O jornal Folha de São Paulo publicou ontem o seguinte artigo do economista e ex-ministro Antonio Delfim Netto:
“Há economistas que pensam que as importações reduzem o PIB. Trata-se apenas de mais um dos equívocos a que leva a interpretação mecânica das identidades da contabilidade nacional. As importações são um fator de produção da mesma natureza que o trabalho, o capital e a disponibilidade de energia. É por isso que a taxa máxima de crescimento a longo prazo de um país é limitada pela sua capacidade de pagar sua importação.
No mundo real, a quantidade de bens e serviços que se importa para produzir o PIB deve ser paga pela quantidade de bens e serviços que se exporta, valorizadas por seus respectivos preços (fixados no mercado mundial e muito pouco influenciados pela oferta e demanda de cada país). O equilíbrio instantâneo entre o valor das importações e o valor das exportações é resultado ou do crédito que entre si se concedem os participantes do comércio mundial ou do uso das eventuais reservas de moeda externa construídas nos momentos superavitários.
A história mostra, entretanto, dois fatos desagradáveis: 1º) à medida em que um país permanece deficitário, acumula dívida externa cujo risco e, portanto, custo, cresce; e 2º) os credores têm o mau hábito de querer receber o seu crédito e, geralmente, o exigem quando há um estresse no mercado financeiro mundial. A morte "súbita" do crédito impõe, então, um desastroso ajuste interno, com dramática redução do ritmo de crescimento do PIB. De que depende a "capacidade de importar"? Primeiro, da quantidade física exportada e, segundo, da relação preços da exportação/ preços da importação (que tem o nome de "relação de troca") o que mostra a importância de exportação física para o ritmo do crescimento. Os dois fatores respondem à evolução da economia mundial, o que sugere que sempre haverá alguma correlação entre o crescimento de cada país e a soma do crescimento dos seus parceiros.
Sugere um pouco mais: quando há um estresse do mercado financeiro a acomodação dos déficits eventuais é mais difícil e, provavelmente, aquela correlação crescerá.
Outro dia assisti, pasmo, a um de nossos economistas afirmar que as exportações do agronegócio (resultado de nossas vantagens comparativas naturais) são capazes de sustentar nosso crescimento, como "provou a virada de 2003-06".
Esqueceu-se, apenas, que entre 1995 e 2002 (com a mesma produtividade daquele setor, mas sem a expansão mundial), acumulamos US$ 200 bilhões de déficits em conta corrente: fomos duas vezes ao FMI e crescemos apenas 2,3% ao ano! É isso que impõe um papel ativo e inteligente do Estado-Indutor na construção do setor exportador.”
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