sábado, 31 de agosto de 2013

OS MOTIVOS PARA A INTERVENÇÃO NA SÍRIA

Por Rogério Maestri

QUAL O VERDADEIRO MOTIVO PARA INTERVENÇÃO NA SÍRIA? O IRÃ, A ARÁBIA SAUDITA OU A EUROPA?

“Quanto mais velha fica uma superpotência, maior é o número de jogadas de xadrez que são antecipadas no jogo internacional, e quanto maior o número manobras diversionistas que forem feitas, melhor será o jogo.

A possível intervenção na Síria é tida pela maior parte dos “analistas internacionais de geopolítica” como uma estratégia de cercar o Irã, porém, se for olhado com cuidado, essa hipótese mais parece uma manobra diversionista do que o verdadeiro jogo.

Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos estão num novo surto de produção de hidrocarbonetos, o gás do xisto e as areias betuminosas do Canadá. Ambas as fontes de combustível têm duas características em comum, são abundantes e caras.

Para a extração do gás através do fraturamento hidráulico ou o refinamento do betume das areias do Canadá, é necessário um preço do petróleo próximo aos US$ 100,00 o barril. Isto é facilmente verificável pela produção do gás por fraturamento, pois todas as vezes que esse preço atingiu valores da ordem de US$ 60,00 o barril, a produção dessas fontes despencam. Um poço que produz gás por fraturamento hidráulico tem, nos dois primeiros anos, perda de produtividade em torno de 60%. Logo, para manter a produção, é necessária a abertura de novos poços, encarecendo em muito o produto final.

Devido a isso, os Estados Unidos precisam de preço alto no petróleo, não para a segurança de abastecimento, pois tanto uma como outra fonte está no seu território ou está no seu quintal, mas sim para manter a competitividade internacional e, de preferência, acabar com a concorrência.

Quem compete com os Estados Unidos no mercado internacional? Europa, China e Índia. Logo, é necessário inviabilizar, ou pelo menos tornar cara, a produção industrial dos países que dependem de energia importada. Para isso, o melhor que eles podem fazer é manter caro o preço do petróleo no mercado internacional e ter fontes de energia de menor custo no seu mercado, mesmo que essa seja cara. O importante é ser mais barata do que nos outros mercados.

Pode-se pensar que um dos objetivos dos Estados Unidos seja de dominar o mercado internacional de petróleo. Conquistando Iraque e a Líbia, e se for conquistado o Irã, eles poderiam manter o preço alto artificialmente. Porém, como seus aliados europeus participam do saque do Iraque e da Líbia, não têm como garantir esse truste.

Agora, vamos aos fatos para tentar compreender a estratégia norte-americana. Tanto o Iraque como a Líbia não conseguem, e provavelmente não vão conseguir tão cedo, retomar a produção de petróleo que tinham antes das intervenções militares, pois zelosamente os verdadeiros amigos, os “radicais islâmicos”, não deixarão que isso ocorra.

Por outro lado, a produção de petróleo do Irã e de outros países detentores de grandes reservas (como Nigéria e Venezuela) não deslancha e nunca deslancharão. Ações de boicote às tecnologias mais sofisticadas de pesquisa e exploração de novos campos, que podem ser levadas por poucas empresas detentoras dessas tecnologias, inviabilizam o aumento da produção.

Resta somente um perigo, a Arábia Saudita. O reino, com suas dezenas de príncipes e com uma voracidade de dólares para sustentar toda a família real, pode simplesmente pensar em aumentar a sua produção para gerar receitas. A produção de petróleo da Arábia Saudita está estagnada a anos. De forma confortável, ela gera riquezas e satisfaz o “status quo” local. Porém, isso é garantido pelo atual Rei, ninguém sabe qual e como será o próximo! 

Há pouco, se começa a, de um lado para outro, ouvir-se vozes de príncipes contra a brutal e medieval dinastia saudita, algo muito conveniente. Prepara-se com tempo o próximo Rei; um Rei talvez mais permeável aos ditames norte-americanos e que terá uma primeira e grande missão. Desorganizar e diminuir a produção de petróleo da Arábia Saudita através de mais uma longa guerra.

Uma conclusão simples de tudo isso, é que o cerco é contra o Reino Saudita e o objetivo não é conquistar o domínio da produção do petróleo. É simplesmente inviabilizar o seu crescimento.”


FONTE: escrito por Rogério Maestri e publicado no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-motivos-para-a-intervencao-na-siria).

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