Li hoje no site “vermelho” o seguinte artigo escrito por Rodrigo Vianna, em seu blog:
“Nos Estados Unidos, as redes de TV perdem importância, perdem dinheiro (a eleição de Obama, como se sabe, foi a primeira pautada pela internet). Na Europa e na América do Norte, jornais demitem, são vendidos para outros donos; as tiragens despencam. Mas a crise da mídia corporativa (que ainda mantém enorme poder no mundo inteiro) não é só econômica. E não tem a ver, apenas, com o naufrágio da economia dos Estados Unidos.
“Há uma crise de objetividade, de credibilidade. A mídia perdeu a aura de neutralidade.
Caiu esse mito. Com ele, caiu também a autoridade dos meios para ditar o que as pessoas devem pensar", diz Pascoal Serrano, do site espanhol Rebelión. Serrano foi um dos palestrantes no Fórum Mundial de Mídia Livre, que acontece em Belém do Pará.
Em uma das mesas, jornalistas brasileiros e convidados da Argentina, Uruguai, México, Espanha e França debateram: A Mídia e a Crise. O brasileiro Bernardo Kucinski (professor do USP) disse que boa parte da mídia adotou um tom "catastrofista" na cobertura da crise econômica mundial. "No Brasil, especialmente, houve uma torcida pra dar tudo errado, torcida pra levar o governo Lula ao fiasco."
Kucinski afirmou que a melhor cobertura da crise, surpreendentemente, veio de jornais dos Estados Unidos: "Foram a fundo, para mostrar como o carnaval das hipotecas tinha a ver com um modelo de sociedade que dominou os Estados Unidos nos últimos anos, onde todos sonhavam em virar sócios do crescimento capitalista".
Para o jornalista Altamiro Borges, que dirige o site Vermelho (PCdoB), "o grosso das corporações midiáticas é também culpada pela crise, porque fez a propaganda, durante anos, do desmonte do Estado, do desmonte da idéia de Nação, do desmonte do mundo do trabalho".
A argentina Sandra Russo, do Página 12, fez uma crítica aos jornais e sites de "esquerda": "Trabalhamos muitas vezes com uma linguagem envelhecida, que só convence aqueles que já estão convencidos de nossas teses. Nosso grande inimigo não é a mídia convencional, mas a frase feita e o lugar-comum, que não atraem novos leitores."
Os debatedores defenderam a criação de instrumentos mais eficazes, para conquistar o público hoje descontente com a mídia convencional. "Não queremos mais ser marginais, alternativos. Precisamos ser grandes", disse o uruguaio Joaquim Constanzo, da agência IPS.
O diretor da Carta Maior, Joaquim Palhares, propôs uma articulação internacional de sites, para criar um grande portal mundial que se contraponha às agências de notícias dominantes.
Mas, a proposta de criar veículos fortes, reduzindo a fragmentação hoje existente, encontra resistências.
Em outra mesa de debates em Belém, a professora Ivana Bentes (UFRJ) e o jornalista Renato Rovai, da Revista Fórum, defenderam a "horizontalidade", ou seja: acreditam que é preciso apostar em centenas, milhares de pequenos sites e produtores de mídia, que poderiam assim enfrentar o poder dominante da grande mídia.
Respeito muito a opinião de Rovai e Ivana, que estudam o assunto há vários anos. Mas, pessoalmente acredito que é preciso criar um Portal que reúna os jornalistas e os sites já existentes. A tal "horizontalidade", parece-me, não serve para enfrentar corporações de mídia que, apesar de debilitadas, ainda conseguem pautar o país (como vimos nas vésperas do primeiro turno, em 2006). E essas corporações já dominam também boa parte da produção de notícias na internet.
Um Portal não acabaria com autonomia de ninguém, cada blog ou site seguiria com total autonomia. Mas, haveria mais força para criar uma nova "agenda" de notícias.
O que você acha?
Penso nessas questões enquanto passeio pelo ginásio calorento, numa escola da periferia de Belém, onde acontece o Fórum Mundial de Mídia Livre. Agora, já não há palestrantes nas mesas. A temperatura passa dos 30 graus. O abafamento amazônico derruba minha pressão, mas não tira a empolgação de mais de duzentas pessoas, que formam um grande círculo no centro do ginásio.
Não há mesa "dirigindo os trabalhos", não parece haver hierarquia nas discussões. A maioria absoluta dos participantes tem menos de 30 anos. Há brasileiros, mexicanos, espanhóis, italiano. E também gente dos Estados Unidos e da África.
De pé, um rapaz de boné fala em nome das rádios comunitárias de Belém — perseguidas pela polícia, segundo ele.
Do lado de fora, num estúdio improvisado, voluntários transmitem os debates. Comunicação viva!
Aqui, o povo não parece ocupado em reclamar da mídia corporativa brasileira. A idéia é construir outra mídia!
A "horizontalidade" impera. Mas, será que basta?”
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