Por
Eduardo Guimarães, no “Cidadania.com”
“Há
algumas semanas, recebi ligação de um amigo que veio me sugerir uma estratégia,
de que blogueiros que cobram investigação das suspeitas contra a Veja por seu
envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira concentrassem o foco na
revista. Para esse amigo, seria um erro de estratégia disparar contra outros
veículos da grande mídia.
À época,
até achei que aquele amigo poderia ter razão. Ainda assim, disse-lhe que achava
perda de tempo porque tinha quase certeza de que outros veículos tentariam
proteger o “Publisher” da Editora Abril e sua revista por saberem que se as
culpas de um e da outra fossem provadas, a regulação da mídia se tornaria
inevitável.
À época,
Globo, Folha, Estadão e todos os telejornais ainda hesitavam em meramente
noticiar as relações entre o editor de Veja Policarpo Júnior, Cachoeira e sua
quadrilha. Todavia, conforme as escutas da Polícia Federal envolvendo o editor
da revista foram surgindo, a imprensa, a televisão e até parlamentares que
integram a CPI começaram a tocar no assunto.
Com a
reportagem da Record no último domingo, a qual apresentou os motivos que
considerável parcela dos membros da CPI já enxergam para investigar a Veja, o
jornal O Globo publicou editorial ontem fazendo uma defesa desabrida de Roberto
Civita. O texto foi publicado sob o título “Roberto Civita não é Rupert
Murdoch”.
Além de
defender o “publisher” da Abril, o jornal da família Marinho partiu para o
ataque. Acusou blogs e órgãos de imprensa que cobram investigação das estranhas
relações da Veja com a quadrilha de Cachoeira.
Como
sempre fazem os grandes meios de comunicação ligados à oposição ao governo
federal quando a imprensa é questionada por meios de comunicação alternativos,
O Globo acusou sem dar nomes, limitando-se rotular a todos, indistintamente,
como “chapas brancas”.
Desafio O
Globo ou qualquer ser vivo a provar que este blog recebe um único benefício do
PT ou do governo federal. Abro todos os meus sigilos, contanto que o sujeito
que escreveu esse editorial abra os dele.
Vamos em
frente, pois.
Não foi
só honestidade que faltou ao editorial; faltou competência. O texto não resiste
ao mínimo de contraditório, razão pela qual esse e outros grandes veículos
ligados ao PSDB, ao DEM e ao PPS jamais deram espaço para que alguém expusesse
as razões para as cobranças contra a Veja. E muito menos deu espaço às
evidências que pesam contra ela.
Para
mostrar como foram ineptos a defesa e o ataque feitos por O Globo, reproduzo o
editorial em tela parágrafo por parágrafo (em negrito), porém apondo comentário
do blog após cada um deles (sem negrito).
—–
O GLOBO
8 de maio
de 2012 - Editorial
ROBERTO
CIVITA NÃO É RUPERT MURDOCH
“Blogs e
veículos de imprensa chapa branca que atuam como linha auxiliar de setores
radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista “Veja”, na
esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta.”
Por falta
de provas, o editorialista não dá nomes aos bois e nem faz acusação explícita
de que os tais “blogs e veículos de imprensa chapa branca” seriam pagos pelo PT
– faz, tão-somente, insinuação. E, à diferença do que fazia quando Lula estava
no poder, não diz mais que são linha auxiliar do governo, tornando óbvia a
intenção de não comprar briga com Dilma.
“A
operação tem todas as características de retaliação pelas várias reportagens da
revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas,
e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da
base aliada do governo”.
Sempre
insinuando de forma covarde, o texto apenas sugere que o PT teria organizado
alguma coisa. E ao dizer que a “operação” tem “características”, mostra que
está chutando. Além disso, oculta que Veja fazia reportagens que eram
comemoradas pela quadrilha de Cachoeira, como mostram as escutas da PF.
“É
indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da imprensa profissional como
um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar
em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao compromisso, antes do
presidente Lula e agora da presidente Dilma Roussef, com a liberdade de
expressão”.
