“O Projeto de Lei que propõe a ‘flexibilização’ do horário de veiculação da ‘Voz do Brasil’ pode resultar no fim do mais antigo programa de rádio do mundo. A proposta pretende deixar as emissoras de rádio comercias e comunitárias livres para escolher entre 19 e 22 horas o horário de transmissão.
O projeto, aprovado em 2006 pelos deputados, foi alterado no Senado e retornou à Câmara Federal em dezembro de 2010. Na semana passada, o PL entraria em votação, mas foi retirado da pauta. Há mais de 70 anos no ar, a “Voz do Brasil” é transmitida obrigatoriamente às 19h.
Diante do conflito de interesses que envolvem a proposta, a Radioagência NP entrevistou o jornalista e presidente da “TV Cidade Livre” de Brasília, Beto Almeida. Ele aponta que houve falta de discussão no plenário da Câmara e a tramitação no Senado ocorreu durante período esvaziado.
Almeida ainda chama atenção para a importância do programa como meio de acesso a informação para muitos cidadãos do interior do país. Para ele, existe evidente articulação das rádios comerciais para tornar o programa inviável.
Radioagência NP: Beto, como você avalia o projeto que pretende “flexibilizar” os horários de transmissão do programa “Voz do Brasil”?
Beto Almeida: A “flexibilização” da “Voz do
Brasil” é, na verdade, um cavalo de tróia que traz dentro de si a idéia de
extinção da “Voz do Brasil”. Tal como a ideia da “flexibilização” da CLT dos
direitos trabalhistas é ruim para os trabalhadores, a “flexibilização” da “Voz
do Brasil” é muito ruim para a população em geral porque as 7 mil rádios hoje
existentes no Brasil, a esmagadora maioria delas, não consegue produzir
jornalismo. Então, elas têm programas sofríveis, precários do ponto de vista
jornalístico, e não fazem integração nacional via informação. A informação se
revela como fator de missão social muito importante para integrar o país como um
todo.
Radioagência NP: A quem interessa o projeto?
Radioagência NP: A quem interessa o projeto?
BA: “Flexibilizar” é você dar às rádios
a possibilidade de escolherem o horário em que o programa será veiculado. Mas
aí quem é que vai fiscalizar? Hoje, sendo obrigatória a “Voz do Brasil”, você
já não tem condição de fiscalizar 7 mil rádios. Imagine se você “flexibilizar”
o horário. É, na verdade, um truque que os oligarcas da informação estão
utilizando para tornar infiscalizável.
Radioagência NP: Qual a importância da “Voz do Brasil”?
Radioagência NP: Qual a importância da “Voz do Brasil”?
BA: O rádio é o grande fator de
informação, juntamente com a televisão obviamente, mas o rádio pode dar uma
informação, por exemplo, sobre o “Programa de Aquisição de Alimentos” (PAA) do
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Agrário que o jornal da “Globo” não
tem interesse em dar. Ou, por exemplo, medidas do Ministério da Pesca para as
colônias de pescadores e a “Voz do Brasil” alcança as embarcações onde elas
estiverem, as colônias de pescadores, os ribeirinhos, o que muitas vezes não
vai acontecer pela televisão. O preço mínimo da borracha, por exemplo, através
de um radinho, o seringueiro que fica três, quatro, dias pela floresta
trabalhando recebe essa informação pela “Voz do Brasil”. E os deputados,
sabendo disso, passam a informação do preço da borracha na Tribuna da Câmara
porque sabem que a “Voz do Brasil” vai transmitir essa informação.
Radioagência NP: Muitos críticos dizem que o programa é um resquício da “ditadura Vargas”. Como você avalia esse posicionamento?
Radioagência NP: Muitos críticos dizem que o programa é um resquício da “ditadura Vargas”. Como você avalia esse posicionamento?
BA: Eu colocaria resquício entre aspas,
muitas aspas, porque, na era Vargas, o povo brasileiro conquistou muitas
coisas. Por exemplo, a empresa de petróleo, a Petrobrás, a Vale do Rio Doce, os
direitos trabalhistas, a licença maternidade, tudo isso é “resquício” entre
aspas da Era Vargas. E a ”Voz do Brasil” veio naquela época, quando o mundo se
preparava para a guerra, havia ameaça de guerra que depois aconteceu, e havia
idéias de fragmentação do país. Essas idéias de dividir, fragmentar o país como
nós vemos hoje são ameaças que continuam existindo. Há intervencionismo
crescente do imperialismo sobre ou contra os países que têm riqueza mineral e o
Brasil a tem. Então, nós devemos manter sempre atentos instrumentos de
integração nacional até como capacidade de defesa. E o povo precisa estar informado
sobre os atos do governo, sobre os atos do legislativo, sobre os atos do
executivo, e isso não acontece hoje se você olhar o rádio comercial na sua
grande maioria ou a TV na sua grande maioria.
Radioagência NP: A suposição de que o programa não dá audiência tem fundamento?
Radioagência NP: A suposição de que o programa não dá audiência tem fundamento?
BA: Usam-se argumentos de que ele não
tem audiência, mas as pesquisas que os empresários fizeram e escondem, por que
eles não as divulgam? Porque os resultados são contra eles. Uma delas feita
pelo IBOPE dizia que, no horário de 19h às 20h, dois terços dos rádios nas
cidades permaneciam ligados. Ora, 19h às 20h é “Voz do Brasil”. Então, não
existe aquela ideia de que todo mundo desliga o rádio.
Radioagência NP: Quais os problemas relacionados à tramitação desse projeto?
Radioagência NP: Quais os problemas relacionados à tramitação desse projeto?
BA: Primeiro, ele passou sem ter grandes
audiências públicas na Câmara, sem ter ido a plenário. Ele não foi colocado a
plenário, porque foi feito um acordo com os empresários da ABERT [Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão] para que o projeto tivesse rito
sumário. “Rito sumário” significa que ele não vai a plenário, então, ele não
foi aprovado pela maioria. Quando ele chegou no senado, havia esvaziamento
eleitoral porque era ano eleitoral, 2010.”
FONTE: portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=187962&id_secao=6) [Imagem do Google adicionada por
este blog ‘democracia&política’].
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