O jornal norte-americano “The New York Times” publicou ontem o seguinte texto de Alexei Barrionuevo (li no UOL em tradução de George El Khouri Andolfato):
O presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, revelou uma nova estratégia de Defesa na quinta-feira (18), pedindo por uma modernização das Forças Armadas e reestruturação da indústria de material de defesa. O plano também pede por um debate no Brasil sobre se o serviço militar obrigatório deve prosseguir e como profissionalizar as Forças Armadas.
Com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica brasileiros presentes, Lula disse em um discurso aqui que o Brasil, apesar de sua história pacifista, precisa de uma defesa mais forte contra uma agressão potencial caso prossiga na estrada para se tornar uma potência global.
A nova visão estratégica, em elaboração há mais de um ano, pede que o Brasil invista mais em tecnologia militar, incluindo satélites, e construa uma frota de submarinos nucleares que seria usada para proteger as águas territoriais e as plataformas de petróleo em águas profundas do país. A proposta também pede por uma ampliação das Forças Armadas para proteção das fronteiras do país na Amazônia e um novo treinamento das tropas, para que sejam capazes de ataques rápidos, em guerra ao estilo guerrilha.
"A visão do Brasil para o papel de suas forças armadas se encaixa bem com a crescente seriedade internacional do país e sua capacidade econômica e institucional", disse Michael Shifter, um vice-presidente da Diálogo Interamericano, um grupo de pesquisa de políticas em Washington. "Ele está buscando ser um poder nacional mais coeso, e isso exige o exercício de pleno controle sobre seu vasto território e fronteiras."
Apesar do recente boom econômico do país e do forte papel que os militares tradicionalmente exercem na sociedade brasileira, os gastos em defesa estão estagnados e seu contingente permanece constante em cerca de 312 mil homens, disse o governo. O Brasil gastou a menor proporção de seu produto interno bruto em Defesa em 2006 do que quatro de seus vizinhos sul-americanos -Bolívia, Chile, Equador e Colômbia- segundo a Rede de Segurança e Defesa da América Latina, um grupo de pesquisa com sede em Buenos Aires.
A nova estratégia de defesa do presidente, apresentada em um documento de 101 páginas, foi apresentada em um momento em que o tráfico de drogas está aumentando ao longo das fronteiras do Brasil na Amazônia e alguns dos vizinhos do país -incluindo a Venezuela, Colômbia e Chile- estão modernizando suas forças armadas. A Venezuela está particularmente ativa, comprando US$ 4 bilhões em armas da Rússia.
As autoridades brasileiras negaram que o reforço pela Venezuela de suas forças armadas ou os planos da Marinha dos Estados Unidos de reviver a 4ª Frota para patrulhar o Atlântico Sul tenham influenciado diretamente a criação da nova estratégia militar.
"Nós não estamos preocupados com a força de nossos vizinhos, mas estamos preocupados com nossa própria fraqueza", disse Roberto Mangabeira Unger, o ministro de Assuntos Estratégicos e um co-autor do plano. "A Estratégia Nacional de Defesa não é uma resposta circunstancial para problemas circunstanciais. Ele é uma inflexão abrangente, uma mudança de curso e uma mudança de direção."
As relações entre o Brasil e a Venezuela permanecem essencialmente amistosas, e os líderes latino-americanos estão apregoando a unidade regional como forma de enfrentar a recessão global. Lula e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estão defendendo a criação de um conselho de defesa sul-americano, uma idéia que foi discutida nesta semana em um encontro de líderes da América Latina e do Caribe no Brasil.
A nova estratégia de defesa pede que o Brasil se torne mais independente da tecnologia militar de outros países. Ela enfatiza uma reorganização da indústria da defesa para se concentrar na formação de parcerias com outros países, para que o Brasil esteja envolvido na criação de novas tecnologias. "Nós não estamos mais interessados em comprar armas das prateleiras", disse Mangabeira Unger.
As autoridades brasileiras contataram vários países a respeito de parcerias potenciais, incluindo os Estados Unidos, Índia, França, Rússia e Reino Unido.
O Exército brasileiro seria reformulado para ser uma força mais móvel, de ataque rápido. Apenas 10% de seus soldados estão atualmente treinados para rápido posicionamento. Todo o Exército seria reconstituído no nível de brigada para ser capaz de atacar rapidamente, "para que um guerreiro também possa ser um guerrilheiro", disse Mangabeira Unger.
O plano também envolve o cumprimento das leis existentes sobre o serviço militar obrigatório para atrair pessoas de todas as classes, não apenas as mais pobres, para compor uma força de combate altamente capacitada.
"Este será um novo debate para o Brasil sobre sacrifício nacional", disse Mangabeira Unger. "Não houve nenhum momento em nossa história nacional em que tivemos o tipo de debate que espero que teremos agora."
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