Esse é um
dos trechos mais hilariantes . Quem escreveu foi o mesmo jornal que em 25 de novembro de 2010, por exemplo, ao
comentar entrevista que o então presidente Lula deu a blogueiros, afirmou que
ele “elegeu a grande imprensa como alvo principal” e “não poupou críticas aos
jornais”. De resto, por que o Globo diz ter medo se o caso Cachoeira só envolve
a Veja? A menos que o jornal saiba algo que ainda não sabemos…
“A
manobra se baseia em fragmentos de grampos legais feitos pela Polícia Federal
na investigação das atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, pela qual se
descobriu a verdadeira face do senador Demóstenes Torres, outrora bastião da
moralidade, e, entre outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a
construtora Delta.”
Fragmentos
de grampos?! Ora, a reportagem da TV Record do último domingo (que reproduzo ao
fim do post) mostra claramente a quadrilha comemorando efusivamente as matérias
que a revista soltava sob seu mando. Isso mesmo, os tais “trechos” mostram
Cachoeira MANDANDO Policarpo publicar matérias contra adversários dos seus
negócios ilegais.
“As
gravações registraram vários contatos entre o diretor da Sucursal de “Veja” em
Brasília, Policarpo Jr, e Cachoeira. O bicheiro municiou a reportagem da
revista com informações e material de vídeo/gravações sobre o baixo mundo da
política, de que alguns políticos petistas e aliados fazem parte.”
A maior
prova de que o editorial mente reside em que, até hoje, nem O Globo, nem Folha,
nem Estadão e muito menos a própria Veja publicaram os tais “fragmentos”. E não
publicaram porque ninguém que leia ou ouça o pouco que já vazou envolvendo
Policarpo concordará com a premissa do jornal.
“A
constatação animou alas radicais do partido a dar o troco. O presidente
petista, Rui Falcão, chegou a declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria ‘desmascarar
o mensalão’.”
Em que
isso absolve a Veja? Quer dizer que está proibido provar que a tese do mensalão
é uma farsa? E se surgirem provas no âmbito de uma investigação da imprensa
pela CPI? Ora, se não existir nada que desmascare a tese, por que se preocupar?
Do que O Globo, Veja e o resto da mídia oposicionista têm medo? Quem não deve,
não teme. Certo?
“Aos
poucos, os tais blogs começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de
“Veja” com o bicheiro. E, no fim de semana, reportagens de TV e na mídia
impressa chapas brancas, devidamente replicados na internet, compararam Roberto
Civita, da Abril, editora da revista, a Rupert Murdoch, o australiano-americano
sob cerrada pressão na Inglaterra, devido aos crimes cometidos pelo seu jornal
“News of the World”, fechado pelo próprio Murdoch.”
A
comparação que o editorial rechaça se deve às semelhanças entre Roberto e
Rupert. Eles não têm só os primeiros nomes e as aparências (vide foto acima)
parecidos. Há evidências de que usam métodos igualmente parecidos, e essa
dúvida só pode ser dirimida através daquilo que esse e outros veículos parecem
querer evitar desesperadamente.
“Comparar
Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé, pois o jornal inglês invadiu, ele
próprio, a privacidade alheia.”
O que
garante ao editorialista de O Globo que a Veja não só invadiu a privacidade
alheia como foi ainda mais longe? E onde fica a liberdade de expressão, o teste
de hipóteses que o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, sempre defendeu?
“Quer-se
produzir um escândalo de imprensa sobre um contato repórter-fonte. Cada
organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este
relacionamento — sem o qual não existe notícia — têm destaque, pela sua
importância.”
Balela.
Ba-le-la. Relação entre jornalista e fonte protegida por sigilo e aceita como
lícita, quase sempre envolve vítimas ou testemunhas de crimes. E, mesmo quando
envolve criminosos, é relação fortuita. Quando um bandido diz que quer dar
beijo no repórter, comemora o resultado das informações que passou, quando
repórter e fonte trocam centenas de telefonemas, vão a restaurantes, mantêm
relação que dura anos a fio, algo está muito errado.
“Como
inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso extremo cuidado
principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes no anonimato.”
Cuidado
que, como mostram os aperitivos das 200 ligações telefônicas entre Policarpo,
Cachoeira e a quadrilha, não existiu.
“Até
aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor de “Veja” estivesse
a serviço do bicheiro, como afirmam os blogs, ou com ele trocasse favores
espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o bicheiro se irrita com o fato de
municiar o jornalista com informações e dele nada receber em troca.”
