sábado, 24 de janeiro de 2009

RECORDAR É VIVER

O site “Terra Magazine” apresenta o seguinte artigo de Rui Daher. O autoe é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola:

Alguns leitores escreveram dizendo não entender o comportamento atual dos preços dos fertilizantes.

Estranho, pois tenho pouca lembrança de que algum dia tenham se comportado bem, não importa o lado do balcão em que você está. Para a indústria, sempre insuficientes; para a agricultura, "pela hora da morte".

Nada, pois, que não esteja no âmago da atividade comercial.

Essencial para obter produtividade, o fertilizante é um bem que precisa ser comprado, embora no Brasil, ainda hoje, seja ferozmente vendido.

Suas repercussões nos preços do mercado final têm sido mais marcadas pelos ciclos de expansão da produção nacional do que pelas contrações na demanda, estas, historicamente, de curta duração. Quando tais conjunturas coincidem, o resultado é devastador.

Enquanto a indústria de matérias-primas básicas e intermediárias, formada na década de 1950, foi insuficiente ou pouco competitiva para atender a demanda, tudo andou bem. O equilíbrio era mais fácil de ser obtido.

A partir da década de 1970, resultado da política econômica voltada à substituição de importações e de programas governamentais de incentivo ao consumo, houve forte expansão da produção nacional.

Entre 1974 e 1982, a compra pela PETROBRAS do complexo da ULTRAFÉRTIL, em Cubatão, o início da produção de fosfatados no Triângulo Mineiro (FOSFÉRTIL) e a inauguração de uma nova unidade da Ultra em Araucária (PR), todos eles investimentos estatais, permitiram um expressivo aumento da oferta.

Ficavam, então, evidentes os sinais de que os preços dos fertilizantes poderiam causar baixas entre os protagonistas do mercado. Quem? Dependeria do mercado externo. Se de escassez, correr-se-ia para a produção nacional; se de fartura, claro que a preços baixos, promover-se-ia a abertura dos portos.

Ainda que os produtores reagissem com mecanismos artificiais de contenção das importações, o equilíbrio ficava ainda mais distorcido.

A partir daí, a concorrência entre as empresas voltadas à venda para o agricultor ou à sua cadeia de distribuidores, tornou-se fatal, levando o setor a uma crise que perdurou por quase 15 anos, até desaguar nas privatizações do início da década de 1990.

Na origem, o processo de privatização teve caráter preservacionista. A matéria-prima concentrada em poucas empresas pressupunha controle da oferta.

Poderia ter sido a solução, se tivesse durado mais. A interrupção veio com a boa notícia da violenta expansão de demanda desta década. Entre 2000 e 2007, o consumo cresceu na base de 6% a.a, só que trouxe consigo o mau agouro do excesso de oferta e, mais uma vez, o ciclo se tornava importador e o mercado mais concorrido.

Depois de ter registrado, em 2007, um aumento de 17% sobre a demanda do ano anterior, o setor acreditou em novo crescimento para 2008. Obrigado pela sazonalidade, supriu-se aos caríssimos preços vigentes no ano passado. A demanda não veio (queda próxima de 10% sobre 2007), e os estoques sobraram para fora da estação.

Hoje, seguindo a tendência de praticamente todas as commodities do mercado mundial, os preços internacionais dos fertilizantes entraram em colapso, e os estoques no Brasil estão sendo desovados, em média, pela metade dos preços praticados no ano passado.

Alguma novidade nisto?

Nada que não tivesse sido eternizado no samba "Recordar", de Aldacir Louro, escolhido por um júri reunido no Teatro João Caetano como um dos dez mais populares do carnaval de 1955. Para o setor, de todos os carnavais.”

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