1978, tem mestrado em engenharia de fluidos e pós-graduação em engenharia nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fez, ainda, mestrado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Veja os principais trechos da entrevista:
A senhora afirmou que 2013 trará resultados para a Petrobras piores que os de 2012. Qual é a razão para o desempenho ser pior do que o de empresas equivalentes em porte e atuação no mundo?
Eu não disse, em nenhum momento, a palavra “pior”. O que eu afirmei foi que 2013 será um ano mais difícil, mas exequível. É importante que fique claro: a Petrobras não passa por uma crise. Estamos em momento em que temos que superar grandes desafios, que são, ao mesmo tempo, enormes oportunidades para a companhia. O resultado de 2012 deve ser creditado, principalmente, à desvalorização cambial, ao aumento da importação de derivados a preços mais elevados, ao aumento de despesas extraordinárias com poços secos e subcomerciais e à menor produção de petróleo em relação a 2011. Reconhecemos as dificuldades que se apresentam e estamos trabalhando ininterruptamente para superá-las. Assim, após extenso e detalhado diagnóstico das atividades operacionais, nós definimos prioridades e implementamos ações estruturantes, de curto e médio prazo, para aprimorar os resultados econômico-financeiros da companhia.
Os Programas de “Otimização de Custos Operacionais” (PROCOP), de “Aumento da Eficiência Operacional da Bacia de Campos” (PROEF), de “Desinvestimento” (PRODESIN) e de “Otimização de Infraestrutura Logística” (INFRALOG) são exemplos dessas ações. Estamos mais bem preparados, organizados, para superar esses desafios, e os resultados já são evidentes.
Não é verdade que o desempenho da Petrobras tenha sido o pior entre as empresas equivalentes em porte e atuação no mundo. Se compararmos nosso lucro líquido com o de outras grandes empresas do setor, veremos que aquelas empresas também registraram queda em 2012 frente a 2011. Por outro lado, a Petrobras foi a única entre as grandes companhias a ter crescimento na produção de óleo e gás natural de 2002 a 2012, de 45% — enquanto a média de crescimento das outras grandes empresas com ações no mercado, no mesmo período, foi bem menor.
Em que medida os objetivos e métodos adotados pela gestão de seu antecessor, Sergio Gabrielli, comprometeram o desempenho operacional e financeiro da Petrobras?
As mudanças estruturais que estão sendo implementadas em minha gestão não vieram de uma hora para outra. Ainda na gestão de Gabrielli, da qual eu participei como diretora de Gás e Energia por quatro anos e meio, nós discutimos muitas mudanças na companhia. Algumas delas, inclusive, foram implementadas durante a gestão dele. Dou continuidade a um trabalho que nós começamos lá atrás, e que muito provavelmente estaria sendo feito de forma parecida por meu antecessor. É natural que tenhamos estilos diferentes, mas isso não significa contradição.
Pelos cálculos de sua equipe, qual é a defasagem remanescente nos preços de combustíveis após os reajustes autorizados pelo governo nas refinarias?
Não devo falar sobre o valor da defasagem de preços, pois há um conjunto de elementos que variam diariamente, como o preço do petróleo, a taxa de câmbio e o nível de consumo de determinado derivado no mercado mundial. Além disso, influenciam também os custos da importação, que variam de acordo com o país do qual estamos importando o combustível.
É extremamente importante salientar que, nos últimos nove meses, tivemos quatro reajustes de preço do diesel, que somaram 21,9% de aumento, e dois reajustes de preço da gasolina, que somaram 14,9% de aumento. Mas a desvalorização cambial acabou prejudicando maior convergência dos preços domésticos com os preços internacionais.
Essa diferença ainda compromete investimentos e rentabilidade da empresa?
Não há comprometimento da capacidade de investimentos da Petrobras. Em 2012, cumprimos integralmente o que estava previsto no Plano de Negócios e Gestão, e não temos dúvidas de que vamos cumpri-lo também em 2013.
Está mantida a sua expectativa de que a recuperação financeira e operacional fique evidente a partir do segundo semestre, melhorando os balanços anuais a partir de 2014?
Sim. Mantemos nossa expectativa de melhor resultado operacional a partir do segundo semestre, conforme afirmei aos analistas e investidores em 5 de fevereiro, durante a divulgação dos resultados de 2012. O ano de 2013 terá dois semestres muito distintos. No primeiro, teremos menor patamar de produção de petróleo devido à concentração de paradas programadas, bem como a menor contribuição dos novos sistemas de produção que estão entrando em operação, como o “FPSO Cidade de São Paulo” (janeiro), o “FPSO Cidade de Itajaí” (fevereiro) e o “FPSO Cidade de Paraty” (maio). No segundo semestre, contaremos com a maior produção dessas três unidades e também com a entrada em produção da P-63 (julho), da P-55 (setembro), da P-58 (novembro) e da P-61 (dezembro), dando sustentação para o aumento consistente da produção previsto para 2014.
