quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O CORTE DE GASTOS PÚBLICOS

Ontem, li no blog “Óleo do Diabo”, do jornalista, escritor e editor Miguel do Rosário, o seguinte texto de João Villaverde:

No Brasil, qualquer discussão macroeconômica esbarra no mantra liberal de "cortar gastos públicos". Esse mantra foi desenvolvido pela escola de Chicago, grupos de economistas acadêmicos radicados na Universidade de Chicago nos Estados Unidos, tendo à frente o papa liberal Milton Friedman.

Isso começou nos anos 70.

A partir do triênio 1979-1980-1981 isso virou escola mundial, quando Margaret Thatcher e Ronald Reagan, na Inglaterra e nos Estados Unidos respectivamente, começaram a defender o enxugamento do Estado.

Essa política, caracterizada pelo nome de "neoliberal" foi exportada pelo poder hegemônico emanado pelos dois países ao longo dos anos 80 e 90 para os países pobres e o resto do mundo. A idéia era diminuir ao máximo a participação do Estado na economia. Poucos países conseguiram escapar dessas políticas.

Foram duas razões principais:

1) Estavam todos, invariavelmente, quebrados, após o enorme endividamento dos anos 80. Diversos países pobres deram calote nas suas dívidas nos anos 80 e 90. O Brasil deu no fim de 1987. Como precisavam de dinheiro, se submeteram a todo tipo de pitaco dado pelos órgãos internacionais que "obrigavam" o neoliberalismo.

2) A elite desses países pobres que estuda em universidades dos países ricos e retorna aos seus de origem trazendo consigo o "pensamento moderno". Culturalmente, os países pobres somos colonizados e costumamos dar as honras nacionais aos nossos que trazem títulos de mestres e doutores em faculdades gringas. A elite então alcança cargos estratégicos no governo e nas empresas, e o rumo do país passa a ser ditado pelos interesses dos ricos.

E qual é o principal mantra?

O corte de gastos públicos.

Mas alguém já parou para pensar o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Inglaterra hoje? Não são eles os criadores do pensamento liberal? Então, vamos ver o que acontece:

- Os Estados Unidos estão comprando participações em bancos e instituições financeiras privadas para salvar o sistema do liberalismo. Quando deixaram a teoria liberal falar mais, deixando o Lehman Brothers falir em 15 de setembro, a crise alcançou patamares dramáticos. Elegeram um presidente negro - o país é historicamente racista - que promete criar 2,5 milhões de empregos públicos e promete um plano de US$ 800 bilhões.

- A Inglaterra viu seus bancos e instituições financeiras se meterem nas estripulias financeiras criadas pelo sistema americano. A crise chegou na Inglaterra antes de todo mundo, logo após surgir nos EUA. O que fez a Inglaterra? Estatizou o Northern Rock, um dos maiores bancos comerciais ingleses e o primeiro-ministro Gordon Brown é um dos maiores defensores da mudança do modelo atualmente.

Ainda assim, nossos cabeções não se dão por vencidos. Continuam defendendo que o governo corte gastos públicos.

E veja. Não estão defendendo um gasto público inteligente, que seja racional, atento para as necessidades. Não. Eles defendem o corte de gastos unilateralmente, sem critérios claros. E o pior: são estes cabeções, todos formados em universidades americanas e inglesas, colunistas dos grandes jornais, entrevistados nas rádios e nos telejornais, dirigentes de bancos e instituições e tudo o mais. Estes ocupam boa parte do noticiário.

A falta de espaço para gente séria faz com que ignoramos um comentário inteligente de um economista inteligente. O presidente do Ipea, o órgão de pensamento estratégico brasileiro, Márcio Pochmann, da Unicamp, disse recentemente o seguinte:

"Precisamos perguntar à população se ela está satisfeita com o serviço de saúde, se a educação atingiu um nível de qualidade que não precisa de mais recursos, construção de escolas... Todos defendem o corte dos gastos. Então pergunto onde cortar?"

Quando tratamos da Previdência, das hidrovias, rodovias, ferrovias, do transporte público, da educação, da saúde, do sistema penitenciário, das policias, da habitação, do setor público em geral, a grande pergunta que devemos fazer é: está bom do jeito que está?

Saber a resposta ajuda a entender que, por trás da ideologia, há muito interesse em jogo no Brasil.”

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