sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

AERONÁUTICA IMPLANTA LABORATÓRIO PARA ABRIR E LER CAIXAS-PRETAS NO BRASIL

Caixa laranja, chamada de "caixa preta"

Do G1

“A Aeronáutica implantou, no ano passado, em Brasília, laboratório com capacidade de abrir e analisar dados de ‘caixas-pretas’ de aviões civis e militares que tenham se envolvido em acidentes no Brasil. O portal G1 visitou o local para acompanhar o trabalho dos especialistas do ‘Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos’ (CENIPA).

Após a instalação do ‘Laboratório de Análise e Leitura de Dados de Gravadores de Voo’ (LABDATA) no ano passado, foram abertas e analisadas no Brasil 31 ‘caixas-pretas’ de aeronaves ligadas a acidentes. Em 2009, somente dois equipamentos tinham sido lidos após serem enviados para o exterior. Dentre as "caixas-pretas" lidas em 2011 no Brasil, há algumas de Bolívia e Colômbia.

Antes da implantação do laboratório, a Aeronáutica mandava os gravadores para o exterior em casos estritamente necessários. Isso porque há custos no deslocamento dos investigadores e a aeronave precisava parar de operar enquanto os dados eram obtidos. Foi isso o que ocorreu em 2007 com o gravador do Airbus da TAM que colidiu contra um prédio no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, deixando 199 mortos.

Ainda não temos a capacidade total de ler ‘caixas-pretas’ danificadas (como atingidas por fogo, cabos cortados, com interferências ou que sofreram algum dano), pois vamos adquirir em 2012 os kits para leitura mais complexa. Já conseguimos ler alguns gravadores danificados, entre eles o de uma aeronave boliviana e de um Learjet que caiu na Baía de Guanabara quando faria pouso no Aeroporto Santos Dumont, e que [a ‘caixa preta’] sofreu oxidação", disse ao G1 o coronel Fernando Camargo, que apurou as causas do acidente da TAM e é o diretor do LABDATA.

No caso do Learjet, tivemos que abrir a caixa metálica que protege [o gravador] e tirar a placa de memória, colocando-a em outro gravador do mesmo fabricante para que pudéssemos ler”, acrescenta o oficial. Se aberta de forma inadequada ou por pessoa não treinada, tudo pode ser perdido.

O gravador de dados, que registra informações como velocidade, altitude e como se comportaram os sistemas da aeronave, é hoje matéria-prima fundamental para se entender o que ocorreu em um acidente, pois nos dá informações precisas. Já o [gravador] de voz não é tão imprescindível, usamos apenas diálogos importantes. Às vezes, a Justiça nos pede a transcrição dos diálogos e nem sempre os temos”, explica Camargo. Cada dado que a ‘caixa-preta’ grava é chamado de "parâmetro".

Outra ‘caixa-preta’ que deu trabalho, após ser queimada externamente, foi a do acidente com um LET da companhia NOAR, que caiu no Recife em julho, deixando 16 mortos. “O gravador chegou ao laboratório em um sábado à tarde e não tínhamos o cabo compatível para recuperar as informações. Pela internet, ele custava muito caro, mas um amigo conseguiu comprar e nos enviar pelo correio”, relembra.

O CENIPA é o órgão responsável por investigar acidentes aéreos no Brasil conforme a lei federal de 1982 que criou o “Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos” (SIPAER). Segundo o chefe do CENIPA, brigadeiro Carlos Alberto da Conceição, auditoria da “Organização da Aviação Civil Internacional” (ICAO) apontou que o CENIPA atingiu em 2009 nível de conformidade de 96% conforme os padrões internacionais, empatado em primeiro lugar no mundo com a “Agência Européia para a Segurança da Aviação” (EASA). Não é necessária a homologação da ICAO para o CENIPA possuir um laboratório de ‘caixa-preta’.

COMO É O PROCESSO

O avião tem duas ‘caixas-pretas’, que, normalmente, ficam na parte traseira da aeronave: uma, que armazena os dados do vôo - dependendo da aeronave, podem ser até mil parâmetros por até 40 horas - e outra de voz, com os diálogos da cabine. Novos modelos, chamados de ‘combo’, unem as duas gravações em uma só caixa.

Quando o gravador não está danificado, não é necessário ser aberto. Um cabo é conectado e, através de sua ligação a um software compatível do fabricante da ‘caixa-preta’, é possível recuperar arquivo com os dados e o áudio. O trabalho mais difícil vem em seguida: a conversão da memória em ‘bits’ em informações tangíveis sobre o que ocorreu com o avião.

Cada tipo de ‘caixa-preta’ tem uma cablagem (modelo de cabo para download do arquivo bruto) e um software diferente para ser usado. A partir de sua aplicação conjunta, obtemos arquivo em código binário que armazena os dados sobre o que ocorreu durante o voo. As pessoas não conseguem entender o que houve com o avião apenas olhando os ‘bits’, precisamos convertê-los nos dados reais”, diz o oficial.

Cada sequência de 12 bits é chamada de "palavra". Existem ‘caixas-pretas’ que gravam de 32 a 1.024 ‘palavras’ por segundo. Para a conversão, o investigador informa ao computador em quais ‘bits’ e em quais conjuntos de ‘palavras’ o software deve buscar os registros do que precisa saber.

Para entender o que provocou a tragédia, o CENIPA precisa saber em quais palavras cada parâmetro foi gravado.

Outra análise é feita com a gravação das conversas da cabine, que passa por uma mesa de som onde é possível melhorar a qualidade e separar os quatro canais de áudio (piloto, copiloto, ambiente da cabine e do engenheiro - esse último quase não é mais usado).

PROBLEMAS NO BRASIL

Dentre as preocupações recentes do CENIPA quanto ao registro de dados, está o fato de orientar companhias aéreas e pilotos para que, no caso de incidentes graves durante o voo, a ‘caixa-preta’ seja desligada. Isso porque a gravação é contínua e, ao término do limite da memória, recomeça, perdendo todos os dados antigos.

A determinação de desconectar a ‘caixa-preta’ após algo grave é obrigatória pelos procedimentos expedidos pela ‘Agência Nacional de Aviação Civil’ (ANAC), mas nem sempre cumprida.”

FONTE: portal G1. Transcrito no site “DefesaNet”  (http://www.defesanet.com.br/aviacao/noticia/4353/Aeronautica-implanta-laboratorio-para-abrir-e-ler-caixas-pretas-no-Brasil).

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