Houve erros estratégicos além da conjuntura?
Nossos acertos em 2012 levaram ao bom desempenho operacional, o qual pode ser medido, entre outros resultados, pelo atingimento da meta de produção (1,98 milhões de barris por dia), aumento das reservas de óleo e gás (índice de reposição de reservas de 103,3%), aumento da produção do pré-sal (36% em relação a 2011), recorde de processamento do parque de refino (2,1 milhões de barris por dia em agosto de 2012), recorde de geração de energia (5.883 megawatts em novembro de 2012) e recorde de entrega de gás nacional (49,6 milhões de metros cúbicos diários em outubro de 2012). O bom desempenho operacional continua presente em 2013. No refino, por exemplo, já batemos novos recordes em 2013, atingindo 2,11 milhões de barris diários de processamento em 1º de janeiro e 2.12 milhões em 2 e 3 de março.
A senhora referiu-se ao processo de construção da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco como “uma história a não ser repetida” em razão de atrasos e aumento de custos de quase 10 vezes em relação ao valor inicialmente previsto. Por que esses problemas aconteceram?
As projeções iniciais de custos da Refinaria Abreu e Lima referiam-se a um projeto em fase inicial de avaliação, cujo grau de definição nos permitia ter estimativas apenas preliminares em relação a custos de infraestrutura, demandas ambientais, integração entre unidades e extramuros. O maior grau de definição e detalhamento, incorporado a fatores como otimização de escopo, ajustes cambiais e aquecimento de mercado, entre outros, fez com que o valor do investimento tivesse incremento com a evolução do projeto.
Diversos fatores contribuíram para as variações de prazo, entre eles a necessidade de realizarmos, em alguns casos, novos processos licitatórios devido a preços excessivos. Outros fatores importantes foram greves, condições ambientais e construção de infraestrutura para acesso ao local da obra. Falar em “lições aprendidas” — jargão muito usado na Petrobras —, lições essas que devem ser debatidas, escritas e aprendidas para não serem repetidas, significa falar em processo de melhoria contínua da gestão de implantação de empreendimentos. Aprimoramos continuamente nossos processos e práticas, aprendendo com os erros e com os acertos, incorporando esse aprendizado aos novos projetos, com no caso das refinarias Premium I e Premium II.
A senhora mostrou frustração com os prejuízos gerados pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2005. Esse projeto ainda pode ter algum efeito benéfico, sobretudo no momento em que a Petrobras está se desfazendo de ativos no exterior?
A refinaria de Pasadena faz parte do nosso programa de desinvestimento. Paralelamente, caso a refinaria saia da carteira de desinvestimento, a companhia dedica-se a avaliar potencial agregação de valor ao ativo de tal forma que o negócio melhore suas margens.
A estatal tem informado que o cronograma de construção das refinarias é adequado. A demanda atropelou o calendário estabelecido para 2014 a 2016? Novas unidades programadas para o Nordeste, no Ceará e no Maranhão, são realmente necessárias?
O crescimento do nosso parque de refino está associado às necessidades do mercado brasileiro de combustível, além de permitir maior sinergia com as demais refinarias da companhia. Portanto, o aumento da demanda já justifica as novas refinarias do Nordeste — são importantes sim. A entrada em operação da primeira fase da Refinaria Abreu e Lima está mantida para novembro de 2014, e a primeira fase do COMPERJ para abril de 2015. Em relação às refinarias Premium I e Premium II, ambas fazem parte do “Plano de Negócios e Gestão 2012-2016” e atualmente passam por otimização do projeto buscando atingir as métricas internacionais.
A senhora pediu aos acionistas para continuarem apostando no futuro da Petrobras, embalada pelas descobertas e potencialidades. Acha que eles saberão esperar?
Reafirmo minha sólida convicção sobre as perspectivas de médio e longo prazo da companhia, que reagiu de forma positiva frente às adversidades de 2012, e o fará em 2013. Aliás, já está fazendo. A direção da companhia reconhece os relevantes desafios que se apresentam e vem trabalhando ininterruptamente para vencê-los.”
FONTE: reportagem de Vicente Nunes, Paulo Silva Pinto e Sílvio Ribas, no “Correio Braziliense”. Transcrita no site “DefesaNet” (http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/9996/PETROBRAS---Nao-estamos-em-crise--garante-a-presidente).
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