Território de presença (1ª imagem) e de predominância
do Islam
Por Luiz Carlos Bresser-Pereira
É razoável supor que Egito e Tunísia caminhem rumo ao
desenvolvimentismo, mesmo sem secularismo
“Para se desenvolverem, os países hoje de renda
média, como o Brasil, experimentaram a contradição clássica entre as forças
desenvolvimentistas e modernizadoras voltadas para a industrialização e as
forças liberais e dependentes. Por outro lado, é comum a crença de que
modernização e secularismo são irmãos gêmeos, ainda que esse não seja o
ensinamento da história.
Os movimentos nacionalistas árabes acreditaram
nessas duas teses, e tentaram colocá-las em prática. Nos anos 1950, um sunita
no Egito, Abdel Nasser, e um xiita no Irã, Mohammed Mossadegh, foram os líderes
dessa ideia, mas foram derrotados pelas potências imperiais.
O mesmo aconteceu com o regime secularista do
Iraque, derrotado por sua própria incompetência e pelo imperialismo, e está
agora acontecendo na Síria.
Após essas derrotas, em 1979, ocorreu a revolução
islâmica no Irã. Há muitas maneiras de entendê-la; minha interpretação é que
ela refletiu o fracasso das tentativas dos árabes de realizar sua revolução
nacional e capitalista de forma secular e da a percepção que poderiam
realizá-la com auxílio da religião.
O que pode parecer absurdo para quem tenha
aprendido que modernização e religião são antagônicos. Mas que, historicamente,
nada tem de absurdo. Afinal, a fundação da Igreja Anglicana por Henrique 8º foi
essencialmente a decisão de usar a religião para unir a nação e fortalecer o
Estado inglês.
Há dois anos, tivemos a Primavera Árabe e,
novamente, o problema da modernização se colocou com vigor. Os liberais
acreditaram que se abria novo espaço para a democracia liberal e secularista,
mas o que vimos no Egito e na Tunísia foi a vitória de partidos islâmicos que,
além de muçulmanos, defendem a integração entre religião e Estado.
No Egito, o governo da Irmandade Muçulmana adotou
uma Constituição em que a sharia - a lei
do Alcorão - é reconhecida, e sua política internacional é prudente, mas
claramente independente. O que já está lhe valendo a crítica das elites locais
e das potências ocidentais.
Na Tunísia, também, a direção geral da mudança é a
mesma. Não se estabelece um governo islâmico puro, como aconteceu no Irã, mas o
país torna-se mais independente.
Partidos sunitas, que até há pouco estavam mais
preocupados com as questões religiosas e com a ideia de um califado
pan-arábico, agora se mostram mais preocupados com o desenvolvimento nacional.
Significará isso que os novos governos islâmicos
sunitas estão caminhando na direção do desenvolvimentismo?
Como as revoluções industriais foram quase sempre
realizadas no quadro do mercantilismo ou da sua forma moderna -o desenvolvimentismo-, e como o
liberalismo associado aos interesses das potências imperiais não levou os
países árabes ao desenvolvimento, é razoável supor que países como o Egito e a
Tunísia caminhem nessa direção.
Mas o caminho não será fácil. Para que seja bem
sucedido, não bastará que o governo tenha apoio do povo; precisará também de um
projeto de desenvolvimento, que só se concretizará com a participação de seus
empresários industriais e de parte de seus intelectuais.”
FONTE: escrito por Luiz Carlos Bresser-Pereira e publicado na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/88538-islamismo-e-primavera-arabe.shtml) [Imagem do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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