Por Eduardo Guimarães, no
Cidadania.com
"Ontem foi um dia duro para a
democracia brasileira. Descobrimos o que fundamenta a ousadia e a arrogância
desmedidas dessas máfias da comunicação e a razão do estado de miséria em que
se encontram as nossas instituições. Sabemos agora por que gangsteres
empresariais, políticos, jurídicos e midiáticos ousam tanto.
Apesar de Roberto Gurgel ter sido
acusado por dois delegados da Polícia Federal de ter engavetado denúncias
contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres, o
procurador-geral da República aparece na tevê, banhado de arrogância, negando
explicações e acusando os parlamentares do governo e da oposição que as
pediram.
Aí vem a mídia e sustenta a
desfaçatez e a arrogância de Gurgel mesmo após ele ter permitido a Carlinhos
Cachoeira que continuasse corrompendo a República por quase três anos além do
necessário.
Em seguida, dois juízes do Supremo
Tribunal Federal se mostram em sintonia com o poder midiático. Gilmar Mendes e
Joaquim Barbosa dizem o impensável, que Gurgel é inatacável, fazendo-nos
refletir sobre como é possível que um cidadão seja colocado acima da lei por…
Juízes!
Mesmo que outro juiz, Marco Aurélio
Mello, tenha surpreendido a todos ao reconhecer a “extravagância” que foi
Gurgel atribuir a envolvidos no escândalo do mensalão a culpa por estar sendo
cobrado por sua inação pretérita, note-se que a opinião pública foi manipulada
porque os telejornais esconderam o fato.
Legislativo e Judiciário, portanto,
foram arrastados para o jogo político por meia dúzia de impérios de comunicação
pertencentes a meia dúzia de famílias. E como o PT e aliados têm o Executivo e
a maioria do Legislativo, além de seu quinhão no Judiciário, vemos os dois
lados mobilizando as instituições para uma guerra política.
Em jogo, o poder dessas empresas de
comunicação de inocentarem e acusarem a quem bem entendem enquanto se concedem
licença para o que lhes der na telha, num simulacro da mesma ascendência que
outro empresário tinha sobre as instituições e que considerava inesgotável.
Um empresário, no entanto, que hoje
está vendo o sol nascer quadrado.
A mídia, portanto, engana-se. Mesmo
com Gilmar Dantas – ou Mendes, tanto faz –, com o chefe do Ministério Público
Federal e com boa parte de seu corporativismo nas mãos, não deve se esquecer,
repito, de como Cachoeira já se considerou “inatacável”, de como superestimou o
próprio poder.
A mídia que acha que tem ainda menos
explicações a dar do que Roberto Gurgel, contudo, é a mesma que antes elegia
presidentes e que há 9 anos perdeu esse poder. E é a mesma que, agora, corre o
risco de ver outra grande manipulação sua virar pó.
Lembram-se de que a máfia midiática
dizia que havia mais evidências de envolvimento do governo Agnelo Queiróz com
Cachoeira do que deste com o governador Marconi Perilo? Lembram-se dos
diagnósticos de Reinaldo Azevedo ou de Merval Pereira, entre
outros calunistas do PIG, nesse sentido?
Agora, a cada minuto que passa
Perillo se enrola mais e vai ficando cada vez mais claro que Agnelo não tem
nada de mais grave pesando contra si. De que adiantou, então, a mídia manipular
os fatos? A verdade vai aparecendo. Quer queira, quer não. E não irá parar de
aparecer, pois, ainda que muitos não creiam, ela é uma força da natureza como o
vento ou a chuva.
O que preocupa, entretanto, é ver as
instituições se digladiando e até membros do STF estarem dando declarações a
favor de Gurgel mesmo a despeito de que, amanhã, esses mesmos membros poderão
ter que julgá-lo.
Como Joaquim Barbosa julgaria o
mesmo Gurgel que hoje diz “inatacável”? Como Gilmar Mendes poderia julgá-lo
após ter endossado sua acusação indigna de que os questionamentos contra si
derivam de “medo de envolvidos no mensalão”?
E mais: como dois juízes, sem
conhecer a fundo um caso, sem estudá-lo, sem analisar provas ou meras
evidências, podem emitir sentença tão séria?
Mesmo que a verdade triunfe, vamos
descobrindo quão podres ainda são as instituições no Brasil, infestadas que
estão de despachantes de interesses menores que podem vir a se revelar apenas
versões menos toscas de um Carlinhos Cachoeira, mas que, nem por isso, são
menos danosos à nossa combalida democracia."
FONTE:
escrito por Eduardo
Guimarães, noblog “ Cidadania.com” (http://www.blogcidadania.com.br/2012/05/o-cheiro-fetido-das-instituicoes/).
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