Li ontem no blog do Favre a seguinte reportagem de Cristiane Perini Lucchesi, de Paris, para o jornal Valor Econômico:
Economistas e analistas da “Conferência Risco País da Coface” são unânimes: o Brasil está se saindo relativamente bem em meio ao furacão
“O grupo dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), que reúne algumas das maiores economias dos países emergentes, foi atingido pela crise de crédito com força após a quebra da Lehman Brothers, em meados de setembro do ano passado. O Brasil, no entanto, está se saindo relativamente bem em meio ao furacão, segundo opinião unânime dos analistas e economistas presentes à Conferência de Risco País da Coface 2009.
A seguradora de risco de crédito corporativo colocou em observação para possível rebaixamento a classificação de risco de crédito da China, que é “A3″, informou Yves Zlotowski, economista-chefe da Coface. A Rússia, que tem nota “B”, também acaba de ser incluída na mesma categoria, de acordo com Zlotowski. Já o Brasil, de nota “A4″, um degrau abaixo da nota chinesa e um degrau acima da russa, não sofreu qualquer alteração.
Desde o início da crise do “subprime” a Coface não alterou sua nota para o Brasil.
Segundo Zlotowski, de uma forma geral os Bric não têm déficit em conta corrente preocupante - diferentemente dos países bálticos e do Leste Europeu -, têm reservas internacionais de sobra e o déficit público está sob controle. O problema na China, no seu entender, é o baixo nível de transparência de suas empresas. Já na Rússia, o grande endividamento externo de suas empresas está “explodindo” com a desvalorização cambial dos últimos meses.
No Brasil, segundo ele, a dívida externa das empresas foi reduzida e alongada depois do susto de 2002, e representa menos em relação ao total. Além disso, o sistema bancário tem mostrado extrema “resiliência à crise”, afirma. A pauta de exportação brasileira é mais diversificada e as vendas são para um grande número de parceiros comerciais.
Diferentemente do México, que tem quase 80% de suas exportações destinadas aos Estados Unidos e acaba de ter sua nota reduzida de “A3″ para “A4″ pela Coface.
Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, acredita no aumento da probabilidade de moratória de países mais vulneráveis, que vão precisar da ajuda do Fundo Monetário Internacional, como a Hungria, Turquia, Romênia e países bálticos. A queda na arrecadação fiscal com o crescimento menor vai tornar mais difícil o pagamento da dívida para esses países, diz.
Para Rogoff, o Brasil e a Índia são dois países que estão se saindo melhor em meio à crise, mesmo considerando-se os países desenvolvidos. Ele projeta crescimento de 1% a 2% para o Brasil neste ano. “O Brasil parece estar em melhor forma do que os outros Bric”, concorda Alicia Garcia Herrero, economista-chefe para os mercados emergentes do BBVA de Hong Kong. Ela lembra que as reservas internacionais são suficientes para cobrir toda a dívida externa pública do país e que a depreciação cambial ajuda neste momento a reduzir a dívida líquida do setor público. Além disso, as altas taxas de juros e os níveis ainda elevados de depósito compulsório permitem estímulos monetários importantes ao crescimento. Ela lembrou, no entanto, que ninguém mais fala em descolamento.
Olivier de Boysson, economista-chefe para pesquisa de mercados emergentes do Société Générale, também vê os países do Centro e Leste da Europa como os mais vulneráveis.
“Os mercados emergentes vinham muito bem até bem recentemente, mas hoje estão sofrendo com a queda nos preços do petróleo e das commodities”, disse Rogoff, que prevê um crescimento de 6% para a China neste ano, em comparação com os 8% de Alicia Herrero. Rogoff lembra que os emergentes sofrem também com a falta de crédito para as empresas pequenas e médias nos países ricos, que compram os produtos desses países e estão ficando sem crédito. “Isso afeta suas exportações”, diz.
Para o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, os países emergentes serão os primeiros a voltar a crescer com mais força em 2010, puxando o crescimento econômico mundial.”
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