Quem
pinça um trecho mínimo do que já vazou são o Globo, a Veja e os veículos
aliados a esses dois. É por isso, repito, que todos esses veículos escondem do
público o que a reportagem da TV Record de domingo passado mostrou. Por que
escondem? Porque é mentira grosseira que “Nenhuma das gravações indica que o
diretor de Veja estivesse a serviço do bicheiro”.
“Estabelecem
as Organizações Globo em um dos itens de seus Princípios Editoriais: ‘(…) é
altamente recomendável que a relação com a fonte, por mais próxima que seja,
não se transforme em relação de amizade. A lealdade do jornalista é com a notícia’.”
Ora,
bolas, mas é exatamente isso que mostram gravações que já vazaram: que havia
uma relação de amizade entre o “Poli”, Cachoeira e companhia limitada.
“E em
busca da notícia o repórter não pode escolher fontes. Mas as informações que
vêm delas devem ser analisadas e confirmadas, antes da publicação. E nada pode
ser oferecido em troca, com a óbvia exceção do anonimato, quando necessário.”
De novo:
as gravações mostram a quadrilha comemorando as matérias da Veja e até MANDANDO
Policarpo publicar matérias do interesse de Cachoeira, escolhendo até a seção
da revista onde deveriam sair. E a reprodução da reportagem da TV Record,
reproduzida abaixo, PROVA isso.
“O
próprio braço sindical do PT, durante a CPI de PC/Collor, abasteceu a imprensa
com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e
fiscal de PC e outros.”
Cadê a
prova de que quem passou ao PT informações que o partido divulgou durante a CPI
de PC/Collor era uma quadrilha como a que hoje está todinha vendo o sol nascer
quadrado? Que comparação escandalosa é essa?
“O
“Washington Post” só pôde elucidar a invasão de um escritório democrata no
conjunto Watergate porque um alto funcionário do FBI, o “Garganta Profunda”,
repassou a seus jornalistas, ilegalmente, informações sigilosas.”
O
Washington Post não fez favores a uma quadrilha (favores que ela comemorava) ao
publicar denúncias sobre o envolvimento de Richard Nixon no assalto ao conjunto
de escritórios Watergate.
“Só
alguém de dentro do esquema do mensalão poderia denunciá-lo. Coube a Roberto
Jefferson esta tarefa.”
E daí?
Roberto Jefferson não era um bicheiro, era um parlamentar. E, que se saiba, a
jornalista Renata Lo Prete, que extraiu dele a denúncia sobre o mensalão, não
vivia de namorico consigo. E, mesmo que assim fosse, não era um bandido com a
ficha de Carlinhos Cachoeira. E tampouco se sabe de que ela publicava
reportagens que ele comemorava. Além, é claro, daquela que gerou o escândalo do
mensalão.
“A questão
é como processar as informações obtidas da fonte, a partir do interesse público
que elas tenham. E não houve desmentidos das reportagens de “Veja” que
irritaram alas do PT.”
Aí a
mentirada se tornou tosca ao impensável. Quer dizer que o PT não desmentia as
reportagens da Veja? O que será que esse editorialista fumou antes de escrever?
Os desmentidos são fartos. Que O Globo cite alguma denúncia que este blog lhe
providencia o desmentido do partido.
“Ao
contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Dilma
Roussef, que demitiu ministros e funcionários, no que ficou conhecido no início
do governo como uma faxina ética. “
Bajular
Dilma não adianta nada. A própria imprensa (Folha) veiculou que ela ficou
irritadíssima ao perceber que foi usada pela quadrilha de Cachoeira no caso do
Ministério dos Transportes. E o fato de até hoje nenhum ministro demitido estar
sendo processado mostra que Dilma errou ao demitir com base em notícias de
jornais e revistas, erro que este blog cansou de avisar que ela estava
cometendo.
Não se
pode fazer como Veja, Globo e congêneres e condenar antes da investigação. O
que se quer é que tudo seja investigado, simplesmente porque há indícios. É
altamente suspeito que esses veículos resistam tanto. Se não têm nada a temer,
devem exigir ser investigados. Até para que não pairem dúvidas. O que Globo,
Veja e companhia têm a esconder?”
FONTE:
escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com" (http://www.blogcidadania.com.br/2012/05/globo-faz-defesa-inepta-de-civita-e-aumenta-suspeitas-2/)
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